domingo, janeiro 08, 2006

Cogitadelas 9

O “ad aeternum” noticioso dos amanhãs adiados – ou as histórias que se vão repetindo sem horizonte de esperança.

Começo a ficar farto de ver como o presente está constantemente a buscar no passado aquilo que não consegue projectar para o futuro, ou seja, como é que quem (talvez todos nós) deve fazer algo pelo presente, de forma a tornar melhor o futuro (direito universal dos povos ao desenvolvimento), está sistematicamente a cometer as mesmas façanhas que outros, frequentemente criticados por aqueles, cometeram no passado.
Exemplos desta constatação, que é genuinamente empírica e não puramente teórica, há-os incontavelmente, como que a servir de fundamentação objectivante da própria constatação.


Como já em 50 dizia o Prof. Luís Cabral de Moncada, na sua Filosofia do Direito e do Estado, quando um povo não tem instrução (entenda-se latu sensu) basta que veja satisfeitas as suas necessidades básicas (alimentação e habitação) para não mais se interessar pelos assuntos públicos, deixados a resolver por quem, sucessivamente, os vai gerindo de mote próprio. Por outras palavras, o aforismo anti-salazarista do “governar melhor mantendo ignorantes os governados” é, antes, uma realidade constante no portugalório privinciânico. É uma realidade supra-partidária, extra-partidária, anti-partidária, irrealisticamente democrática, realisticamente anti-democrática porque, pelos fins, é anti-popular.


Extra-partidariamente, supra-ideologicamente, mas democraticamente dizendo, as realidades pintadas pela revolução que nunca aconteceu (este presente nunca pode ser o futuro do ontem prometido) são, todavia, um grito do real com que o cenário social nos presenteia no dia-a-dia. Hoje, como ontem, pouco vemos que foi mudado, nada do que seria essencial se alcançou. Transformaram-se as fórmulas que visam angariar o consentimento popular, decretam-se medidas que visam alcançar os objectivos de quem governa, mesmo sem legitimidade, num quotidiano sem razão que os suporte, para bem do ‘stress’ social, ou da psique colectiva que molda os interesses dos que nela têm de abrigar-se.


Até o sol parece ficar envergonhado, tal é a nossa apatia perante os detritos de que nos queremos alhear! Nem a profilaxia do domínio público soubemos definir, tal o estado da nossa higiene social, gerida nos interesses subterrâneos das poderosas famílias privadas! Por isso, quem esperar por higiene, saúde, e outros bens ditos públicos, o melhor é contar, num futuro aparentemente muito próximo, com S. A.'s de capitais públicos, o mesmo será dizer, de entidades pseudo-públicas porque privadas , dado que se vestem e alimentam à custa do que o erário público nos absorve, oficial mas clandestinamente, com o aval das mais altas esferas de controlo constitucional.



A este nível, nem a já publicitada campanha presidencial para 2006 nos promete nada de novo, tal é o conformismo sistémico dos intervenientes! De todos eles! Sem excepção, aceitando-se que, para alguns quase nunca ouvidos porque "inconvenientes", isso não tenha que ser,. obrigatoriamente, assim. Mas se até Louçã, oriundo de formação partidária inscrita na LCI, não se apresenta, politicamente, nesse quadro (apesar das quotas de tempo de antena que lhe têm sido atribuídas serem muitíssimo mais que proporcionais às atribuídas ao nível da sua representatividade parlamentar), não admira que dificilmente alguém se possa apresentar a votos sem a conivência do situacionismo sistémico.


Para ver sempre as mesmas histórias, com outras roupagens de actores hereditários, mais vale a dignidade circense, onde as feras e outros ícones da natureza, genuinamente, merecem sempre o respeito devido a quem trabalha seriamente para a comunidade, mesmo quando o número mais esperado é o dos palhaços!



Sem cair na auto-flagelação, talvez já não nos reste, sequer, a vã esperança de encontrarmos uma caixa de Pandora, sem surpresas de mercearia, orelhadas de porco ou outras burlas de feira que já são tradição, sem academia que as institucionalize! Nesse aspecto, façamos figas para que não atinja o ceptro de escola, deixando então que ainda possamos esperar, da dita caixa de ilusórias surpresas, uma pequena "luz ao fundo do túnel". Será isto poesia? Mas "V" de quem?!