Mostrar mensagens com a etiqueta Letras do Pensamento. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Letras do Pensamento. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, maio 31, 2010

"Eu nunca amei de verdade"!

A coragem de ser o que se pensa, mesmo que, com isso, não se pense como se vive!



Parafraseando o meu mui citado mestre e amigo JAM (porque o meu pensamento o acompanha, sem qualquer seguidismo balofo), a respeito desta atitude existencial, torno mais pertinente a razão de ser deste trecho que agora apresento. Cedido por uma nova amizade, dessas que as novas redes multimédia permitem, nesta globalizada "aldeia" on line. A partir do outro país onde se fala mais a nossa língua. Lá, onde se sente morar o nosso coração português, do outro lado do Atlântico. Nesse lugar da Terra onde a língua adocicou o sentimento e a saudade. Aonde ficou mais Portugal. Com todo o Amor do Universo, bem expresso, também, no seu azul e nas suas estrelas:


"Eu nunca amei de verdade

Essa afirmação parece estranha, vinda de uma pessoa tão apaixonada como eu. Sou assim com tudo que faço na vida, seja no trabalho, na amizade, na religião,na política, no futebol... Radical chique, como diz a amiga Vivi. Ou simplesmente uma maluquinha que se entrega de corpo e alma a cada atividade, relacionamento, momento...

Mas é importante diferenciar algumas coisas. Uma, a paixão, que me move. Outra, o amor universal...e outra, sobre o qual o título dessa nota fala, que é o amor romântico.

Em minha modesta opinião, tento aqui identificar esses três fenômenos. Não sou psicóloga e, se estou ofendendo a teoria, não posso fazer nada. São apenas devaneios de uma pessoa que pensa demais...

Paixão: É arrebatamento. É loucura. É ciúmes. É possessividade. A paixão é aquela sensação estranha no estômago, que faz você ficar enjoada só de pensar na pessoa, um misto de querer e quase morrer. A paixão é animal. É pura pele, saliva, cheiros e toques. É sensação. Não é sentimento. A maioria das músicas românticas falam da paixão, mas usam o substantivo amor no lugar, talvez por ignorância, talvez para vender mais. Vai saber. Mas a paixão é um sinal claro que ainda estamos em uma fase pouco evoluída na vida. Pois, como sensação animal, a paixão não é controlável facilmente. É pela paixão que ocorrem suicídios, homicídios, traições... A paixão tem como irmão dileto o orgulho e primo a vaidade. E, quando somos desprezados em nossa paixão, o outro corre um sério risco. Pois ficamos cegos pela fúria que nos acomete... a paixão é deliciosa, mas perigosa demais!

O amor universal: Ninguém melhor que Paulo de Tarso descreveu a essência desse amor, em sua famosa primeira Epístola aos Coríntios (e quem sou eu para reinventar a roda?): "O Amor é paciente, é benigno; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O Amor nunca falha." O amor, sublime amor! É uma construção. Diária. É um sentimento que se renova a cada contato, a cada busca e até na ausência. O amor é indulgente e humilde. Generoso e tranquilo. Sentimentos são a expressão da nossa própria essência, de nossa personalidade. Eles que realmente definem quem somos. E esse sentimento poderoso é o que nos aproxima de Deus. Pois quando amamos de fato, só o bem do próximo nos basta. Se amanhã minha sobrinha disser que vai morar na China, pois será feliz assim, vou sofrer, mas ao mesmo tempo, vou correr para arrumar suas malas e ajudá-la a ir em busca dos seus sonhos. O amor é renúncia. É doar, sem pedir nada em troca. Isso eu senti pela minha mãe, pelo meu avô e pela minha madrinha que se foi. Por alguns outros tios, primos... é o que sinto por meus irmãos e sobrinhas. E por alguns amigos muito especiais.

O amor romântico: Esse eu falo em teoria. Analisando os relacionamentos que eu tive até agora, comparando com o que postei acima sobre amor e paixão, vejo que realmente eu nunca amei de verdade. Eu sempre quis ter, não ser. A diferença do amor romântico para o amor universal é que ele vem acompanhado daquela energia poderosa que chamamos de sexual. Lembro que, há muitos anos atrás, eu li uma frase em uma entrevista do Marcos Frota (eu era adolescente e achava ele lindo!) que dizia acreditar ser o Amor uma combinação de amizade com sexo. Eu troco a palavra amizade pelo amor universal...com sexo! Como estamos ainda na terra, precisamos disso. Um intermediário entre o amor por todos, singelo, puro e casto e a paixão, carregada de luxuria e tentação...

O amor romântico, em minhas fantasias mais infantis, nos faz ter asas e querer levar a pessoa amada para o Paraíso...Ao mesmo tempo, ele nos faz ver que, se a pessoa não está feliz com você, melhor é deixa-la ir, seguir seu caminho do que acorrentá-la a um sentimento que não faz sua vida ser risonha como gostaria...

O amor romântico é o que nos faz acreditar que somos principes, princesas, ou não. É ser, mas também é ter, só que de uma forma gostosa, leve... Eu só levei dois namorados em casa até hoje. Um, por que eu era muito jovem, era meu primeiro namorado sério e eu acreditava estar amando. Outro, porque minha mãe estava doente e não tive outra opção. Eu não conseguia simplesmente misturar meus amores com minhas paixões, da mesma forma que busco separar a Adriana amiga das demais... E não, nunca tive vontade de ter filhos e construir uma vida a dois com qualquer um deles (fora o primeiro, ok, mas isso fica pra outro post. Descobri anos mais tarde que foi uma das paixões mais violentas que tive. Mas era paixão...)

Isso me preocupa um pouco. Será que mostra minha baixa elevação espiritual? Que ainda estou tão presa a sensações que não consigo transpor a ponte da emoção para o sentimento? Ou será que apenas não era para ser? Vai saber...

Eu nunca amei de verdade. E não sei se amarei um dia. Não desse jeito.."

Adriana Torres Ferreira



sábado, abril 19, 2008

Um contributo oportuno para o Tibete

Política e ... Meditação!

Não fazia nada mal aos nossos políticos profissionais enveredar, de quando em vez, por umas meditações 'transcendentais' q. b., qual purga das convulsões neurocognitivas a que, constantemente, se vêm sujeitos, tão hipermaquiavelicamente vivem o empenho com que se devotam à causa pública ...!(?)

Recordando o nosso "Alma sã em corpo são", do saudoso programa público televisionado de Vitorino Nemésio, vou ler mais um texto, certamente apaixonante pela especificidade e diferença cultural da que estamos habituados.



