quinta-feira, junho 03, 2010

"Não me fechem a pátria!"



Os tais livrinhos antigos que eu bem dizia à minha amiga ...

Já aqui referi uma dessas amizades que se fazem nas redes sociais ...! Contava-lhe eu, um dia destes (via tele-conferência que estas tecno-manias vão cultivando por aí), para o outro lado do Atlântico onde mora o coração e a língua portugueses, que há livrinhos, alguns mesmo antigos, que lá contêm ensinamentos por muitos já julgados ultrapassados e inúteis, para se vangloriarem na feira das vaidades reformadoras com que tecem a desgraça angélica e disfarçadamente decretada, travestida de pseudo-progresso, com e sem tecno-choques ...!

Vem isto a respeito de mais um postal de JAM, que assim vos passo, a respeito da nossa desdita, cuja data se comemora daqui a uma semana. Entre outras razões, por causa da memória de um livrinho que eu também conheci, na minha primeira classe da primária. Oferecido pelo Estado, a quem não tivesse o meio escudo (50 centavos, de "caixa escolar") para o pagar (e não eram poucos)!



E, do centro da minha vimaranense terra mãe, lá andava eu dois quilómetros ruas acima, até ao alto de Stª Luzia, onde ficava a Escola, com a sacola de ganga , com o quadro de lousa armada em madeira e a respectiva pena, o saquinho com o pedaço de pão de milho e a laranja, ou a maçã ...! Para enfrentar os ensinamentos inesquecíveis de meu ido Professor Amílcar, que um dia nos levou a Amarante, ver as serras e a sua terra natal ...! Que tarde de passeio inesquecível!

Esses tais profes que, já na altura, ensinavam a ler, a escrever (sem erros ortográficos), a contar, a desenhar, e ... a respeitar! Isso mesmo! Aí, sim, a infracção dava mesmo reguada (eu ainda tenho a marca de uma, na minha mão). Mas aprendi, para o resto da vida, que chamar f.d.p. a um colega, e ainda dentro de uma sala de aula, não era uma atitude mesmo nada correcta. E mostrava uma falta de respeito por alguém que ali estava a tratar-nos com a dedicação e o carinho com que aquela alma nos tratava!

Sim, eu já era um pouco afortunado, por ter um Profe assim, uma saquinha com uma merenda assim, com um livrinho assim. E tudo isso porque havia Escolas assim!!!

segunda-feira, maio 31, 2010

"Eu nunca amei de verdade"!

A coragem de ser o que se pensa, mesmo que, com isso, não se pense como se vive!



Parafraseando o meu mui citado mestre e amigo JAM (porque o meu pensamento o acompanha, sem qualquer seguidismo balofo), a respeito desta atitude existencial, torno mais pertinente a razão de ser deste trecho que agora apresento. Cedido por uma nova amizade, dessas que as novas redes multimédia permitem, nesta globalizada "aldeia" on line. A partir do outro país onde se fala mais a nossa língua. Lá, onde se sente morar o nosso coração português, do outro lado do Atlântico. Nesse lugar da Terra onde a língua adocicou o sentimento e a saudade. Aonde ficou mais Portugal. Com todo o Amor do Universo, bem expresso, também, no seu azul e nas suas estrelas:


"Eu nunca amei de verdade

Essa afirmação parece estranha, vinda de uma pessoa tão apaixonada como eu. Sou assim com tudo que faço na vida, seja no trabalho, na amizade, na religião,na política, no futebol... Radical chique, como diz a amiga Vivi. Ou simplesmente uma maluquinha que se entrega de corpo e alma a cada atividade, relacionamento, momento...

Mas é importante diferenciar algumas coisas. Uma, a paixão, que me move. Outra, o amor universal...e outra, sobre o qual o título dessa nota fala, que é o amor romântico.

Em minha modesta opinião, tento aqui identificar esses três fenômenos. Não sou psicóloga e, se estou ofendendo a teoria, não posso fazer nada. São apenas devaneios de uma pessoa que pensa demais...

