terça-feira, abril 04, 2006

Letras do Pensamento

O publicista Sampaio Bruno, ou como o espírito inconformista deste vulto da nossa praça intelectual tem razão para ser, continuamente, evocado!

Também eu segui os passos deste grande vulto do pensamento português, tão pouco conhecido como, notoriamente, muitos outros nomes de relêvo da nossa cultura filosófica. Por isso, nesta primeira aproximação que faço em sua memória, pois este título do Blogue, já o disse, foi nele inspirado, apenas me apraz republicar um artigo que assinei num jornal local deste burgo condalense. Tem isso a ver com a presente situação profissional que atravesso, e as implicações pseudo-tácitas que, também, atravessam as nossas instituições, desde há já muitos anos. Onde começou, não sei, "mas que elas andam por aí, lá isso andam ...", disfarçadas ou não em filhas da virtude que nunca conheceram.

«1. Chamaram ...e o astrólogo do Reino ainda não veio! Mas já “fala”! O que o astrólogo do Reino descobriu?! É fantástico, o que o poder dos magos alcança (?)! Qualquer dia, também os políticos mais susceptíveis a estas andanças exotéricas, que delas (consta por aí) são vistos e achados frequentadores, chamarão pelo dito para bafejar o défice orçamental com aquela pitadinha de mágica, que lhes falta para exorcisar as marcas que, insistentemente, nos atormentam a contabilidade pública...! Mesmo assim, não sei se haverá magia que afronte a vil maleita, tão forte deve ter sido o ritual satânico que nos sentenciou a penar em tão angustioso sacrifício ...!

Mas, confesso, este poder transcendente não é o do meu (quase assumido alter ego) douto amigo JAM, que tanto tenho evocado! Apesar de toda a força anímica que nos move, e que dele brota como água de fonte limpa! O astrólogo do Reino, por quem chamamos há umas semanas atrás para parar a seca em que mergulhou a nossa democracia, é algo parecido com a figura cibernética da “caixa negra”. Com aquele poder de retroacção dos sistemas que, depois de descodificadas as anomalias do seu funcionamento, e por efeito da doseada homeostasia (capacidade de os sistemas se corrigirem automaticamente), consegue descobrir o que desvia o corpo para o “vício”. Sem o compromisso de prescrever o tratamento a seguir, reservado que está, quase em exclusividade, à casta teleológica superior (com alguns doutorados, talvez também, em universidades complutenses...).
“De qualquer maneira, sinto que andam por aí inúmeros seres de intolerância ... , desde jacobinos não reciclados, militantemente anti-religião, ... que continuam a fabricar aquelas cumplicidades que lhes permitiram ganhar a vida como pretensos donos daquilo que formalizam como inteligência, mas que assumem a intolerância típica dos inquisidores e sargentos da censura... que apenas toleram que sejam eles próprios os fabricantes da intolerância, da difamação e do insulto. E ai de quem ousar pisar-lhes as calosidades opinativas, rejeitando seguir-lhes os ditames que emitem sobre a partidocracia que os protege e prebenda, ou ofender-lhes os meandros apoiantes do respectivo benefício situacionista.”
[1]

2. Também digo, pela pena de alguém que, finalmente, leio com projecção num dos jornais diários nacionais, que este Governo não reflecte, quase na invisibilidade, qualquer esperança que seja luz, tão imerso que estará na germinação de mais um pseudo plano salvífico, urdindo a sacratura da palavra que convence, apenas, a indigência dos hipócritas.
“Vós sois os eternos críticos e oficiosos biografadores daqueles que, em troca, vos elogiam, irmanados que estais no sindicato das citações mútuas, nesses doces enlevos que vos fizeram encartados homens de cultura ... como cães de fila e vozes de dono, nunca passareis de engraxadores do ditirambo, visando subir mais alto, aos etéreos vértices donde, finalmente, podereis clamar o "cheguei, vi e venci" ...
Pois, continuai a falar em doutrinas como justificação para o insulto e a mentira, como outros disseram pátria e humanidade, para disfarçarem crimes de assassinato físico e moral. Eu não me calarei, enquanto a voz puder ser comunicada aos outros.”
[2]
Doença social em franca expansão para-económica, dado já dever ser o principal recurso para repasto dos necrófagos elencados na casta nomenclatura neuro-democrática, faz com que se governe “por periscópio” (talvez a fazer inveja à enclausurocracia salazarista) ... faz-nos lembrar uma espécie de soldados da paz (do género não bombeiro) que, empenhados na luta sem tréguas (?) do combate ao devorismo flamejeiro, tão distantes que estão dos olhares, insinuações, dúvidas e inquirições, apelos e atropelos ‘bem intencionados’, ... dificilmente escapam à cartesiana dúvida da sua existência! A não ser que sigamos o mesmo cartesiano logicismo de que “eles decretam, logo existem”. Nem que a tragédia dos episódios do quotidiano plebeu os obrigue ao disfarce, ou que isso custe ou ponha em risco a existência alheia!»

[1] JAM, www.tempoquepassa.blogspot.com.
[2] Idem.