ISBN: 978-972-23-3937-7
Nº de Páginas: 248

Data da 1ª Edição:17-4-2008

Sinopse:"Da autoria de um dos maiores especialistas em medicina tibetana no Ocidente, esta é a primeira obra que nos ensina a aplicar os princípios milenares da sabedoria tibetana Bön à nossa vida quotidiana. Com um carácter profundamente holístico, esta leitura revela-nos a íntima ligação entre corpo, mente e alma, e as formas simples como estes conhecimentos ancestrais podem actuar sobre eles restaurando o seu equilíbrio dinâmico. Hansard desvenda-nos todos os aspectos essenciais à mudança das nossas atitudes mentais e comportamentais - ensina-nos a despertar a sabedoria interior, a conseguir a cura emocional, a fortalecer a mente, técnicas de massagem e rejuvenescimento e ainda exercícios de auto-cura e de meditação. Uma obra que reflecte o percurso de iluminação e de experiência clínica de toda uma vida e que contém em si um extraordinário potencial de renovação."



Não sendo neófito na matéria, não sou um seu especialista. Mas sou, seguramente, um devoto e humilde contemplador desta filosofia (Zen). Cheguei´mesmo, em tenra juventude, a alinhar numas dietas macrobióticas ...! Alimentei-me, muito mais, da parte espiritual e estética destes ensinamentos, muito úteis a quem tem abertura de mente, suficiente para, muito portuguesmente, se conciliar com o cosmos.


"Filosofia Zen

Zen é a forma de Budismo mais conhecida e praticada no Japão. Mais do que uma religião ou seita, o Zen é uma filosofia vivencial que ainda hoje influência muito o povo japonês.
A filosofia do Zen consiste na procura da iluminação através do auto conhecimento; uma busca que ultrapassa os obstáculos mentais criados por nós mesmos a fim de encontrar a verdade em seu estado puro. Trata-se de uma percepção extra-sensorial das coisas, um ensinamento especial que não envolve palavras; apenas chama a atenção para a verdadeira essência do homem. O Zen é também a prática do o auto-controle, da disciplina e da simplicidade no viver.As raízes do Zen estão na China, onde foi trazido da Índia por Bodhidharma no século VI. É uma variação do Budismo tradicional tibetano. A diferença básica entre os dois, é que a filosofia do Zen tenta reduzir ao mínimo as doutrinas e o estudo das escrituras sagradas. Para os praticantes do Zen, a palavra escrita é dispensável no caminho da iluminação."



sexta-feira, abril 11, 2008

Liberdades, poderes, Natureza, deuses e etc.

Pelo Tibete!

Aqui deixo uma tirada cinematográfica de grande beleza estética, nas mais variadas das suas facetas apreensíveis. Agora que a causa tem uma visibilidade mediatizada, remeto esta evocação para as eloquentes contemplações metacríticas de meu mui citado mestre JA Maltez, nos dois postais de ontem.




"Que delito fiz eu para que sinta
o peso desta aspérrima cadeia
nos horrores de um cárcere penoso
em cuja triste, lôbrega morada
habita a confusão e o susto mora?
Mas se acaso, tirana, estrela ímpia,
é culpa o não ter culpa, eu culpa tenho.
Mas se a culpa que tenho não é culpa,
para que me usurpais com impiedade
o crédito, a esposa e a liberdade?"


Pela liberdade natural
Pela ordem social
Pela memória histórica
Pelo poder espiritual
Pela autoridade temporal
Pela civilização do amor!





Para outras referências audiovisuais sobre o Tibete ver, no youtube:

domingo, janeiro 06, 2008

Luis Pacheco, muitos não te esquecerão!

Em vésperas de dia de Reis, pá!?
Apenas reparei que, hoje, dia de Reis, muito se falou de Luis Pacheco na comunicação social. Ainda fui ver ao Jornal de Notícias, mas ... nada! Na RTP2, passava um programa sobre a sua vida e obra (já uma edição produzida algures no tempo), quando me deu para ir à Net procurar ...! Pimba! Lá estava, já actualizada, a sua biografia, com as datas de nascimento e morte (07/05/1925 - 05/01/2008), deste que agora nos deixa.

Então não é que o gajo, pelo menos quase sempre, tinha a sua razão, pá?

Seria assim que eu melhor caracterizaria, no seu estilo discursivo, as interventivas (im)pertinentes deste autor considerado, na capa de um dos últimos números da Revista K (kapa) - Julho de 1992, "o maior escritor vivo, o mais escritor, o mais prtuguês, o mais vivo: Luis Pacheco"! Por mim, não querendo aproveitar-me nem comparar-me (Deus me livre) ao seu percurso, apenas gostaria de frisar que, por causa de o ter citado e referido, na supra aludia entrevista, relativamente ao que ali se pode ler sobre Mário Soares e Cesariny (em Paris), inúmeras, penosas e inaceitáveis represálias e perseguições me têm sido movidas, dentro e fora do âmbito profissional, todas acabando em pântanos processuais estupidamente urdidos por quem, hipocritamente, gosta de se arvorar em defensor de princípios democráticos ...?!???.

Por mim, recebe um grande grito de admiração pela tua coragem e honestidade intelectual, Luis!


Que amanhã os meus filhos te leiam, e os filhos dos outros também! Por aí,conheceremos melhor Portugal!


Até sempre!


O Professor J Rodrigo Coelho

Foto picada do Google

Texto de referência na Wilipédia

quinta-feira, novembro 22, 2007

Da Demopatia

Demofilia é paixão (do demo ou do povo)! Demopatia é doença! Tudo tão natural como a nossa sêde!

Tudo deve ter começado nalguma das carências em 'vitamina S' (social), para usar uma expressão que evoca as sábias palavra do exímio Prof. Luis Cabral de Moncada, na sua célebre Filosofia do Direito e do Estado, quando noz diz que:

1. Quando um povo sem instrução vê asseguradas as suas necessidades básicas de alimentação, habitação e segurança, pouco ou nada mais se interessa pelos assuntos públicos. Como uma massa generalizada de imoralidade e incumprimento do dever social de participação.

Os caminhos por que é conduzida esta massa, politicamente inanimada, ilusoriamente democratizada, não estão nos horizontes da consciência (individual e, a fortriori, social) de qualquer indivíduo! As palavras e, acima de tudo, as antinomias referidas por este Professor coimbrão aqui seguido, revelam-nos de sobremaneira a veracidade destas conclusões!

2. "... está bem à vista o movimento do chamado «direito social». Este é um fenómeno geral europeu da época que está entre as duas guerras mundiais, em íntima ligação com o restante movimento socializante que já conhecemos. As novas ideias ... em todas elas está patente, em suma, uma profunda tendência social, orgânica e anti-individualista do direito moderno em luta contra as tradições do século XIX.

