domingo, novembro 23, 2008

Estou longe de Mim, Cidade!


Pat Metheny & Charlie Haden: "Message to a friend"

Cidade que não me lembra não cabe na memória viva dos dias que vou lamentando! Porque na vida e na memória de cada pessoa há uma "civitatem"! Mas refiro-me a essa cidade que sabe como formar a força de carácter nos indivíduos que a vivem e, assim, nela sabem laborar e desenvolver!
E, porque nela se formam e nela aprendem a amar e a ser, só esses melhor a sabem estimar e defender - eis a base em que se pode fundamentar toda a antítese aos que gostariam de tornar realidade a fantasia de que qualquer indivíduo a quem seja reconhecida cidadania está apto, só por esse facto, a assumir o papel e a desempenhar quaisquer funções de serviço público. Pode, até, haver cidadãos com vocação e competência para algumas das funções públicas, mas se lhes faltar o carácter que só a civilidade pode proporcionar aos indivíduos que nela se formaram e que, por isso, a vivem, essa vocação e essa competência estará sempre incompleta, inacabada, será praticamente inoportuna!

Portanto, cidade que não "alimente" os seus cidadãos com o carácter que é preciso para nela aprenderem a cultivar a comunhão no "Nós" é uma entidade que não merece esse estatuto. Nem os seus habitantes o terão, só por si, a não ser por vias extrínsecas à sua origem. Não foi esse o caminho das civilizações, nem é essa a natureza da polis! Porque é naquele pedaço de força de vontade humana que se reconhece em si mesmo que reside a liberdade de se sentir senhor e servo, servidor e servido, pedaço de um todo a que se pertence e, nessa consciência, se ama - quem não se ama assim não se revê em nada que não seja ele próprio (eis o princípio do egoismo social)!

Ora, de onde agora estou nada há em mim! Nada de mim! Para mim apenas o que consigo de mim, comigo e com pouco(s) mais! Praticamente tudo me é alheio (no que é socialmente relevante), e em muito do que aqui vivo reina a adversidade! Desta forma, mesmo na urbe (exactamente ao contrário do que muitos e muitos pensam) os ramos desviados definham, as vias de civilidade entopem e os fluxos de vida congestionam!

Então, os rostos humanos coram com os protestos e o desespero das almas!
Estou longe de Mim, Cidade!!!

(Cogitadelas, 12)