sábado, abril 26, 2008

25 de Abril, Sempre ... por realizar!

"Em certo sentido, o 25 de Abril ainda está por realizar"!



Coloquei bem a vermelho esta constatação presidencial (veja aqui o discurso do PR), revelada nas comemorações de uma data que, embora muitos possam recordá-la, de facto, como eu que estive naquele dia, já nem tantos poderão dizer, como eu, que para ela tenham colaborado! No entanto, este publicum servitore, na mais estrita missão de cultivar a constitucional liberdade de ensinar e aprender, já foi processado, punido, vilipendiado e completamente ostracizado por todos aqueles que, na sombra que os ganhos de Abril a todos proporcionaram, não gostaram (nem ainda gostam) de serem, quando e porque o merecem, apontados como maus exemplos de democracia e de ensino para a cidadania.

Mas, sempre que se aproximam inaugurações, festas, comemorações, ou qualquer outra forma de evocações democráticas, são os primeiros a engalanarem-se e, de peito levantado pelo fôlego que ainda lhes resta por tudo quanto nunca fizeram, prostram-se no mais graxista reverencialismo dos que continuam a querer manter os privilégios que os donos da revolução lhes concederam, quais micro poderes subestatais, burocraticamente escondidos nos meandros das interpretações normativas que o império da lei ainda não soube resolver, para gáudio dos mesmos açambarcadores das clientelas que sobrevivem no limbo da moral de favores caciquistas! É a este Portugal de Abril que a referência presidencial aponta o dedo!

Bem haja, Sr. Presidente! Com essa já ganhou mais um admirador! Gostaria, profundamente, é que estas minhas "lamentações" lhe chegassem aos olhos de ler, ou tão pouco aos ouvidos, para que de qualquer forma se inteirasse de casos como o meu. Tenho a certeza, sobretudo por quanto já li nas consultas internéticas já efectuadas, que estes casos de joguinhos de poder e de lobisinhos bem anichados nos processos de decisão administrativa da gestão escolar pública, em todas as áreas de actividade, são a prova factual e plena do controle das escolas públicas por grupos de interesse, com ou sem ligações partidárias, pseudo-democráticas e altamente lesivas para o interesse dos alunos e expectativas das respectivas famílias, em geral, e do interesse na educação e formação dos cidadãos de amanhã, acima de tudo!

POR FAVOR, SR. PRESIDENTE, INTERVENHA!
APELANDO A TODAS AS SUAS COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS!
DENTRO DO CONSENSO MAIS ALARGADO POSSÍVEL!
AO MAIS ALTO NÍVEL DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS E DOS PODERES DE AUTORIDADE DO ESTADO PORTUGUÊS!

Por isso, não deixei de observar, em mais este postal de meu mui citado mestre JA Maltez, as referências que faz a mais uma evocação de Otelo e das FP-25 Abril.

Aí também pude ler um outro artigo de opinião, redigido em cima das comemorações do hemiciclo de S. Bento, sintetizando as alusões que caracterizaram o conjunto das intervenções dos grupos parlamentares, com o tal destaque para os "problemas actuais":

"Um 25 de Abril virado para problemas actuais

EVA CABRAL

Oposição aproveita sessão solene para atacar Governo PS
Trinta e quatro anos depois do 25 de Abril, o deputado socialista Osvaldo de Castro vai lembrar, no Parlamento, o que era o Portugal dos tempos da ditadura e a evolução depois da revolução dos cravos.

Antecipando o seu discurso de hoje, Osvaldo de Castro frisa ser importante realçar a melhoria da qualidade de vida conseguida com a democracia em Portugal e o facto de esta ter sido aprofundada ao longo dos últimos anos.

Já politicamente activo à data do 25 de Abril de 1974, Osvaldo de Castro - que antes do PS militou no PCP - garante ir fazer uma "saudação especial à juventude" e lembrar factores decisivos para o presente como o processo de integração do País na União Europeia.

Mas, na sessão parlamentar de hoje, os discursos feitos com base numa memória própria vivida nos dias e emoções do 25 de Abril de 1974 acabam no deputado socialista.

Todas as outras bancadas optaram por escolher parlamentares muito jovens que apenas têm da data hoje evocada solenemente uma mera memória histórica. São todos jovens que estão hoje mais virados para os muitos problemas do quotidiano e que atacam as actuais políticas do Executivo.