3. E o mesmo pode dizer-se das ideias e teorias filosóficas ... portadoras dum sentido idêntico. Tais doutrinas e concepções dizem respeito à essência do próprio direito, natureza e dignidade dos seus fins, à natureza das relações sociais, à função do indivíduo na suas relações com a sociedade, ao «transpessoal» do Estado, e finalmente a toda uma ontologia própria das coisas sociais." (...)
1

- direito à vida ...?
- direito à privacidade ...?
- direito ao bom nome ...?
- etc., ..., etc.!

Lembro-me de mais esta, por exemplo: "O direito ... tem de se naturalizar primeiramente cidadão da república da Ética, se quiser conseguir aquele mínimo de validade e eficácia que lhe são necessárias para poder socialmente cumprir a sua missão." (...)
2

4. "... O estado como que se despolitiza e se tecnifica a pouco e pouco cada dia mais. A sua direcção vai passando gradualmente das mãos dos políticos profissionais e amadores doutrora para as de técnicos especializados nos múltiplos ramos dos serviços públicos. ... Em vez de ser ele [o Estado] a nação organizada, protende a converter-se numa organização diferente, mais ou menos artificial, imposta sobre a nação, e que esta aceite por interesse e necessidade inadiáveis. Dito por outros termos: dentro deste maquinismo tentacular, o indivíduo, cada vez mais alheio à complicada ciência do governo e distante dos problemas que ignora, vai-se também mais facilmente prestando a sacrificar, a todo o momento, importantes doses da sua liberdade e personalidade a uma soma cada vez maior de bem-estar e segurança. As ideologias e os mitos do passado dissipam-se como fumo." (...)
3

Tudo isto porque alguém, hoje (ontem) me bateu à porta e perguntou se já estava servido com internet. Respondi, cordialmente (mais por respeito por quem, sobretudo com um espantoso ar de desperdício jovem, tem necessidade de se sujeitar a este tipo de trabalho), que não respondia! "Mas então, diga-me, se já tem, qual é o seu serviço ...?". Voltei a responder: "Não digo"! - "Então, mas porquê não me diz?"! - "Porque não quero responder!... Obrigado!". E o sujeito lá se foi.

Agora, de que me serve reivindicar a manutenção do exercício deste direito individual, se os que actualmente cuidam da manutenção institucional de valores sociais estruturantes atropelam, em seu nome, os mais elementares direitos individuais (naturais)? Não há sociedade sem indivíduos (EUS), nem comunidade sem essa totalidade de indivíduos que somos NÓS, assim como, por essa via, não haverá polis sem cidadãos!

Qualquer semelhança entre estas considerações, projectadas do passado de há meio século editado, e o presente, não é pura coincidência, nem se esgota nas conclusões a que induzem!

_____________________
(1) MONCADA, Luis Cabral de, Filosofia do Direito e do Estado, 2ª ed., Coimbra Editora, vol. 1, pp. 369 e ss, Coimbra, 1955.
(2) Idem, vol. 2, pág. 293.
(3) Idem, vol. 2, pág. 243.

terça-feira, outubro 17, 2006

Inequivocamente, mais um "Publicista"

As puras "Cogitadelas" de Mestre JAM, com eco neste Templo "Publicista"!
Há muitas indicações, em alguns dos escritos "soltos" da politicomania que facilmente assalta quem pela assuntos da polis se apaixonou, de que este homem também pensa para além do que vive (ou então não teria condições para perceber que o que pensa está muito para além do que se vai vivendo)!
Já lhe "vi" poemas, palestras, livros, entrevistas, artigos de opinião crítica, desabafos escritos ... mas não há como estas 'tiradas' de reflexão existencial-introspectiva, como a que a seguir cito, para melhor perceber a sua capacidade de exortação caracterizadora do eterno abraço armilar da portugalidade! São como hinos que, talvez apenas dos "nossos cantinhos do céu", se estendem à compreensão aprisionada pela razão hoje vendida, como que a querer libertar as viagens de sonho que, um dia, podemos fazer realidade!
Disso não nos cansemos! De ser aquele "primeiro elemento" da fonte do poder que é "o homem e o seu chão e o seu cão ... e é o primeiro Reino o deste Rei, com o seu chão e o seu cão; repeti-lo não sobra" (...)
"Espreme, gota a gota, o resto de escravo que guardas dentro de ti
Regresso. Àquilo que eu digo ser a minha terra. Como se a pátria tivesse que ter uma terra, como se a pátria, minha, não fosse, desde sempre, a pátria prometida, a onda peregrina do navegar é preciso, viver não é preciso, como se navegar não fosse imaginar.
Regresso e confirmo: ainda sou, como muitos outros, desses portugueses antigos da velha cepa, desse povão silencioso que não precisa de adornar-se com as penas do estadão ou dos aristocretinos. Ainda quero ser de antes quebrar que torcer, desses que, desde sempre, trazem consigo a missão da procura do paraíso.
Regresso. Português antigo a quem continua apetecer voltar a ser um português à solta. Desses a quem apetecia ficar para sempre nessa ternura de todos os dias ter de escrever seu escrever-se.
Porque em qualquer lugar pode haver calor da tarde a despedir-se do sol, até que uma lua de prata lhe volte a dar a lua cheia que o vento amaine. Se ainda houver um qualquer mar que nos dê viagem. Mesmo que seja essa de apetecer continuar menino, brincando nos rochedos da baixa-mar, onde, nas breves piscinas, pode haver caranguejos, estrelas do mar e peixes de várias cores imaginadas.
Para que chegue a praia-mar, a força que vem do princípio do tempo, o corpo em sal diante do sol, o prazer da sombra em horas de meio-dia. Para voltar a ser quem sempre fui, resto de sol, semente de luz, diante do mar, olhando a brevidade de quem sou corpo.
Sabe tão bem saber que de onde o sol nos vem está o próprio mar feito viagem, o oceano que será sempre poder-ser. Porque atravessando quem sou, feito de histórias que reconto, vou dizendo em mim a força de quem sonho. Para poder esquecer que apenas sou intervalo de uma viagem maior que desde sempre trago comigo.
Sou de uma pátria maior do que as andanças das cidadanias pequeninas. Dessas que se vingam nas dívidas de uma região autónoma, ou que se vão ornando com discursos de um procurador ou de um presidente.
Prefiro as muitas gentes de uma gente armilar, bem mais imensa, bem mais diversa. Sou do tamanho do que ainda posso sonhar de Portugal. Do que foi e do que há-de ser.
Não quero volta ao linguajar de comadres num quintal estendendo a roupa suja, branqueada com amaciador do mais do mesmo.
Prefiro o tamanho universal dos que procuram, embora não consigam, o mundo inteiro abraçar. E continua a apetecer largar de mim estes lastros de um passado agrilhoado, agora perdido nos muitos micro-autoritarismos subestatais e comunicacionais. Onde muitas estrelas cadentes reflectem um brilho que lhes vem do longe, mas sem serem sequer iguais aos astros sem luz que causam as marés.
Nos outros prefiro continuar a achar estes restos se uma saudade de futuro, estes restos de procura que me fazem pedaço de um novo tempo por cumprir.
Porque ontem foi segunda-feira mesquinha, neste ouvir as novas de uns pequeninos que se pensam Portugal só porque são ministros, ou líderes de uma oposição que já foi ministra, e que brincam aos discursos de reforma, como se as causas da tirania situacionista pudessem mudar as condições que lhes permitiram mandar em nós.
Porque ontem passeei por entre um povo que continua a ser encarneirado para cumprir horários ou preencher formulários e a quem proíbem a esperança de procurar.
Vale-me que dei aulas. Umas horas de aulas. E senti que do outro lado estava gente que senti do mesmo lado. Olhos de esperança. Vontade de cumprir uma missão. De peregrinar o mundo inteiro. De largar desta prisão murada pelos mandadores de sempre.
E voltei citar o velho lema de Sá de Miranda. E a dizer o que aprendi em Soljenitsine e Tchekov: espreme, gota a gota, o resto de escravo que guardas dentro de ti."
Posted by JAM 10/10/2006