Paixão: É arrebatamento. É loucura. É ciúmes. É possessividade. A paixão é aquela sensação estranha no estômago, que faz você ficar enjoada só de pensar na pessoa, um misto de querer e quase morrer. A paixão é animal. É pura pele, saliva, cheiros e toques. É sensação. Não é sentimento. A maioria das músicas românticas falam da paixão, mas usam o substantivo amor no lugar, talvez por ignorância, talvez para vender mais. Vai saber. Mas a paixão é um sinal claro que ainda estamos em uma fase pouco evoluída na vida. Pois, como sensação animal, a paixão não é controlável facilmente. É pela paixão que ocorrem suicídios, homicídios, traições... A paixão tem como irmão dileto o orgulho e primo a vaidade. E, quando somos desprezados em nossa paixão, o outro corre um sério risco. Pois ficamos cegos pela fúria que nos acomete... a paixão é deliciosa, mas perigosa demais!

O amor universal: Ninguém melhor que Paulo de Tarso descreveu a essência desse amor, em sua famosa primeira Epístola aos Coríntios (e quem sou eu para reinventar a roda?): "O Amor é paciente, é benigno; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O Amor nunca falha." O amor, sublime amor! É uma construção. Diária. É um sentimento que se renova a cada contato, a cada busca e até na ausência. O amor é indulgente e humilde. Generoso e tranquilo. Sentimentos são a expressão da nossa própria essência, de nossa personalidade. Eles que realmente definem quem somos. E esse sentimento poderoso é o que nos aproxima de Deus. Pois quando amamos de fato, só o bem do próximo nos basta. Se amanhã minha sobrinha disser que vai morar na China, pois será feliz assim, vou sofrer, mas ao mesmo tempo, vou correr para arrumar suas malas e ajudá-la a ir em busca dos seus sonhos. O amor é renúncia. É doar, sem pedir nada em troca. Isso eu senti pela minha mãe, pelo meu avô e pela minha madrinha que se foi. Por alguns outros tios, primos... é o que sinto por meus irmãos e sobrinhas. E por alguns amigos muito especiais.

O amor romântico: Esse eu falo em teoria. Analisando os relacionamentos que eu tive até agora, comparando com o que postei acima sobre amor e paixão, vejo que realmente eu nunca amei de verdade. Eu sempre quis ter, não ser. A diferença do amor romântico para o amor universal é que ele vem acompanhado daquela energia poderosa que chamamos de sexual. Lembro que, há muitos anos atrás, eu li uma frase em uma entrevista do Marcos Frota (eu era adolescente e achava ele lindo!) que dizia acreditar ser o Amor uma combinação de amizade com sexo. Eu troco a palavra amizade pelo amor universal...com sexo! Como estamos ainda na terra, precisamos disso. Um intermediário entre o amor por todos, singelo, puro e casto e a paixão, carregada de luxuria e tentação...

O amor romântico, em minhas fantasias mais infantis, nos faz ter asas e querer levar a pessoa amada para o Paraíso...Ao mesmo tempo, ele nos faz ver que, se a pessoa não está feliz com você, melhor é deixa-la ir, seguir seu caminho do que acorrentá-la a um sentimento que não faz sua vida ser risonha como gostaria...

O amor romântico é o que nos faz acreditar que somos principes, princesas, ou não. É ser, mas também é ter, só que de uma forma gostosa, leve... Eu só levei dois namorados em casa até hoje. Um, por que eu era muito jovem, era meu primeiro namorado sério e eu acreditava estar amando. Outro, porque minha mãe estava doente e não tive outra opção. Eu não conseguia simplesmente misturar meus amores com minhas paixões, da mesma forma que busco separar a Adriana amiga das demais... E não, nunca tive vontade de ter filhos e construir uma vida a dois com qualquer um deles (fora o primeiro, ok, mas isso fica pra outro post. Descobri anos mais tarde que foi uma das paixões mais violentas que tive. Mas era paixão...)

Isso me preocupa um pouco. Será que mostra minha baixa elevação espiritual? Que ainda estou tão presa a sensações que não consigo transpor a ponte da emoção para o sentimento? Ou será que apenas não era para ser? Vai saber...

Eu nunca amei de verdade. E não sei se amarei um dia. Não desse jeito.."

Adriana Torres Ferreira



quarta-feira, maio 26, 2010

Da felicidade interior nos discursos contemplativos ...

Como sempre, vou acompanhando e lendo, com alguma atenção, as "bicadas" de meu mui citado mestre JAM.

Esta é mais uma, que poderia inscrever-se, também, nos artigos de opinião da "Escola de C. P.". Mas tem lugar aqui, dentro do espírito com que criámos este "Publicista".

Eu sei que o seu autor também por aqui "anda":

"Das vacas magras, sagradas ou gordinhas...

