Começo esta apresentação com uma evocação à data de hoje (relativamente a 10 de Março), que é a do aparecimento, em Coimbra de 1927, dessa "folha de arte e crítica" chamada Presença, de José Régio e outros. E, porque também nela se expressaram autores de uma pluralidade de correntes de pensamento, que tentaram acompanhar "o tempo que passa" na sua época, igualmente se pretende que este espaço bloguista se traduza numa dessas pluralidades de expressões, numa como que convergência de esforços que marquem uma atitude intelectual que não se reveja na "autoflagelação, ou na ironia perfurante dos que se excluem da censura das coisas pátrias, como se lhes fossem estranhos" [1].
Porque também é espaço para outros que, como nós, sabem articular "o seu labor intelectual às exigências históricas e sociais da sua época, traduzindo um sentimento de responsabilidade quanto à reforma do país, nessa postura que enlaça as ideias com os dramas da existência, relativamente aos indivíduos em particular ou à comunidade em que se integram, implicando análises tanto dos imperativos de ordem lógica como dos condicionalismos de ordem sociológica" [2].
É neste contexto de referência histórico-bilbiográfica que auto-reclamo a identificação do nome deste espaço de trabalho com aquele grupo dos nossos filósofos de vertente publicista, como foram António Sérgio, Raul Proença, Leonardo Coimbra e, sobretudo, Sampaio Bruno. Com eles "a filosofia «desce» aos jornais e às revistas culturais e, portanto, à intervenção mais directa, no âmbito do que se considera serem as exigências políticas e sociais da época" [3], sempre numa perspectiva da acção orientada pela interculturalidade e, por isso, assente na abertura aos valores universais.
Não podendo deixar de me referir ao autor de cuja obra retiro esta nota, concluo, com ele, que "o que deve preocupar-nos numa primeira instância é a exigência de conhecimento, comprometida com a análise tão criteriosa quanto possível do pensamento filosófico dos que estiveram, estão e estarão ligados a Portugal, sendo então possível falar de identidade, numa linha de autognose" [4].
[1] CALAFATE, Pedro, História do Pensamento Filosófico Português (dir.), cap. de Apresentação da obra, vol. I, ed. Círculo de Leitores, 2002, pp. 11-15.
[2] Idem, ob. cit., com adaptações ao texto da pág. 12.
[3] Idem, pág. 14.
[4] Idem, pãg. 15.