domingo, agosto 20, 2006

Letras do Pensamento

Lembro-me, desde pequeno, que também nas fachadas dos tribunais de Portugal se poderia ler a inscrição latina ... Domvs Iustitiae!
Pressupunham os romanos haver justiça (ius) quando o fiel dos pratos da balança que a deusa Iustitia, de pé e com os olhos vendados, segurava na mão esquerda, se encontrava perfeitamente ao meio.
Ao que os gregos também chamavam isonomia, embora a deusa Dike, filha de Zeus e de Thémis, também de pé mas com os olhos bem abertos, igualmente de espada na mão direita e de balança na mão esquerda, declarasse haver justiça (íson) estando os pratos equilibrados.
A partir deste paralelismo, apenas me asalta o pensamento estoutro que é o da figura dos Estados de Direito, mas onde nuns o ius ou íson está mais em equilíbrio do que noutros. (1)
Lembro-me assim que, por exemplo, em Portugal não se vislumbra a reparação de danos de qualquer espécie de um sujeito tão culpado como é um distribuidor de tabaco, pelos sobejamente conhecidos malefícios que traz à saúde (já na esfera, ainda mais grave, que é o da saúde pública), tal como acontece neste caso aqui reportado a partir da notícia do Público.
"Tabaqueiras norte-americanas condenadas por terem enganado os consumidores

Um tribunal federal norte-americano considerou que as maiores tabaqueiras do país enganaram os consumidores durante anos sobre o risco que o tabaco representa para a saúde, devido à utilização de expressões como "light" e "suave" nos maços, e obrigou as companhias a retirar essas referências dos seus produtos.

Apesar da condenação, a juíza Gladys Kessler não definiu qualquer indemnização a pagar pelos fabricantes, ao contrário do que pedia o Departamento de Justiça norte-americano.
A juíza ordenou às empresas visadas (Philip Morris USA Inc., Altria Group Inc., R.J. Reynolds Tobacco Co., Brown & Williamson Tobacco Co., British American Tobacco Ltd., Lorillard Tobacco Co., Liggett Group Inc., Counsel for Tobacco Research-USA e o extinto Tobacco Institute) que publiquem nos jornais e nos seus sites na Internet comunicados a corrigir as situações apontadas na sentença. Entre elas, que sejam clarificadas as particularidades do tabaco e da nicotina que causam dependência e as suas consequências para a saúde.
Mais importante ainda, a juíza federal obriga as tabaqueiras a eliminar rótulos como "baixo teor de alcatrão" ("low tar") "light", "ultra light" ou "suave" ("mild"), já que estes produtos apresentam os mesmos riscos dos cigarros clássicos devido à forma como são consumidos.
Na sentença, lida ontem, a juíza de Washington considera que "ao longo de mais de 50 anos, os réus mentiram, iludiram e enganaram o público americano, incluindo fumadores e jovens que avidamente procuraram como 'fumadores substitutos', sobre os efeitos devastadores do tabaco para a saúde e do fumo ambiental de tabaco [fumo passivo]".
Departamento de Justiça pedia programa nacional antitabágico
O processo movido pelo Departamento de Justiça norte-americano pedia também a criação de um programa nacional antitabágico. Apesar de admitir que tal plano "serviria inquestionavelmente o interesse público", a juíza explicou que não poderia ditar a sua implementação devido a uma decisão anterior que determinou a obrigatoriedade da aplicação de soluções prospectivas e não retrospectivas.
Este processo arrastava-se nos tribunais norte-americanos desde a presidência de Bill Clinton, com a Administração federal a exigir 7,8 mil milhões de euros às tabaqueiras para aplicação em programas que ajudem os fumadores a abandonar o vício.
Perante a decisão da juíza Gladys Kessler, as tabaqueiras congratularam-se com o facto de não terem sido alvo de "penalidades monetárias injustificadas e extraordinariamente caras", segundo Mark Smith, porta-voz da R.J. Reynolds Tobacco Co.
Ainda assim, este porta-voz lamentou que a juíza tivesse considerado que as tabaqueiras conspiraram para violar a lei federal e enganar os consumidores, avisando que os advogados da empresa vão analisar a decisão judicial e decidir se apresentam ou não um recurso.
O Ministério da Justiça, por seu turno, não ficou agradado com a ausência de uma penalização financeira sobre as tabaqueiras. O queixoso acredita, ainda assim, que as medidas impostas pelo tribunal "possam ter um impacto positivo e significativo na saúde do público americano".
Todas as empresas, à excepção do Liggett Group, foram ainda condenadas a pagar as custas judiciais do processo, que ascendem a 109 milhões de euros.
Na Europa já não há cigarros "light
"As tabaqueiras, nomeadamente as norte-americanas, tentaram contestar a directiva da União Europeia que obriga à colocação dos já comuns avisos nos maços sobre os perigos do tabaco para a saúde, que também eliminou as expressões como "light" e "ultra-light" das embalagens de cigarros.
A legislação comunitária, que data de 2002 e que entrou em vigor em 2003, obriga as tabaqueiras a colocar avisos nos produtos à venda na Europa sobre os problemas de saúde que podem ser provocados pelo consumo do tabaco. O mesmo diploma obrigou ao desaparecimento, no espaço comunitário, de marcas de tabaco que utilizem a denominação "mild" ("suave", em português) e "light".
A directiva versa ainda sobre a composição dos cigarros, nomeadamente fixando limites de alcatrão, nicotina e monóxido de carbono na sua constituição.
As tabaqueiras Imperial Tobacco e British American Tobacco contestaram a legislação no Tribunal Europeu de Justiça, no Luxemburgo, a mais alta instância judicial comunitária, mas o tribunal não considerou que as directivas em causa sejam demasiadamente rígidas, como defendiam os queixosos."
(1) Adaptado de Chorão, Mário Bigotte, Introdução ao Direito, vol. 1, Almedina, Coimbra, 1989, pp. 27-28.

