terça-feira, janeiro 30, 2007

Que ninguém diga Sim, Não, nem muito menos Nim!

Oiço e vejo mais um dos espectáculos mediáticos de discussão pública! Mas gostaria de ver realizada aquela pretensão minha, talvez ilusão, de que há plateias de gente que sabe falar, mas porque primeiro, antes de praguejar e aplaudir, pensa sobre o que sabe ouvir!
Eu que, como muitos, já me cansei, por alguns bons anos, de ver, por exemplo em canais televisivos já acessíveis a muitos, programas de debates em que a participação dos presentes (e não só), por ser serena e ordeira, não perde uma ínfima parte da plenitude por que tanto a mediadora de ontem interveio! E, em abono da verdade se diga, sem querer tomar partido, alguns dos adeptos do Sim manifestaram-se segundo os preceitos de comportamento social característicos dos que não sabem conviver com a diferença de opinião, decisivamente marcantes nos que tentam impôr um raciocínio unidimensional que segue o trilho totalitário dos déspotas esclarecidos!
Mais uma vez, espero pelo meu país! Aqui como noutras instâncias discursivas, espero pelo meu país feito de gente que o mereça! De gente que sabe o que pensa, para medir o que diz e, assim, se sentir bem com o que faz! De gente que só o será quando souber que a sua liberdade só pode ir até onde começam as liberdades dos outros, naquele tal caminho colectivo em que o respeito que me é devido é feito no respeito que eu tenho pelos outros!
Que saudade esta espera me provoca! De ver os mais interessados (o grupo dos potenciais alvos da lei sobre a IVG) a protagonizarem estas representações públicas, de que certamente sobressairiam proféticas mas pertinentes conclusões como:
1. a inevitabilidade do aborto;
2. a necessária reivindicação de condições dignas para a sua realização;
3. a definição de um enquadramento legal não penalizador, observadas, por um lado, as expressões volitivas do agente activo (os progenitores que a tal se propõem) e do agente passivo (de quem, pública ou particularmente, está autorizado a realizar este tipo de operações); e, por outro lado, as responsabilidades advenientes, ou seja, o apuramento das imputabilidades em caso de, podendo ter tomado uma opção, se ter tomado a outra;
E, consequentemente,
4. a reclamação de condições de acolhimento institucional compulsivo, caso uma mulher não esteja, subjectiva e/ ou objectivamente, em condições de assumir a maternidade.
Pois, pior que tudo para os adeptos do Sim, é que muitos portugueses irão, certamente, votar Não à questão que lhes vai ser posta, sendo que também são pelo Sim à pretensão de um quadro legal que não ofenda a dignidade das mulheres em questão!
Assim, talvez ...