segunda-feira, outubro 13, 2008

Escola ?!... Que saudades!

Por que devemos ter medo da "escola a que chegamos"!

Mais uma vez me manifesto com
a deixa das afirmações de mestre JAM! Não sem relevância actual, num dia em que assinalo ter observado, na sala de professores onde trabalho, um abaixo assinado contra os processos avalianígenas que a tecnocracia avalióloga (leia-se e pasme-se com os termos em que estão definidas, normativamente, as equipas de avaliação) vai tecendo para dominar "esta pastelada de massa tenra, muito maleável que, estando em condições precárias, é passível de ser domesticada pela tecnocracia dos reformismos de fachada, à espera de aval decretino".

E o que me lembrou, hoje, esta deixa, foi o que li há já um mês atrás, na 'Notícias Magazine' do JN de 14 de Setembro, numa entrevista à Professora Maria do Carmo Vieira, uma pessoa que, pelos ditos e vistos, muito me orgulho de chamar colega. Donde destaco:



- Ensino

"... Todos nós nos lembramos dos professores que nos marcaram, que se tornaram exemplo. Daí a imprescindibilidade de um professor amar o que ensina ...";

- "... Banido o verbo ensinar, os alunos só têm actualmente de adquirir aprendizagens e competências, tendo em vista o mercado de trabalho. (...) Como estratégia para obter um êxito rápido e cumprir metas estatísticas. Com efeito, as novas teorias pedagógicas (uma ofensa à nobreza da pedagogia) viciam os alunos no facilitismo, cultivando a preguiça e a ignorância ...";

- "Não compreendo como é que os professores de Português aceitam critérios de correcção em que os erros ortográficos não são penalizados.";

- Treinar a não pensar

"É triste, mas creio que neste momento a escola perdeu a sua função milenar de preparar para a vida, e por isso os alunos quando dela saírem encontrarão um mundo totalmente diferente daquele que lhes foi mostrado por um ensino que se centra apenas nos seus interesses imediatos, fomentando o narcisismo e o egoísmo. Sabemos, por experiência, que os interesses dos alunos estão em geral muito afastados da cultura.";

- "... chamaram-me elitista quando dei a conhecer, de forma crítica, a presença do Big Brother e das telenovelas nos manuais .... Elitistas são as pessoas que estão por detrás destes programas e das suas metodologias. Com efeito, se não for a escola a preencher o vazio cultural que resulta de uma situação familiar fragilizada, quem o fará? (...) A esta desigualdade de oportunidades, que a escola promove, chama-se cavar o fosso entre ricos e pobres, para mais tarde, como diria Vieira no seu Sermão de Santo António aos Peixes, os maiores comerem os mais pequenos. Expressiva é também a frase de Schumann: «Aqueles que são ignorantes são fáceis de conduzir.» Na verdade, quem não pensa acaba por baixar os olhos, caminhar em grupo, seguindo os passos de quem o conduz, esquecendo-se de si próprio. Mas isto é um crime, fazer com que os alunos se esqueçam de si próprios, se anulem enquanto seres humanos, ...";

- "... Finalmente, com a implementação desta nova reforma em 2003, oficializou-se a mediocridade na escola, numa atitude de arrogância nunca experimentada, que anunciava o acto de pensar e de reragir, e mesmo de desobedecer, como algo intolerável. ...";
- Professores resignados e com medo

"A resignação é também uma atitude que impera. (...) A par da resignação, existe o medo, agora agravado com a avaliação, nos moldes em que foi imposta (apesar das alterações), infelizmwente com a anuência dos sindicatos. (...) Os professores obedecem porque têm medo. Houve colegas que não assinaram as petições que elaborei em defesa do ensino e da sua dignidade, confessando-me terem medo das consequências. Outra situação é a que se prende com o exercício do poder, nomeadamente através do cargo de «professor titular», que só pode ter sido criado para dividir os professores. Poderia ter concorrido a professora titular, e certamente que obteria a pomposa designação, porém não aceitei fazê-lo. ... Optei pela minha consciência, ... ainda que tenham tentado assustar com possíveis consequências. ... Como é possível avaliar o desempenho de um professor com base em critérios pouco objectivos e discricionários? ...";

- Estamos a destruir o futuro dos alunos

"... o ME quer facilitar, porque conforme afirmou, muito convicto, o coordenador do GAVE [...], «os alunos têm direito ao êxito», ignorando que o êxito se conquista, não se oferece. ... Actualmente exigência é comparada a traumatismo, e à partida os alunos são considerados uns incapazes. O que se pode esperar quando se raciocina assim? (...) Ser avaliados por colegas, e ainda por cima da mesma escola, é inaceitável, mas há sempre quem aceite representar estes papéis. ..."

No final do artigo há uma remissão para a página na internet que esta Professora tem: "Pela Dignificação do Ensino". PARABÉNS!!!

Por mim, sinto uma bofetada na minha dignidade profissional e um atentado à instituição escolar o facto de me atribuírem a leccionação de matérias que eu nunca estudei. E de me retirarem disciplinas que, no mesmo estabelecimento de ensino, eu próprio já há muito comecei a preparar, já leccionei, e sobre as quais tenho projecto de doutoramente universitariamente aprovado. Com conhecimento documental formal (em fotocópia) do respectivo Orgão de Gestão. Com formalização de candidatura na FCT! Há ou não discricionaridade, medo, compadrios, prebendas, represálias ...? Como se pode realizar uma avaliação docente nestas circunstâncias orgânico-institucionais?

Arre!!! Não há pachorra!!!

PS: volto a assumir todas as consequências legais deste meu tão digno acto de civismo e de liberdade de expressão!

(O vermelho é da autoria deste blogue).