Continuando nas raízes orientais do nosso pensamento, em vésperas de mais uma comemoração de Stº António de Lisboa:
Para este nome já intemporal da nossa cultura, “Deus surge como o Fundamento de todo o sistema, Princípio dos princípios, Causa das causas, Ser, Bem, Verdade e Beleza absolutas. (…)”Se os Sermões antonianos se centram essencialmente numa mensagem de salvação e reflectem uma espiritualidade, o entendimento do Homem a quem se dirige ocupa neles um lugar fulcral. Daí que possa afirmar-se que encontramos dispersos pelos textos os elementos fundamentais para a construção de uma antropologia marcada, naturalmente, pela vivência cristã, mas contendo significativos elementos racionalizantes que a estruturam em síntese lúcida.
Para António o homem surge claramente como ser cósmico, inserido na natureza pelo seu corpo que é formado pelos mesmos elementos: terra, ar, fogo e água.
A analogia macrocosmos/microcosmos é, assim, uma das linhas dominantes do pensamento antoniano que a utiliza como primeira definição da situação do homem para o analisar exaustivamente, o entender na sua possibilidade relacional com outras realidades ─ o mundo, a comunidade humana, Deus ─ e abrir as suas possibilidades até ao infinito. (…)” [1]
Para este nome já intemporal da nossa cultura, “Deus surge como o Fundamento de todo o sistema, Princípio dos princípios, Causa das causas, Ser, Bem, Verdade e Beleza absolutas. (…)”Se os Sermões antonianos se centram essencialmente numa mensagem de salvação e reflectem uma espiritualidade, o entendimento do Homem a quem se dirige ocupa neles um lugar fulcral. Daí que possa afirmar-se que encontramos dispersos pelos textos os elementos fundamentais para a construção de uma antropologia marcada, naturalmente, pela vivência cristã, mas contendo significativos elementos racionalizantes que a estruturam em síntese lúcida.
Para António o homem surge claramente como ser cósmico, inserido na natureza pelo seu corpo que é formado pelos mesmos elementos: terra, ar, fogo e água.
A analogia macrocosmos/microcosmos é, assim, uma das linhas dominantes do pensamento antoniano que a utiliza como primeira definição da situação do homem para o analisar exaustivamente, o entender na sua possibilidade relacional com outras realidades ─ o mundo, a comunidade humana, Deus ─ e abrir as suas possibilidades até ao infinito. (…)” [1]
E por que não irmos novamente ao reencontro das nossas raízes filosóficas do Islão Ocidental? Revejo-me, por exemplo, no ideário deste grande vulto da cultura andaluza do século XI que foi Abu Muhammad Ali ibn Hazm (Ibn Hazm): “poeta, historiador, jurista, filósofo e teólogo defensor da doutrina zahirita … dá conta da alta qualidade do ensino que então se ministrava no Andaluz.
(…) Num dos seus livros mais célebres, o Fisal, Ibn Hazm estabelece uma espécie de enciclopédia dos conhecimentos das diferentes religiões com quem o Islão estava em contacto. Para pôr em evidência os dogmas do Islão, analisa os limites do conhecimento, as concepções da eternidade ou da criação do mundo, expondo o que considera os seus erros, até chegar à verdade do monoteísmo.
(…) No seu livro O Colar da Pomba escreve: o amor «consiste na união entre partes de almas que neste mundo criado andam divididas». Ligadas a esta causa cósmica universal, há uma série de causas segundas que determinam cada amor concreto. A concepção platónica do amor acompanha todo o escrito.
Pertences ao mundo dos anjos ou ao dos homens?
Diz-me porque a confusão zomba do meu entendimento.
Vejo uma figura humana mas se uso da minha razão
acho que o teu corpo é um corpo celeste.
Bendito seja O que equilibrou o modo de ser das suas criaturas
e fez que por natureza fosses maravilhosa luz.
Não posso duvidar que és um puro espírito atraído a nós
por uma semelhança que enlaça as almas.
Não há mais prova que ateste a tua encarnação corporal
nem outro argumento de que eras visível.
Se os nossos olhos não contemplassem o teu ser, diríamos
que eras a Sublime Razão Verdadeira [2]
O amor udri é o que buscamos mas não alcançamos, como o da escava que desapareceu na Porta dos Dragoeiros e o apaixonado todos os dias procura em vão. (…)” [3]
[1] Pacheco, Maria Cândida, História do Pensamento Filosófico Português, Círculo de Leitores, Vol I, 2ª Parte: O ciclo franciscano, Stº António de Lisboa, 2002, pp. 185 e ss.
[2] Ibn Hazm, El Colar de la Paloma, tradução espanhola de Emílio Garcia Gomez, Madrid, Alianza Editorial, 1971, p. 107, citado na História do Pensamento Filosófico Português, ob. cit., pp. 163-164.
[3] Idem.