domingo, abril 02, 2006

Letras do Pensamento

Quando estas coisas assim me atingem … vejo algo acontecer à educação em Portugal!

Que hoje, para começar, não poderia deixar de ser, também, uma evocação ao “Publicista” Sampaio Bruno, pelos seus contributos que, com os de outros, traçaram um pensamento caracteristicamente português sobre a educação, dentro daquilo a que poderíamos chamar filosofia da educação, no que tem sido “ a preocupação portuguesa pela formação e reformação do homem”. Primeira curiosidade: o facto de, no ano de 1906, Bruno publicar Os Modernos Publicistas Portugueses (talvez a obra “onde mais directa e desenvolvidamente ele se debruça sobre a educação”) e, nesse ano, Raul Brandão publicar Os Pobres, essa obra do seu existencialismo que retratava “a imensa legião de pobres do mundo moderno … resultado da dissolução dos valores emergentes do amor cristão, mediante o império avassalador da cobiça, do dinheiro, do lucro, da acumulação do capital, gerando o desprezo pela dignidade humana e libertando ódios indizíveis”. Assim exprimia “a consciência dramática da miséria aviltante que transforma o homem num farrapo”.


“Estamos a precisar de escrever uma História da Filosofia da Educação em Portugal … todo o país que o mereça ser tem de possuir uma visão filosófica da educação. E essa visão há-de exprimir a história desse povo, que é única.” [1].



É com esta introdução referenciada que me exorto a fazer eco do que, recentemente, fez de mim mais uma vítima do sistema em que, quase inevitavelmente, vivemos! Agora já não me restam quaisquer dúvidas: de entre os contra-poderes da administração pública portuguesa, aquele que mais estruturantemente condiciona e, potencialmente, vicia a reprodução social é, afirmativamente, o do sistema de ensino!

Mas, sobre isso, ainda não me é, jurídico-processualmente, permitido falar! E não o devo, ainda, fazer. Mas há casos que, moral e físicamente, nos transportam para a dimensão pseudo-anárquica do nosso sistema de ensino, onde proliferam processos neo-kafkianos de linchamento profissional, com lobbies que serão, inequivocamente, o maior absurdo de um estado de direito, que se quer democrático, não somente nas declarações solenes e formais, mas nos actos do dia-a-dia do trabalho, sobretudo de quem também anda a tentar construir o futuro! Sem cálices de cicuta!

É perfeitamente frustante, humana e profissionalmente falando, o ataque cerrado mas silencioso dos que, do alto do pedestal onde se sentem atingidos, não se importam de tratar dos seus próprios interesses pessoais em detrimento da implementação das soluções que, quotidianamente, a todos se nos deparam como as mais exequíveis para as situações/problemas que enfrentramos!

Haja Deus!!!

Compreendo, agora, que o lema benfiquista "et pluribus unum" tem muito mais propriedade que a velha máxima coloquial de que "quem não é benfiquista não é bom chefe de família", pois o lema também serve para os caciquismos subservientistas de quem, no ensino, não se identifica com isso, ou seja, "quem não é de esquerda [tipo jacobina] não é bom professor. Para estes, continuo a preferir o meu velhinho de Belém, o meu querido e simpático "Os Belenenses", nem que não fosse, somente, pela Cruz que a todos nós diz respeito (até a cruz da Federação Portuguesa de Futebol o imita)!

Libertemos, também, esta fúria azul, mesmo que a águia nos tenha derrotado este fim de semana!

[1] História do Pensamento Filosófico Português, ob. cit., Vol. V, Tomo 1, pág. 392.