quinta-feira, junho 22, 2006

Letras do Pensamento

"É o homem que faz a história, sem saber que história vai fazendo..."
Tenho lido alguns dos artigos que, de vez em quando, os meus olhos perpassam ao ler o JN, reaprando na escrita característica deste autor que considero um dos melhores colunistas da imprensa nacional da actualidade. Mas, a bem da honestidade intelectual e da decência crítica, questiono-me sobre a prematuridade deste apontamento, não lhe retirando a pertinência que, eventualmente, venha a subsistir-lhe! Porque " A principal objectividade a que podemos aceder, quando tratamos de coisas políticas, é a de assumirmos, sem disfarce, as limitações de perspectiva das concepções do mundo e da vida dos nossos tribalismos político-culturais. Porque estes, quando são enraízados numa história pessoal de convicções, geram sempre as limitadoras algemas de uma certa genealogia de subsolos filosóficos, bem como os inevitáveis compromissos das velhas lutas e dos profundos companheirismos que lhes dão identidade.
Sobre a matéria, apenas recordo a minha académica cumplicidade com Luis Viana de Sá, destacado dirigente do PCP e doutor pelo ISCSP, ... .
(...) Se tive a honra de ser o seu formal orientador das dissertações de mestrado e doutoramento, confesso que acabei por viver o desafio de ambos sermos discípulos das mesmas angústias e das mesmas procuras. Contudo, observando a sua aventura universitária, foi-me dado reparar na estreiteza mental desse Portugalório dos que não conseguem ultrapassar uma restrita visão partidocrática do processo político nem superar o paroquialismo das pequenas guerrazinhas de homenzinhos com o seu tribalismo. (...)" (1)
No entanto, o episódio em causa não é um fenómeno sócio-historicamente novo, antes se inscreve numa realidade de certas vivências políticas próprias de muitos tribalismos ideológico-partidários ainda muito remanescentes neste Portugal de muitos pequeninos. E não creio, pelo que já tenho lido do autor do artigo que segue, tratar-se de alguém com tamanha estreiteza de limitações. Até porque quem exorta os valores sociais como aqueles que aqui foram evocados, deve compreender que, muito acima daqueles pretensos visados, está o valor da comunidade e do autor que a soube tão poeticamente sublimar.
"Uma cidade sem memória?
Eugénio de Andrade morreu há um ano. Desde sempre os homens comemoram certas datas em busca de raízes e sinais de identidade. "Co-memorar" significa recordar em comum, e a palavra, contendo a ideia de comunidade, contém ainda um sentido fundamental que as comunidades se fundam numa "memória", ou seja, numa "cultura". "Time future (is) contained in time past", escreve Eliot; e não era preciso convocar Eliot, tão óbvio é que não há futuro sem passado, e que, parafraseando Pessoa, o presente é o "futuro do passado". A "co-memoração" do primeiro aniversário da morte de Eugénio, que fez do Porto a "sua" cidade, que viveu e morreu no Porto, que sobre o Porto escreveu páginas admiráveis e ao Porto dedicou uma obra determinante, "Daqui houve nome Portugal", esteve no entanto a cargo da Fundação Eugénio de Andrade e da… Câmara de Matosinhos. O processo de desertificação cultural empreendido pela actual Câmara do Porto atinge não só o presente mas também o passado, isto é, o futuro. Matosinhos já deu o nome de Eugénio de Andrade a uma Alameda, o Porto nem a um beco sem saída! Não me admirava se ninguém da actual maioria camarária do Porto soubesse quem é Eugénio de Andrade. Mas também não lhes vou explicar. Que procurem no Google!"
in Jornal de Notícias, edição de 22 de Junho de 2006, última página
(1) Extracto de "A objectividade não exclui os compromissos", MALTEZ, J. A. E., Tradição e Revolução - Uma Biografia do Portugal Político do séc. XIX ao XXI, Vol. I, Tribuna da História, Lisboa, 2005, pp. 131-134.

segunda-feira, junho 12, 2006

Letras do Pensamento

Continuando nas raízes orientais do nosso pensamento, em vésperas de mais uma comemoração de Stº António de Lisboa:

Para este nome já intemporal da nossa cultura, “Deus surge como o Fundamento de todo o sistema, Princípio dos princípios, Causa das causas, Ser, Bem, Verdade e Beleza absolutas. (…)”Se os Sermões antonianos se centram essencialmente numa mensagem de salvação e reflectem uma espiritualidade, o entendimento do Homem a quem se dirige ocupa neles um lugar fulcral. Daí que possa afirmar-se que encontramos dispersos pelos textos os elementos fundamentais para a construção de uma antropologia marcada, naturalmente, pela vivência cristã, mas contendo significativos elementos racionalizantes que a estruturam em síntese lúcida.
Para António o homem surge claramente como ser cósmico, inserido na natureza pelo seu corpo que é formado pelos mesmos elementos: terra, ar, fogo e água.
A analogia macrocosmos/microcosmos é, assim, uma das linhas dominantes do pensamento antoniano que a utiliza como primeira definição da situação do homem para o analisar exaustivamente, o entender na sua possibilidade relacional com outras realidades ─ o mundo, a comunidade humana, Deus ─ e abrir as suas possibilidades até ao infinito. (…)” [1]

E por que não irmos novamente ao reencontro das nossas raízes filosóficas do Islão Ocidental? Revejo-me, por exemplo, no ideário deste grande vulto da cultura andaluza do século XI que foi Abu Muhammad Ali ibn Hazm (Ibn Hazm): “poeta, historiador, jurista, filósofo e teólogo defensor da doutrina zahirita … dá conta da alta qualidade do ensino que então se ministrava no Andaluz.
(…) Num dos seus livros mais célebres, o Fisal, Ibn Hazm estabelece uma espécie de enciclopédia dos conhecimentos das diferentes religiões com quem o Islão estava em contacto. Para pôr em evidência os dogmas do Islão, analisa os limites do conhecimento, as concepções da eternidade ou da criação do mundo, expondo o que considera os seus erros, até chegar à verdade do monoteísmo.
(…) No seu livro O Colar da Pomba escreve: o amor «consiste na união entre partes de almas que neste mundo criado andam divididas». Ligadas a esta causa cósmica universal, há uma série de causas segundas que determinam cada amor concreto. A concepção platónica do amor acompanha todo o escrito.