Os economistas mais escutados fazem prognóstico depois da crise e já reconhecem o óbvio da imposição externa e da falta de margem de manobra dos factores nacionais de poder. Nenhum sabe conjugar a palavra pátria e esta pode ser aprisionada pela música celestial de Pilatos e de outros que lavam as culpas com discursos.

Os discursos contra os especuladores são pássaros que voam na ilha da utopia. Preferia ter passarinhos na mão. O preço pode ser o máximo de sagrado na religião da economia. E não há mercado para quem não assume a liturgia da confiança no outro e na palavra do outro.

Foi o capitalismo especulador que nos permitiu a ascensão ao clube dos mais ricos do mundo, sem que a nossa sabedoria e a nossa produtividade efectivamente o merecessem. Foi uma escolha geopolítica que nos permitiu esse máximo de prazer com o mínimo de dor que foi a descolonização e a integração na CEE...

As vacas sagradas foram dois terços de remediados, entre papa-reformas e a protecção do bom e velho Estado, com um terço de excluídos que, apesar de tudo, votaram as maiorias do especulativo, como as de Cavaco, Guterres e Sócrates...

Neste momento de encruzilhada, quando muitos visionam o tremendismo das vacas magras, há quem, como eu, profetize que a geopolítica pode ainda livrar-nos do preço que, se houvesse justiça nas relações internacionais, deveríamos pagar por causa de pecados cometidos por omissão com justa causa...

Os erros de um aparelho de Estado, com muita banha, pouco músculo e quase ausência de nervo e cérebro, podem também aplicar-se ao mundo empresarial, feito à imagem e semelhança do primeiro, e ao colaboracionismo da chamada autonomia da sociedade civil com a partidocracia dominante.

Ao contrário do que proclamam certos criadores de cenários, apocalípticos, economicistas ou politiqueiros, o que temos é de dar estratégia ao nosso tradicional desenrascanço, nesse misto de aventura e pragmatismo que sempre nos deu identidade, permitindo sucessivas refundações de Portugal. Basta cultivarmos a ciência da criatividade, com os pés na dívida...

Os donos do poder interno, calculando cenários até pensam que se aviam com o pantagruel de um bloco central que deu limitados frutos há mais de um quarto de séculos, antes da CEE e do euro... Portugal já não é esse país dos engenheiros macromonetários e que agora dão aulas de saudosismo, pensando que tal é macro-economia...

Os donos do poder continuam encantados pelos velhos do restolho, do partido dos fidalgos, esses que temem o risco de navegar e preferem segurar-se entre as querelas do professor pardal e do professor manitu...

A reforma da ciência e da universidade, a que levou o cheque tecnológico ao ministério da economia, bem pode amar e odiar, colaborar ou sanear os ausentes-presentes e os caçadores de comendas e honrarias que geraram o presente neofeudalismo do sindicato das citações mútuas desta sociedade de corte...

Ficou o permanecente das viradeiras, este arquipélago de gestores endogâmicos que, em nome da autonomia financeira e do "outsourcing", controlam a mesa do orçamento através do clientelismo, do carreirismo e do cacete, típicos dos micro-atoritarismos sub-estatais que poluem a democracia...

O aparelho de Estado, da administração directa e indirecta, bem como os mecanismos contratualizados pelas políticas públicas são bens escassos que devem ser tratados sem o folclore do exibicionismo dos pequenos teatros de estadão, com beberete, croquete e outros rituais despesistas que ofendem a ética republicana, enquanto sinónimo de serviço público, com saúde e fraternidade, a bem da nação."

posted by JAM | 5/26/2010

sexta-feira, maio 14, 2010

Que saudades ... de futuro que já foi presente (!?...)

Depois de já tantas notícias que fazem correr tinta na imprensa e, talvez, sangue em muitos corações, sobretudo os dos mais desamparados, não posso deixar de exortar este sentimento, simultaneamente de solidariedade e de revolta, por este Estado a que chegámos.

Em dias de visita papal, com os nossos corações ao alto e as almas tão cabisbaixamente contemplando a desgraça em que estas águas da desdita nos mergulharam, com muitas carpideiras a aproveitarem as gotas de chuva com que o Céu, connosco, também chorou.

