sábado, janeiro 09, 2010

Da visão actual sobre a natureza humana

Continuando, ainda, com Ortega y Gasset

Vejo, revejo-me, desvio-me e ... evito simplesmente! Mas não são muitos os temas da vida social que me provocam tantos reparos contraditórios, tal é a confusão gerada pela 'public opinion' formada pelos mecanismos do pensamento correcto, hoje (com mais rigor) já não tão "dominante", mas "homogeneizante", a atestar pela docilidade com que se angariam legitimidades fictícias e virtuais para as pseudo-institucionalizações da reforma dos costumes (?).

Gostei de ouvir o Dr. Garcia Pereira (podendo não concordar em tudo), com um sentido histórico-realista que já não me espanta, ao qualificar o oportunismo com que politicamente se tem apresentado o tema 'fracturante' do "casamento homossexual" e o seu 'derivado' da adopção pelos ditos "casais".

Por mim, apenas digo o que, no essencial, já testemunhei perante alguns dos interlocutores que, há dias, se prestaram a um diálogo aberto, profundo e rigoroso, daí que imparcial e desinteressado sobre este tema actual. Não subscrevo, por outro lado, algumas das teses 'constitucionalistas' da Drª Isabel Moreira, pois com isso se estará a circunscrever um direito natural apriorístico, logo anterior a qualquer constitucionalidade, aos preceitos nesta inscritos, por mais louvável e virtuosa que seja a sua estatuição de direitos aí fundamentais.

Não! Mais uma vez digo não, ao instrumentalizar-se novamente uma questão tão basicamente humana como esta para fins particularistas de eventuais políticas governativas. A questão é, em si mesma, apenas remissível ao bom senso comum a pessoas civilizadas, à sua adequação e integração na consciência cívica de cidadãos livres, e cuja importância não se pode medir pelo poder decretino (a favor ou contra) de quem não vê que, com isso, se usurpa o absoluto natural, que é o da suprema liberdade interior de cada indivíduo.

Remeto-me por isso, mais uma vez, ao que estou há já umas semanas a preparar da obra de Ortega y Gasset, em termos que em muito ultrapassam a esfera da mera recensão. Talvez (mas não só) pelo facto de muito se ter falado do termo "casamento"(1) (que eu acho ser um handicap para os defensores deste novo instituto, eventualmente preferindo aqui a proposta laranja ou, ainda melhor, uma qualquer outra que defina e se ajuste mais pertinentemente à realidade concreta que se pretende defender). E pelo facto de, quer se trate de uma minoria ou não (?...), não se poder remeter a força de uma realidade natural ao poder das opiniões, dos gostos ou ao poder dos decretos:

"(...) A tendência dos homens, quer como soberanos quer como concidadãos, a imporem aos outros como regra de conduta a sua opinião e os seus gostos, está tão energicamente sustentada por alguns dos melhores e alguns dos piores sentimentos inerentes à natureza humana que quase nunca se detém a não ser por lhe faltar poder."(2)

"(...) O latim vulgar está aí nos arquivos, qual petrefacto arrepiante, testemunho de que uma vez a história agonizou sob o império homogéneo da vulgaridade por ter desaparecido a fértil 'variedade de situações' ".(3)
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(1) Veja-se, por todos os sentidos inscritos nos significados do termo "casamento", o que pode ser antropologicamente entendido como abrangente e pertinente à sua discussão pública.
(2) Gasset, José Ortega y, Rebelião das Massas, Relógio d'Água, pág. 23, Lisboa (citando Stuart Mill, La Liberté).
(3) Idem, pág. 25.

segunda-feira, janeiro 04, 2010

Mirando o Destino, em mais um início de calendário civil ...

Encontros da Música com o Cinema, mediados por vozes celestiais ...!

Mas o que é que a Barbara Streisand terá a ver com o Bill Evans ou o Buster Williams Trio ("Tokudo"), o Miles Davies e ... a "Branca de Neve" do Walt Disney ...?

Nesta procura global na rede mundial de informação ao nosso dispor podemos encontrar destas (pequenas ?) "coincidências". Por aqui serão sempre abençoadas, tanto quanto possam contribuir para o enriquecimento do nosso conhecimento. Sobretudo aquelas coisas que, pelo menos aparentemente, se nos deparam como (semi)encobertas, ou como algo que, por diversas e múltiplas razões (...?), podem ser inconvenientes para muitos dos que não convivem muito bem com a felicidade alheia (...).

No que toca a conhecer algo mais sobre este já antigo tema, veja-se, pelo menos, o título aqui e, para algumas das versões musicais, entre tantas, Dave Brubeck, Bill Evans Trio, ou o próprio Miles Davies.

As escolhas devem preencher todos os gostos. Eu prefiro (talvez) a primeira.

Divirtam-se ... enquanto "ele" (?) não chega!

sábado, janeiro 02, 2010

Volta o dia dois, e depois mais um, e ... sempre assim!...

Recordações que não moram no tempo ...! Recordando este vulto tão pouco falado às gerações de hoje. Mas em que eu faço sempre questão de insistir! è já de mim, do meu próprio ADN, ou da tal "mistura do fundo do saco" com que Deus criou a portugalidade! Afinal, FADO não é só em português, é mesmo bem universal!!!

Avec le temps...

Avec le temps...

Avec le temps, va, tout s'en va

On oublie le visage et l'on oublie la voix

Le coeur, quand ça bat plus, c'est pas la peine d'aller

Chercher plus loin, faut laisser faire et c'est très bien

Avec le temps...

Avec le temps, va, tout s'en va

L'autre qu'on adorait, qu'on cherchait sous la pluie

L'autre qu'on devinait au détour d'un regard

Entre les mots, entre les lignes et sous le fard

D'un serment maquillé qui s'en va faire sa nuit

Avec le temps tout s'évanouit

Avec le temps...

Avec le temps, va, tout s'en va

Mêm' les plus chouett's souv'nirs ça t'as un' de ces gueules

A la Gal'rie j'farfouille dans les rayons d'la mort

Le samedi soir quand la tendresse s'en va tout seule

Avec le temps...

Avec le temps, va, tout s'en va

L'autre à qui l'on croyait pour un rhume, pour un rien

L'autre à qui l'on donnait du vent et des bijoux

Pour qui l'on eût vendu son âme pour quelques sous

Devant quoi l'on s'traînait comme traînent les chiens

Avec le temps, va, tout va bien

Avec le temps...

Avec le temps, va, tout s'en va

On oublie les passions et l'on oublie les voix

Qui vous disaient tout bas les mots des pauvres gens

Ne rentre pas trop tard, surtout ne prends pas froid

Avec le temps...

Avec le temps, va, tout s'en va

Et l'on se sent blanchi comme un cheval fourbu

Et l'on se sent glacé dans un lit de hasard

Et l'on se sent tout seul peut-être mais peinard

Et l'on se sent floué par les années perdues

Alors vraiment

Avec le temps on n'aime plus.

Léo Ferré