Pertences ao mundo dos anjos ou ao dos homens?
Diz-me porque a confusão zomba do meu entendimento.
Vejo uma figura humana mas se uso da minha razão
acho que o teu corpo é um corpo celeste.
Bendito seja O que equilibrou o modo de ser das suas criaturas
e fez que por natureza fosses maravilhosa luz.
Não posso duvidar que és um puro espírito atraído a nós
por uma semelhança que enlaça as almas.
Não há mais prova que ateste a tua encarnação corporal
nem outro argumento de que eras visível.
Se os nossos olhos não contemplassem o teu ser, diríamos
que eras a Sublime Razão Verdadeira
[2]


O amor udri é o que buscamos mas não alcançamos, como o da escava que desapareceu na Porta dos Dragoeiros e o apaixonado todos os dias procura em vão. (…)” [3]

[1] Pacheco, Maria Cândida, História do Pensamento Filosófico Português, Círculo de Leitores, Vol I, 2ª Parte: O ciclo franciscano, Stº António de Lisboa, 2002, pp. 185 e ss.
[2] Ibn Hazm, El Colar de la Paloma, tradução espanhola de Emílio Garcia Gomez, Madrid, Alianza Editorial, 1971, p. 107, citado na História do Pensamento Filosófico Português, ob. cit., pp. 163-164.
[3] Idem.

sábado, junho 10, 2006

Letras do Pensamento

O Fim da Incerteza
Porque escrevo este título com maiúsculas? Porque, ao estar a tentar ver um filme que me faça passar a ligeira insónia, depois de um serão ao ar pouco livre na atmosfera de mais uma feira de vaidades que também se fazem nas escolas públicas portuguesas, com rituais de hipocrisia (apenas encoberta com o esforço daqueles que, institucionalmente, ainda merecem a admiração da res publicae que servem - como é o caso dos que efectivamente da concretização de mais um número anual desta Revista Avenida do Minho
que se faz nesta Escola Pública onde sirvo a comunidade), dou comigo em casa a pegar no portátil, a ligá-lo ao blogger e a "retaliar" o filme que a TV pública passava a esta hora, "O Princípio da Incerteza". E, ao jeito de mais uma das minhas Cogitadelas, dou comigo a constatar que, mais uma vez, os ditos "agentes de socialização" nos induzem no atrasadismo, tal é a distância que medeia entre o significado deste título que agora contemporizo na realidade que passa e a certeza cada vez maior do que nos deveriam, muito democraticamente, confessar os que sabem que o povo se vai consciencializando, cada vez mais, da canalhocracia lusitana que nos domina! A começar pelas escolas de Portugal, sobretudo (como será lícito esperar) as do Ensino Público, onde se esconderão, muito provavelmente, as mais vis subversões do Estado português!!!
E porquê este apontamento na rubrica Letras do Pensamento, que é dedicada à interpretação dos factos sociais, que vamos testemunhando, mas naquela perspectiva de uma crítica social que já tem referência e enquadramento na literatura sobre o pensamento filosófico de cariz portuguesa? Porque, como quis referir com o título deste artigo, chegamos ao fim de um ciclo, certamente, tantos são os dados concretos que retiramos daquilo a que vamos assistindo no nosso quotidiano social, em que não devemos ter mais dúvidas sobre quem nos tem dirigido, como temos sido governados e porquê as coisas (sobretudo os assuntos públicos) têm seguido o rumo dirigido a este estado em que nos encontramos! Com ênfase especial para o facto de, historicamente falando, não estarmos a assistir a algo de novo, mas sim a uma espécie de repetição ou reformulação de cíclicos episódios históricos!
Estamos, com a certeza que terão os princípios que possam definir uma nova interpretação realista dos factos (portanto isentos de qualquer carga ideológico-partidária ou, mesmo, teórico conceptual) perante uma espécie de tiranocracia (em que o tirano, por mais que queira assumir-se como legítimo, nunca poderá conseguir esse estatuto jurídico-político, dado tratar-se de um princeps não conformado com os reais interesses dos súbditos, mas tão somente com os daqueles que constituem o próprio corpo orgânico que é esse gigantesco domínio absoluto dos meios de controlo socializante das instituições que ele próprio cria)! E nova interpretação, sim, mas a partir de princípios que, não tendo forçosamente de ser novos, continuem a corresponder aos valores que mais e melhor sublimem as aspirações da polis, que não pode ser sem cidadãos, mas apenas com eles! Assim sendo, convém dizê-lo, há autoritarismos mais democráticos que alguns democratismos tirânicos, quando transformam a maioria dos interessados numa autêntica hipocrisia com que se apresenta a governação atenta aos maiores interesses de uma minoria cada vez maior.
Agora, que as certezas começam a clarificar a nossa memória à medida que se confirmam no nosso colectivo cepticismo dos "brandos costumes", mais certo ainda está a metodologia dos escalonadores do Poder, dentro d o funcionalismo subserviente dos politicamente correctos à esquerda e à direita do Poder cada vez mais clandestino, à revelia dos mecanoismos legitimadores de uma democracia que apenas se vende em campamnhas eleitorais, nunca se cumpre no campo das realizações existenciais dos seus mais legítimos destinatários.
Mas estas "Letras do Pensamento" ainda irão buscar as raízes do que na nossa cultura filosófica para a educação tem para lembrar, contrariando muitas das expectativas educacionesas dos que hoje, de nada se lembrando porque certamente pouco aprenderam, cairam no esquecimento do papel que cabe aos mais activos intervenientes agentes da Educação em Portugal.
Fica para breve nesta rubrica.

terça-feira, abril 04, 2006

Letras do Pensamento

O publicista Sampaio Bruno, ou como o espírito inconformista deste vulto da nossa praça intelectual tem razão para ser, continuamente, evocado!

Também eu segui os passos deste grande vulto do pensamento português, tão pouco conhecido como, notoriamente, muitos outros nomes de relêvo da nossa cultura filosófica. Por isso, nesta primeira aproximação que faço em sua memória, pois este título do Blogue, já o disse, foi nele inspirado, apenas me apraz republicar um artigo que assinei num jornal local deste burgo condalense. Tem isso a ver com a presente situação profissional que atravesso, e as implicações pseudo-tácitas que, também, atravessam as nossas instituições, desde há já muitos anos. Onde começou, não sei, "mas que elas andam por aí, lá isso andam ...", disfarçadas ou não em filhas da virtude que nunca conheceram.