Em que se nota que, mesmo acorrentados a esta miséria que nos ensinaram a cultivar o egoísmo de todos e as ambições desmesuradas de muitos, saberemos aguentar muitos "cabos de tormentas", pois esta terra de Santa Maria deu-nos um ADN sócio-humano com que cada um de nós sabe reconhecer-se, resistir e defender. Por isso, todos esses saberão dizer Pátria querida, e relembrar que, em Fátima, se proclamava:

"Ó glória da nossa terra,
Que tens salvado mil vezes,
Enquanto houver Portugueses,
Tu serás o seu amor." (1)

Também me lembro, por tudo isto, daquele outro cântico de exortação colectiva, em que, sem vergonha, sentíamos orgulho de ser portugueses:

" (...)
Cale-se a voz que, turbada,
De si mesma se espanta,
Cesse dos ventos a insânia,
Ante a clara madrugada,
Em nossas almas nascida.
E, por nós, oh! Lusitânia,
-- Corpo de Amor, terra santa --
Pátria! Serás celebrada,
E por nós serás erguida,
Erguida ao alto da Vida!

(...)" (2)
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Foto picada aqui
(1) Retirado daqui
(2) Retirado daqui

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Vamos educar o País para não merecermos governos assim!

Afinal o "Zézito" é maroto, ah?!

Um tanto a contragosto, mas lá vou seguindo a posição do A. Lobo Xavier, na qual me revi e, pasme-se, até me fez relembrar o que já aqui disse, quanto ao golpe constitucional de que o Governo de PSL foi "vítima". Exactamente para permitir o acesso ao Poder destar nova democratura, presidida, executivamente, por uma espécie de pseudo-dirigente que, juntamente com a sua nomenclatura, adopta métodos de sustentabilidade da sua política governativa que já não enganam ninguém. É por estas e por outras equivalentes que, muito socialmente, defendo a extensividade e, ainda mais, o alargamento e a profundidade de uma efectiva CULTURA DEMOCRÁTICA, que começa, institucionalmente, nas instâncias da EDUCAÇÃO.

A. L. Xavier relembrou-me, no quadrado das conversas semanais de hoje, um muito discreto e muito mais ainda grave atentado contra a liberdade de imprensa, com linchamento (ou tentativa de) pessoal e profissional (e quem não sou eu para saber como é!?), presumivelmente tramado pelos alvos (V. I. pessoas) expostos num dos últimos números da então extinta revista mensal "Kapa" (K): após a edição desse número, a revista teve, salvo erro da minha memória, apenas mais alguns números editados. Do ME Cardoso nunca mais emergiram sinais de crítica sócio-política que, diga-se de forma imparcial, tinha algum carisma, sem qualquer prejuízo dos valores e/ ou ideias por ele manifestadas, mas com as quais, subjectivamente, muitos podemos não concordar.

Pessoalmente, desde que tive, pela primeira vez, conversa entre convivas de café (numa terra social e territorialmente pequena) sobre o assunto daquele número em apreço, nunca mais tive descanso no à vontade com que, naturalmente, me relaciono no meio a que pertenço! Nem nunca mais deixei de, profissionalmente, ser perseguido por isso, até à exaustão!!!

Sobre isso, apenas recortei, desse número da revista "K", esta passagem:

(...)

"Aí é que está. A minha geração, o Cesariny, o Virgílio Martinho, o António Luís Forte, eu, o Manuel de Lima, o Manuel de Castro…
.
K: O Gonzalez…
.
Não. Isso já é miséria… Não é por ser mais novo, o Gonzalez é mesmo uma miséria. Não, a nossa geração era muito agressiva, mazinha. Não havia panelinhas… E tanto que nos zangávamos todos uns com os outros. O Cesariny e o Lima de repente detestavam-se. E o António Maria Lisboa zangou-se, o Mário Henrique Leiria zangou-se… Porque essa geração, a do Café Gelo, éramos muito maus uns para os outros. Dizíamos nas caras uns dos outros, escrevíamos coisa uns contra os outros…
.
K: Mas essa geração não teve poder. O Cesariny é hoje consagrado porque tem uma editora que o suporta muito…
.
Não, mas ele tem público.
.
K: Mas não tem poder.
.
Não quer. Ele fez aquelas pinturas, mas isso é para poder gastar umas coroas ali com os meninos do Rossio. Também deve pagar muito caro porque ele está com uma cara!... Outro dia vi o gajo no Tal & Qual com o Mário Soares… Ele já não tinha os dentes desde muito novo, mas agora tirou a dentadura e está com um queixinho de velha, aquilo vai-lhe até ao nariz, coitado… O Mário teve aqui um problema chato por causa de um magala. Depois foi para Paris, onde havia tudo especializado: boites especializadas, tabelas, pensões… E o Cesariny era um poeta dos urinóis. Chegou a Paris, ia com esse hábito e botou a mão à sarda de um homem que estava a mijar – resultado, foi parar à cadeia. O chefe da esquadra perguntou-lhe: «Então como é isso la-bas? E ele disse: «É como cá»; mas não era, porque o chefe da esquadra disse: «Então você tinha para aí tantas pensões para fazer isso, era preciso ir para o urinol deitar a mão à gaita do outro?"