Miguel Tiago, da bancada do PCP, vai denunciar a "provocação feita pelo Executivo PS ao fazer coincidir a aprovação do Tratado de Lisboa e a revisão do Código Laboral com as comemorações do 25 de Abril".

O jovem deputado comunista frisa que o actual Governo socialista tem seguido uma política de "destruição dos ideais e conquistas de Abril", designadamente nas áreas de serviços públicos de educação e saúde.

Já José Moura Soeiro, do Bloco de Esquerda, vai centrar toda a sua intervenção na questão da educação, "considerada como o factor essencial para o Portugal do futuro".

Numa altura em que os jovens são muito afectados com problemas como os da precariedade laboral, José Soeiro diz ser necessário "uma escola que esbata as diferenças sociais dos alunos". O deputado bloquista adianta ser preciso alterar a ideia de que a escola "deve preparar pessoas para responder ao mercado de trabalho", garantindo que esta deve assegurar muito mais do que isso.

Pedro Mota Soares, vice-presidente da bancada do CDS/PP, vai centrar a sua intervenção nas questões da demografia. O deputado popular - que nasceria só em Maio, cerca de um mês depois do 25 de Abril - defende que a evocação da data histórica deve evoluir.

Para Mota Soares, a sessão solene no Parlamento, até por contar com a presença do Presidente da República, deve ser o momento certo para se fazer "discursos de maior alcance em matéria de futuro". Se reconhece que a evocação histórica é importante, considera ser ainda mais relevante dar resposta a problemas concretos dos dias de hoje. Assumindo que a sua bancada tem tido uma agenda centrada em questões como a protecção da maternidade e paternidade e a criação de um sistema fiscal mais amigável para quem quer ter filhos, Pedro Mota Soares garante ir ainda abordar as questões relacionadas com a criação de emprego, o que passa por alterações a nível da taxa social única (TSU) e da tributação sobre os trabalhadores e empresas.

Luís Montenegro, da bancada do PSD, tinha um ano quando se deu o 25 de Abril, cabendo-lhe a tarefa difícil de nestes dias de turbilhão no mundo social-democrata abordar as questões da qualidade da democracia portuguesa .O deputado do maior partido da oposição refere "ser necessário valorizar a actividade política, e dar um sinal de esperança para a juventude portuguesa".

E, por falar em mais esta episódica referência à “falta de motivação das novas gerações para a política” (veja no site da Presidência o estudo referenciado pelo PR), em plena sessão comemorativa na Assembleia da República, relembro umas linhas de um pequeno livrinho[1] que ando a ler, de Carlos Diogo Moreira, Professor que muito bem conheço do meu ISCSP, quando aponta:

" (...)

Na verdade, porém, o sentimento de que predominavam os interesses de todos e não em especial de alguma área ideológica, e a sensação de mudança efectiva é o que prevaleceu ao fim destas três décadas de democracia. Assim, quando o passado vem à memória já não tem relevância para o presente: é uma mera questão histórica ou um motivo de discussão que já não interessa praticamente a ninguém, se assume um mero carácter pontual ou "folclórico"."

Então, tem ou não pertinência o poema que editei, há já três anos, num jornal local?

31 de Abril! Quem?

Deixa-te abrir, de novo
Abril, de ti possam trazer
Tudo o que de ti não sabem,
Mas mereces: o teu povo


Deixa-t’ abrir, sem queixume
E sem remorso, nem temor,
Sem esses lamentos de dor
Que dão em coisa nenhuma

Deixa-te abrir, agora,
Tirar de ti a semente,
Que dará fruto na gente
À espera, a vida fora!


Deixa-t’ abrir, finalmente
Voltar a pensar, que em ti
É tão bom poder sorrir,
E abraçar o que se sente

Deixa-te abrir, é hora
P’ra de novo dizer que não
Aos vis rapinas da razão
Desse ser que em nós mora

Só então, Abril, verás! Quem
Em ti, sempre viveu e amou
Te quis, te bebeu e chamou
Para chegar ao mais além!

Quem!
Abril, de novo?!

J. R. Coelho
(em versão métrica)

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[1] MOREIRA, Carlos Diogo, Pátria, Identidade e Nação, UTL, ISCSP, Lisboa, 2007, pág. 42.