«1. Chamaram ...e o astrólogo do Reino ainda não veio! Mas já “fala”! O que o astrólogo do Reino descobriu?! É fantástico, o que o poder dos magos alcança (?)! Qualquer dia, também os políticos mais susceptíveis a estas andanças exotéricas, que delas (consta por aí) são vistos e achados frequentadores, chamarão pelo dito para bafejar o défice orçamental com aquela pitadinha de mágica, que lhes falta para exorcisar as marcas que, insistentemente, nos atormentam a contabilidade pública...! Mesmo assim, não sei se haverá magia que afronte a vil maleita, tão forte deve ter sido o ritual satânico que nos sentenciou a penar em tão angustioso sacrifício ...!

Mas, confesso, este poder transcendente não é o do meu (quase assumido alter ego) douto amigo JAM, que tanto tenho evocado! Apesar de toda a força anímica que nos move, e que dele brota como água de fonte limpa! O astrólogo do Reino, por quem chamamos há umas semanas atrás para parar a seca em que mergulhou a nossa democracia, é algo parecido com a figura cibernética da “caixa negra”. Com aquele poder de retroacção dos sistemas que, depois de descodificadas as anomalias do seu funcionamento, e por efeito da doseada homeostasia (capacidade de os sistemas se corrigirem automaticamente), consegue descobrir o que desvia o corpo para o “vício”. Sem o compromisso de prescrever o tratamento a seguir, reservado que está, quase em exclusividade, à casta teleológica superior (com alguns doutorados, talvez também, em universidades complutenses...).
“De qualquer maneira, sinto que andam por aí inúmeros seres de intolerância ... , desde jacobinos não reciclados, militantemente anti-religião, ... que continuam a fabricar aquelas cumplicidades que lhes permitiram ganhar a vida como pretensos donos daquilo que formalizam como inteligência, mas que assumem a intolerância típica dos inquisidores e sargentos da censura... que apenas toleram que sejam eles próprios os fabricantes da intolerância, da difamação e do insulto. E ai de quem ousar pisar-lhes as calosidades opinativas, rejeitando seguir-lhes os ditames que emitem sobre a partidocracia que os protege e prebenda, ou ofender-lhes os meandros apoiantes do respectivo benefício situacionista.”
[1]

2. Também digo, pela pena de alguém que, finalmente, leio com projecção num dos jornais diários nacionais, que este Governo não reflecte, quase na invisibilidade, qualquer esperança que seja luz, tão imerso que estará na germinação de mais um pseudo plano salvífico, urdindo a sacratura da palavra que convence, apenas, a indigência dos hipócritas.
“Vós sois os eternos críticos e oficiosos biografadores daqueles que, em troca, vos elogiam, irmanados que estais no sindicato das citações mútuas, nesses doces enlevos que vos fizeram encartados homens de cultura ... como cães de fila e vozes de dono, nunca passareis de engraxadores do ditirambo, visando subir mais alto, aos etéreos vértices donde, finalmente, podereis clamar o "cheguei, vi e venci" ...
Pois, continuai a falar em doutrinas como justificação para o insulto e a mentira, como outros disseram pátria e humanidade, para disfarçarem crimes de assassinato físico e moral. Eu não me calarei, enquanto a voz puder ser comunicada aos outros.”
[2]
Doença social em franca expansão para-económica, dado já dever ser o principal recurso para repasto dos necrófagos elencados na casta nomenclatura neuro-democrática, faz com que se governe “por periscópio” (talvez a fazer inveja à enclausurocracia salazarista) ... faz-nos lembrar uma espécie de soldados da paz (do género não bombeiro) que, empenhados na luta sem tréguas (?) do combate ao devorismo flamejeiro, tão distantes que estão dos olhares, insinuações, dúvidas e inquirições, apelos e atropelos ‘bem intencionados’, ... dificilmente escapam à cartesiana dúvida da sua existência! A não ser que sigamos o mesmo cartesiano logicismo de que “eles decretam, logo existem”. Nem que a tragédia dos episódios do quotidiano plebeu os obrigue ao disfarce, ou que isso custe ou ponha em risco a existência alheia!»

[1] JAM, www.tempoquepassa.blogspot.com.
[2] Idem.

domingo, abril 02, 2006

Letras do Pensamento

Quando estas coisas assim me atingem … vejo algo acontecer à educação em Portugal!

Que hoje, para começar, não poderia deixar de ser, também, uma evocação ao “Publicista” Sampaio Bruno, pelos seus contributos que, com os de outros, traçaram um pensamento caracteristicamente português sobre a educação, dentro daquilo a que poderíamos chamar filosofia da educação, no que tem sido “ a preocupação portuguesa pela formação e reformação do homem”. Primeira curiosidade: o facto de, no ano de 1906, Bruno publicar Os Modernos Publicistas Portugueses (talvez a obra “onde mais directa e desenvolvidamente ele se debruça sobre a educação”) e, nesse ano, Raul Brandão publicar Os Pobres, essa obra do seu existencialismo que retratava “a imensa legião de pobres do mundo moderno … resultado da dissolução dos valores emergentes do amor cristão, mediante o império avassalador da cobiça, do dinheiro, do lucro, da acumulação do capital, gerando o desprezo pela dignidade humana e libertando ódios indizíveis”. Assim exprimia “a consciência dramática da miséria aviltante que transforma o homem num farrapo”.


“Estamos a precisar de escrever uma História da Filosofia da Educação em Portugal … todo o país que o mereça ser tem de possuir uma visão filosófica da educação. E essa visão há-de exprimir a história desse povo, que é única.” [1].



É com esta introdução referenciada que me exorto a fazer eco do que, recentemente, fez de mim mais uma vítima do sistema em que, quase inevitavelmente, vivemos! Agora já não me restam quaisquer dúvidas: de entre os contra-poderes da administração pública portuguesa, aquele que mais estruturantemente condiciona e, potencialmente, vicia a reprodução social é, afirmativamente, o do sistema de ensino!

Mas, sobre isso, ainda não me é, jurídico-processualmente, permitido falar! E não o devo, ainda, fazer. Mas há casos que, moral e físicamente, nos transportam para a dimensão pseudo-anárquica do nosso sistema de ensino, onde proliferam processos neo-kafkianos de linchamento profissional, com lobbies que serão, inequivocamente, o maior absurdo de um estado de direito, que se quer democrático, não somente nas declarações solenes e formais, mas nos actos do dia-a-dia do trabalho, sobretudo de quem também anda a tentar construir o futuro! Sem cálices de cicuta!

É perfeitamente frustante, humana e profissionalmente falando, o ataque cerrado mas silencioso dos que, do alto do pedestal onde se sentem atingidos, não se importam de tratar dos seus próprios interesses pessoais em detrimento da implementação das soluções que, quotidianamente, a todos se nos deparam como as mais exequíveis para as situações/problemas que enfrentramos!