Que conste das minhas memórias, nenhum procedimento jurídico teve lugar contra aquela extinta revista! Possivelmente, qualquer semelhança entre a essência política de episódios desta natureza e o actual cenário político mediatizado não será, certamente, mera coincidência!

Citação retirada aqui (artigo integral aqui referido; para quem nunca o leu, não perca a oportunidade).

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Continuamos com Raúl Brandão, evocando a justiça aristotélica ...!?

Lembro-me de uma sessão de aulas minhas, assistidas pelo Prof. Doutor Joaquim Gomes Dias, coordenador do meu “Projecto de Profissionalização em Serviço”, na Universidade do Minho, correspondente ao 2º Ano do Estágio em Ciências da Educação que, muito bem, a norma impõe (impunha?) a quem entrava para o Quadro de Nomeação Provisória de docência numa escola pública (onde só adquiria o título de Professor quem obtivesse aprovação no dito Estágio, passando então a ser Professor do Quadro de Nomeação Definitiva).

E porque é que, agora, me vem à memória esta sessão lectiva? Certamente não quero, aqui, repeti-la. Nem, tão pouco, esta referência específica à meritocrática titularização docente (a fazer, também, recordar aos actuais pactuadores do regime avalienígena a pertinência de então) vai mais além da simples evocação contextual da questão que, aqui, pretendo parabolizar.

Tão pouco, talvez, queira mostrar algum ressentimento pelas consequências negativas que, subjectivamente, muitos de nós sofremos com este devir de uma carreira profissional que já não o é, pois deixou de ter “carraria”, percurso ou sequência previsional. É das tais estatuições legais que, pouco legalmente (leia-se pouco cobertas pela conformidade à Lei Fundamental que as sustenta), se vêem alteradas pelas conjunturas de interesses que, longe de serem os superiores onde, ainda, achariam alguma sustentação, apenas convergem para a remediação dos males de que alguns se alimentaram, para proveito próprio, mesmo que com isso declarassem estar ao serviço de todos ...!?

E, aqui sim, estamos então no cerne ou núcleo da questão em apreço, e que foi, exactamente, o capítulo da matéria de Introdução à Economia que escolhi, sobre a qual teria de apresentar uma planificação didáctica e pedagogicamente conforme os cânones das ditas Ciências da Educação: o da “Repartição dos Resultados da Produção”, onde, entre outros conceitos, os alunos deveriam aprender os de repartição funcional (salários, juros, lucros e rendas) e repartição pessoal dos rendimentos (equacionalizando as rúbricas componentes do Rendimento Líquido Disponível das famílias), salário directo e indirecto (repartição primária e secundária) ...

Uma das primeiras afirmações que proferi, frente ao referido Professor (para os que não têm uma imagem da cena, está um sujeito, sentado numa das cadeiras do fundo de uma sala de aula, muito discretamente, a tirar apontamentos sobre a forma como um Professor “dá a sua aula”, para a sua posterior avaliação ...), foi esta: “Sabem porque escolhi este tema do vosso Programa? Porque, como já viram no capítulo inicial, esta é uma Disciplina em que, também, se aprende a interpretar e compreender a sociedade (é uma Ciência Social), como não poderia deixar de ser, nesta função educativa da Escola! Neste capítulo, vocês vão poder compreender a razão de fundo de, praticamente, todos os conflitos sociais por que a Humanidade tem passado, independentemente do tempo ou lugar em que ocorrem! É, directa ou indirectamente, o móbil da determinação dos regimes políticos e dos fenómenos que os caracterizam: como e por quem repartir aquilo que a todos diz respeito!?" E, mesmo à margem das indicações programáticas, lá lhes esquematizei, com algum jeito de síntese, um quadro com as concepções aristotélicas de justiça: comutativa (ou particular), distributiva, e social ou legal (ambas públicas ou comuns), apenas para introduzir alguma orientação axiológica aos conceitos programáticos em apreço, já que a sua implicação pedagógica ultrapassa, por natureza e como já referi, o estrito âmbito das obrigações da Disciplina (naquela tal acepção da pedagogia da função docente, não estritamente disciplinar ...)!

