domingo, maio 07, 2006

Fiat Lux (Tiradas de Reflexão Pura)

A pandemia dos vírus sociais – ou a social paranóia do parasitismo.

1. Olha para mim, Portugal! Sim, olha, porque sei como olham para ti, e penso como em ti pode acontecer o mesmo que a qualquer um, enquanto cidadão que em ti vive, pensando em nós: tenho reparado nesse “organicismo social”, que te pensa como se fosses esse corpo social em que se querem instalar os que te vêem enfraquecer mas nada fazem por ti, mas em ti querem transformar o seu sonho nessa realidade irrealizável, alimentada pelas fantasias com que em ti constroem as suas utopias. E para isso te querem fraco!
2. Olha para mim, que te quero bem. E por que em ti quero bem, também me atacam os seres da intolerância social, que se agarram às tuas como às minhas fraquezas para se poderem adaptar ao fim único que é a tua degenerescência, única via para dominarem o corpo em que se alojam e de que se alimentam.

3. Mais: na guerra das metamorfoses, em que tais seres iludem aqueles em que se apoiam, como método de descodificação do sistema social que rejeitam (uma espécie de alien social undercover), sobressai essa latente capacidade de mutação virulenta, constituindo a sua arma estratégica mais poderosa, e para a qual não há antídoto conhecido, nem social ou biologicamente eficaz, tal é a implacabilidade com que transformam o corpo que habituaram a pensar na sua regeneração.


4. É por isso que, nesta tendência de degenerescência social, não há regra que se traduza na confrontação dicotómica entre esquerdas e direitas. Não! Mas, nesta saga de lutas pelo corpo social, vejo agora com mais clareza as posições mais ou menos radicalizadas de quem se barrica pelas direitas, tentando encontrar inimizade nos que, já “enfermos” do complexo de esquerda, não conseguem discernir na propaganda da cura ilusória o mal de que se alimentam esses que lhes prometem bem.


5. São estas as consequências das mutações dos vírus, de que a sua correspondente societal também sofre: uma vez atacado o corpo (a sociedade) os anticorpos são os primeiros a agir e, por isso, os primeiros a eliminar ou a iludir pelos seres ‘alienígenas’ que se adaptarão ao alvo (corpo hospedeiro), como se disse, através de mutações necessárias à sobrevivência que, de outra forma, não atingirão. Esta adaptabilidade é, assim, condição indispensável à prossecução dos seus objectivos: sobreviver, mesmo à custa da vida alheia, estando nesta o próprio corpo em que subsiste a sua alienação, procurando finalmente controlá-lo e dominá-lo. Depois desta fase (autêntica convulsão social), o corpo hospedeiro pode atingir o caos e desaparecer. Assim, será transformado num outro ser (sociedade) propícia ao desenvolvimento das pretensões vencedoras (estado de pandemia social).


6. Não podemos deixar de abstrair desta reflexão a eventual vigência de um novo PREC. A confirmar-se será, actualmente, mais subtil do que em qualquer outro período pós-revolucionário, pelo que importará esclarecer as nossas consciências cívicas, já vivenciadas em factos e conjunturas historicamente análogos, através da sublime evocação de uma simples lição de dignidade popular, manifestada em exortações como as que aludem à coragem de enfrentar os que, aparentemente, continuam a iludir-nos:

Todos, que tendes falado por mim,
Apenas vejo o que me mentem
Será por pensarem assim
Que eu vejo o que não sentem?

7. Devo, por tudo quanto nos interessa nesta questão, reler e seguir mais aprofundadamente as lições do meu primeiro mestre na ciência política, a quem desde a leitura do Novíssimo Príncipe, tenho citado com alguma frequência para realçar a fidedignidade das fontes com que sustento as minhas conjecturas e reflexões. Mesmo as que, partindo de inspirações nascidas na inquietude da minha existência social, cedo se revêem nos infortúnios a que a sociedade vai assistindo e que nos espíritos se reflectem.


8. Vou, assim, empreender mais uma revisitação à “Luta escalonada” [1] pelo Poder, e tentar melhor perceber o comportamento desses ‘vírus sociais’ que andam por aí, sediados em tudo quanto são organismos institucionais [2], constituindo uma como que sede real do Poder [3], dado que, mesmo electiva e formalmente emergente num sistema representativo, esta força está socialmente activa em todos os domínios e com uma influência institucional muito acima do valor da sua legítima representatividade eleitoral.


[1] Moreira, Adriano JA, Ciência Política, cap. IV, §3º, Almedina, Coimbra, 1984.
[2] Assinale-se que, por coincidência ou não, é pelas lições do mesmo Professor (AJAM) que comecei a percorrer os caminhos que, na academia, levam ao entendimento e apreensão da importância social do institucionalismo. E, porque também faz parte dos conteúdos que lecciono, não deixa de ser devidamente salientado nos meus ensinamentos.
[3] Moreira, Adriano JA, ob. cit., cap. IV, § 1º.