Haja Deus!!!

Compreendo, agora, que o lema benfiquista "et pluribus unum" tem muito mais propriedade que a velha máxima coloquial de que "quem não é benfiquista não é bom chefe de família", pois o lema também serve para os caciquismos subservientistas de quem, no ensino, não se identifica com isso, ou seja, "quem não é de esquerda [tipo jacobina] não é bom professor. Para estes, continuo a preferir o meu velhinho de Belém, o meu querido e simpático "Os Belenenses", nem que não fosse, somente, pela Cruz que a todos nós diz respeito (até a cruz da Federação Portuguesa de Futebol o imita)!

Libertemos, também, esta fúria azul, mesmo que a águia nos tenha derrotado este fim de semana!

[1] História do Pensamento Filosófico Português, ob. cit., Vol. V, Tomo 1, pág. 392.

domingo, março 26, 2006

Gharb al-Ândaluz

E como cheguei a este ponto estético? Entre duas vontades expressivas: a da forma e a do conteúdo, sendo que o segundo terá de caber na primeira, cuja construção certamente teve de precedê-lo.





Entretanto, vou lendo alguns excertos da História do Pensamento Filosófico Português, para me inspirar naquilo que, seguramente, é a descrição histórica mais cabal do nosso substrato cultural:

Um exilado na terra do Magrebe
Tem o coração dividido
Entre duas afeições:
Salé tomou uma parte
Évora a outra.
[1]




E, continuando a evocar o fundo da alma com identidade pré-nacional, remeto-nos para o universalismo aristotélico de Ibn al-Sid, no poema:

Ó homem tu és um meio entre dois extremos opostos
Foste composto ao modo de uma forma num hilé
Se resistes à paixão, elevas-te às alturas
Se te submetes a ela desces ao mais baixo.



Oh, nosso belo Gharb al-Ândaluz!


[1] Isa Ibn al-Wakil.

quinta-feira, março 09, 2006

Letras do Pensamento

Quinta-feira, Março 09, 2006
(Reedição de Fiat Lux)


+ 1 evocação do mestre Caeiro

Alberto Caeiro


V - Há Metafísica Bastante em Não Pensar em Nada

Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu do mundo? Sei lá o que penso do mundo! Se eu adoecesse pensaria nisso.Que idéia tenho eu das cousas? Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos? Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma E sobre a criação do Mundo?Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos E não pensar. É correr as cortinas Da minha janela (mas ela não tem cortinas).O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério! O único mistério é haver quem pense no mistério. Quem está ao sol e fecha os olhos, Começa a não saber o que é o sol E a pensar muitas cousas cheias de calor. Mas abre os olhos e vê o sol, E já não pode pensar em nada, Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos De todos os filósofos e de todos os poetas. A luz do sol não sabe o que faz E por isso não erra e é comum e boa.Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores? A de serem verdes e copadas e de terem ramos E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar, A nós, que não sabemos dar por elas. Mas que melhor metafísica que a delas, Que é a de não saber para que vivem Nem saber que o não sabem?"Constituição íntima das cousas"... "Sentido íntimo do Universo"... Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada. É incrível que se possa pensar em cousas dessas. É como pensar em razões e fins Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.Pensar no sentido íntimo das cousas É acrescentado, como pensar na saúde Ou levar um copo à água das fontes.O único sentido íntimo das cousas É elas não terem sentido íntimo nenhum. Não acredito em Deus porque nunca o vi. Se ele quisesse que eu acreditasse nele, Sem dúvida que viria falar comigo E entraria pela minha porta dentro Dizendo-me, Aqui estou!(Isto é talvez ridículo aos ouvidos De quem, por não saber o que é olhar para as cousas, Não compreende quem fala delas Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)Mas se Deus é as flores e as árvores E os montes e sol e o luar, Então acredito nele, Então acredito nele a toda a hora, E a minha vida é toda uma oração e uma missa, E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.Mas se Deus é as árvores e as flores E os montes e o luar e o sol, Para que lhe chamo eu Deus? Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar; Porque, se ele se fez, para eu o ver, Sol e luar e flores e árvores e montes, Se ele me aparece como sendo árvores e montes E luar e sol e flores, É que ele quer que eu o conheça Como árvores e montes e flores e luar e sol.E por isso eu obedeço-lhe, (Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?). Obedeço-lhe a viver, espontaneamente, Como quem abre os olhos e vê, E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes, E amo-o sem pensar nele, E penso-o vendo e ouvindo, E ando com ele a toda a hora.

domingo, fevereiro 12, 2006

Letras do Pensamento

Tiradas de Reflexão Pura

Recordando Agostinho da Silva, é com Amor que vos digo ...

Muitos se estão a recordar, por diversas razões, de ideia ou por factos que o justifiquem, o que é Agostinho da Silva no espectro do pensamento da portugalidade. Por isso também aqui eu digo recordando, mas apenas o posso fazer evocando o que, muito simplesmente, tenho aprendido com a efeméride, ao dever ler o que há já muito deveria ter lido, porque, isso sim, há já muito que sinto e penso o que este evocado Mestre nos tem para ensinar! Sobretudo acerca do que é ser português, nesse enlear do ser com o amar, e do existir, com tal enleio, numa como que constante procura de um Bem maior, a que qualquer mortal não se deve envergonhar de dizer Deus, ou Amor Eterno, ou Verdade Suprema ...! Tantos já percorreram este caminho cogitado, mas muito poucos o fizeram com a terrena humildade da sapiência humana, que é a do homem simples que, por sê-lo, só pode ser uno com a totalidade, constante submissão voluntária daqueles que vislumbram o horizonte intemporal da eternidade ...!
E porque sou livre para obedecer a esa Vontade, que é essência que imana em nós, assim manifesto esse Amor que dessa obediência irradia, e me sinto próximo de Deus. É assim que sinto, é isso que penso e, portanto, é assim que tento viver!


"Agostinho da Silva dizia haver três vias para chegar à eternidade de Deus: a que nos dá a inteligência, a que nos faculta a vontade e a que nos oferece o amor. (...) Obedecer depende da nossa decisão. Pensar é uma actividade espontânea e grata. Mas o amor é um sentimento que podemos experimentar ou não. Pode mesmo acontecer ... que não nos amemos a nós próprios. (...) Mas dever amar apenas nos pode levar a um comportamento objectivamente próximo do que seria um comportamento amoroso. Por de trás desse voluntarismo haverá sempre um vazio afectivo que quase roça a fronteira da hipocrisia. Somos por isso tentados a pensar que, em termos teológicos, o amor, tal como a fé, é um imediato Dom de Deus que lhe devemos pedir com a mais humilde das humildades".

Obrigado, A. S.!