Se fosse hoje, levaria para as ditas aulas alguns dos títulos dos jornais, sobre a questão que todos conhecemos, mas talvez convidando, para as mesmas, o Cardeal cá da terra, um Ayatolla, um Íman , o Dalai Lama, o Ministro do Erário Público português e o seu homólogo do Mercado Comum, e dir-lhes-ia estas palavras [1]:

Torna a vida simples e serás feliz. A tua vida não custará gritos; o teu pão não será furtado a bocas famintas. Por cada homem que amontoa oiro, há cem criaturas morrendo no desespero e na aflição.” (Cap. XXII – A Filosofia do Gabiru)

Os pobres são como os rios. Estancam a sede da terra, fazem inchar as raízes e crescer as árvores; acarretam; moem o pão nos moinhos. Ei-la a vida da terra. Todas as catedrais se construíram da sua dor; sem eles a vida pararia.” (…) “Os pobres pensam que existem seres ainda mais pobres, lares desamparados, onde nem o lume se acende; cuidam numa velhinha, que, a essa mesma hora, cisma, abandonada, e sozinha, ao pé de brasas extintas no filho doente, no filho ausente... Há cabanas nuas, lares rotos, almas mais gélidas que o nevão.

As lágrimas que se choram e se não vêem são as melhores: caem sobre a alma.” (Cap. XXV – Natal dos Pobres)” –.



[1] Retiradas de Os Pobres, de Raúl Brandão

sábado, janeiro 09, 2010

Da visão actual sobre a natureza humana

Continuando, ainda, com Ortega y Gasset

Vejo, revejo-me, desvio-me e ... evito simplesmente! Mas não são muitos os temas da vida social que me provocam tantos reparos contraditórios, tal é a confusão gerada pela 'public opinion' formada pelos mecanismos do pensamento correcto, hoje (com mais rigor) já não tão "dominante", mas "homogeneizante", a atestar pela docilidade com que se angariam legitimidades fictícias e virtuais para as pseudo-institucionalizações da reforma dos costumes (?).

Gostei de ouvir o Dr. Garcia Pereira (podendo não concordar em tudo), com um sentido histórico-realista que já não me espanta, ao qualificar o oportunismo com que politicamente se tem apresentado o tema 'fracturante' do "casamento homossexual" e o seu 'derivado' da adopção pelos ditos "casais".

Por mim, apenas digo o que, no essencial, já testemunhei perante alguns dos interlocutores que, há dias, se prestaram a um diálogo aberto, profundo e rigoroso, daí que imparcial e desinteressado sobre este tema actual. Não subscrevo, por outro lado, algumas das teses 'constitucionalistas' da Drª Isabel Moreira, pois com isso se estará a circunscrever um direito natural apriorístico, logo anterior a qualquer constitucionalidade, aos preceitos nesta inscritos, por mais louvável e virtuosa que seja a sua estatuição de direitos aí fundamentais.

Não! Mais uma vez digo não, ao instrumentalizar-se novamente uma questão tão basicamente humana como esta para fins particularistas de eventuais políticas governativas. A questão é, em si mesma, apenas remissível ao bom senso comum a pessoas civilizadas, à sua adequação e integração na consciência cívica de cidadãos livres, e cuja importância não se pode medir pelo poder decretino (a favor ou contra) de quem não vê que, com isso, se usurpa o absoluto natural, que é o da suprema liberdade interior de cada indivíduo.

Remeto-me por isso, mais uma vez, ao que estou há já umas semanas a preparar da obra de Ortega y Gasset, em termos que em muito ultrapassam a esfera da mera recensão. Talvez (mas não só) pelo facto de muito se ter falado do termo "casamento"(1) (que eu acho ser um handicap para os defensores deste novo instituto, eventualmente preferindo aqui a proposta laranja ou, ainda melhor, uma qualquer outra que defina e se ajuste mais pertinentemente à realidade concreta que se pretende defender). E pelo facto de, quer se trate de uma minoria ou não (?...), não se poder remeter a força de uma realidade natural ao poder das opiniões, dos gostos ou ao poder dos decretos:

"(...) A tendência dos homens, quer como soberanos quer como concidadãos, a imporem aos outros como regra de conduta a sua opinião e os seus gostos, está tão energicamente sustentada por alguns dos melhores e alguns dos piores sentimentos inerentes à natureza humana que quase nunca se detém a não ser por lhe faltar poder."(2)

"(...) O latim vulgar está aí nos arquivos, qual petrefacto arrepiante, testemunho de que uma vez a história agonizou sob o império homogéneo da vulgaridade por ter desaparecido a fértil 'variedade de situações' ".(3)
__________________________
(1) Veja-se, por todos os sentidos inscritos nos significados do termo "casamento", o que pode ser antropologicamente entendido como abrangente e pertinente à sua discussão pública.
(2) Gasset, José Ortega y, Rebelião das Massas, Relógio d'Água, pág. 23, Lisboa (citando Stuart Mill, La Liberté).
(3) Idem, pág. 25.

segunda-feira, janeiro 04, 2010

Mirando o Destino, em mais um início de calendário civil ...

Encontros da Música com o Cinema, mediados por vozes celestiais ...!

Mas o que é que a Barbara Streisand terá a ver com o Bill Evans ou o Buster Williams Trio ("Tokudo"), o Miles Davies e ... a "Branca de Neve" do Walt Disney ...?

Nesta procura global na rede mundial de informação ao nosso dispor podemos encontrar destas (pequenas ?) "coincidências". Por aqui serão sempre abençoadas, tanto quanto possam contribuir para o enriquecimento do nosso conhecimento. Sobretudo aquelas coisas que, pelo menos aparentemente, se nos deparam como (semi)encobertas, ou como algo que, por diversas e múltiplas razões (...?), podem ser inconvenientes para muitos dos que não convivem muito bem com a felicidade alheia (...).

No que toca a conhecer algo mais sobre este já antigo tema, veja-se, pelo menos, o título aqui e, para algumas das versões musicais, entre tantas, Dave Brubeck, Bill Evans Trio, ou o próprio Miles Davies.

As escolhas devem preencher todos os gostos. Eu prefiro (talvez) a primeira.

Divirtam-se ... enquanto "ele" (?) não chega!

sábado, janeiro 02, 2010

Volta o dia dois, e depois mais um, e ... sempre assim!...

Recordações que não moram no tempo ...! Recordando este vulto tão pouco falado às gerações de hoje. Mas em que eu faço sempre questão de insistir! è já de mim, do meu próprio ADN, ou da tal "mistura do fundo do saco" com que Deus criou a portugalidade! Afinal, FADO não é só em português, é mesmo bem universal!!!

Avec le temps...

Avec le temps...

Avec le temps, va, tout s'en va

On oublie le visage et l'on oublie la voix

Le coeur, quand ça bat plus, c'est pas la peine d'aller

Chercher plus loin, faut laisser faire et c'est très bien

Avec le temps...

Avec le temps, va, tout s'en va

L'autre qu'on adorait, qu'on cherchait sous la pluie

L'autre qu'on devinait au détour d'un regard

Entre les mots, entre les lignes et sous le fard

D'un serment maquillé qui s'en va faire sa nuit

Avec le temps tout s'évanouit

Avec le temps...

Avec le temps, va, tout s'en va

Mêm' les plus chouett's souv'nirs ça t'as un' de ces gueules

A la Gal'rie j'farfouille dans les rayons d'la mort

Le samedi soir quand la tendresse s'en va tout seule

Avec le temps...

Avec le temps, va, tout s'en va

L'autre à qui l'on croyait pour un rhume, pour un rien

L'autre à qui l'on donnait du vent et des bijoux

Pour qui l'on eût vendu son âme pour quelques sous

Devant quoi l'on s'traînait comme traînent les chiens

Avec le temps, va, tout va bien

Avec le temps...

Avec le temps, va, tout s'en va

On oublie les passions et l'on oublie les voix

Qui vous disaient tout bas les mots des pauvres gens

Ne rentre pas trop tard, surtout ne prends pas froid

Avec le temps...

Avec le temps, va, tout s'en va

Et l'on se sent blanchi comme un cheval fourbu

Et l'on se sent glacé dans un lit de hasard

Et l'on se sent tout seul peut-être mais peinard

Et l'on se sent floué par les années perdues

Alors vraiment

Avec le temps on n'aime plus.

Léo Ferré