sexta-feira, março 31, 2006

10 Livros Que Mudaram O Mundo

10 LIVROS QUE MUDARAM O MUNDO
Quando me propus lançar esta rúbrica, não me imaginei a inaugurá-la com a recomendação de uma antologia de textos críticos, baseados noutras tantas obras famosas sobre que versam. É um livro com uma estrutura, pelo menos para os meus horizontes bibliográficos, bastante original, mas não menos rico nos conteúdos. Acima de tudo, cada um dos respectivos temas está estruturado de forma a podermos entendê-los de acordo com os seguintes campos analíticos:


  1. Nota biográfica sobre o autor

  2. Contexto histórico da obra

  3. Impacto da obra na sociedade

  4. Pistas de exploração da obra

  5. Propostas de realização de actividades

  6. Bibliografia

  7. Websites

É com esta simples caracterização que posso apresentar esta bela obra, os “10 Livros que mudaram o mundo”, das edições Quasi. Nela poderemos ver, então, o interesse que mereceu o impacto que obras como O Príncipe, de N. Maquiavel, A Bíblia e o Corão, O Erro de Descartes de A. Damásio, A República de Platão, A Interpretação dos Sonhos de S. Freud, etc., tiveram na sociedade, tanto do seu tempo como , ainda, nos nossos dias.





Que esta leitura sirva, para muitos, de guia para o que se propôs: o entendimento de como estas leituras puderam, de facto, ter mudado algo no Mundo.

quarta-feira, março 29, 2006

Hoje ... de Outros Tempos

▪ Criação, neste dia de 1830, da primeira Escola de Veterinária Portuguesa, em Lisboa, por diploma de D. Miguel. Em 1853 vem a incorporar-se no Instituto Agrícola de Lisboa. Hoje faz parte dos Institutos Superiores que constituem a Universidade Técnica de Lisboa, de cujo espírito eu também tenho memória, porque tive a fortuna de por lá ter passado, nessa acima de tudo antropoescola que é o ISCSP, essa Escola que se faz representar pela armilar (deixada por trás da porta de entrada do bar do Palácio de Burnay …)


▪ Sai publicado, neste dia de 1911, o decreto que, revogando o de 1901, reorganiza os serviços de instrução primária. Cria oficialmente o ensino infantil para os dois sexos, escolas infantis em cada um dos bairros de Lisboa e Porto, em todas as capitais de distrito e nas sedes dos principais concelhos, atribuindo-lhes professoras diplomadas pelas escolas normais. Apesar da legislação que foi sendo publcada, o ensino oficial infantil tardou a aparecer, por falta de verbas.
Quanto ao ensino primário, este decreto declarava-o laico e descentralizado. Em termos organizativos, o ensino primário era distribuído por três graus: o elementar, obrigatório com duração de três anos; o complementar, com duração de dois anos; o superior, com duração de três anos. Destes, só funcionou regularmente o ensino elementar. Este decreto continha, ainda, um conjunto de medidas tendentes à protecção e dignificação do professor primário, como é o caso da concessão de dispensa de serviço (dois meses ao todo), sem perda de vencimento, às professoras durante o último período de gravidez e em seguida ao parto, inspecção sanitária escolar, aumento de vencimento, etc.



▪ Neste dia de 1985 também é inaugurada a Mesquita de Lisboa. A comunidade muçulmana, radicada em Portugal, contaria com cerca de 15 000 membros, sem que houvesse notícia de algum pertencer a organizações terroristas, nem Georges Bush tinha, ainda, os planos estratégicos para ter invadido o Iraque, corolário da 1ª fase de uma neo-feo-dominação imperial.
(Extraído e adaptado da “História de Portugal em Datas, Círculo de Leitores).

Hoje ... de Outros Tempos

Vale a Pena Recordar

▪ Sai publicado, neste dia de 1911, o decreto que, revogando o de 1901, reorganiza os serviços de instrução primária. Cria oficialmente o ensino infantil para os dois sexos, escolas infantis em cada um dos bairros de Lisboa e Porto, em todas as capitais de distrito e nas sedes dos principais concelhos, atribuindo-lhes professoras diplomadas pelas escolas normais. Apesar da legislação que foi sendo publicada, o ensino oficial infantil tardou a aparecer, por falta de verbas.

Quanto ao ensino primário, este decreto declarava-o laico e descentralizado. Em termos organizativos, o ensino primário era distribuído por três graus: o elementar, obrigatório com duração de três anos; o complementar, com duração de dois anos; o superior, com duração de três anos. Destes, só funcionou regularmente o ensino elementar.

Este decreto continha, ainda, um conjunto de medidas tendentes à protecção e dignificação do professor primário, como é o caso da concessão de dispensa de serviço (dois meses ao todo), sem perda de vencimento, às professoras durante o último período de gravidez e em seguida ao parto, inspecção sanitária escolar, aumento de vencimento, etc.

domingo, março 26, 2006

Gharb al-Ândaluz

E como cheguei a este ponto estético? Entre duas vontades expressivas: a da forma e a do conteúdo, sendo que o segundo terá de caber na primeira, cuja construção certamente teve de precedê-lo.





Entretanto, vou lendo alguns excertos da História do Pensamento Filosófico Português, para me inspirar naquilo que, seguramente, é a descrição histórica mais cabal do nosso substrato cultural:

Um exilado na terra do Magrebe
Tem o coração dividido
Entre duas afeições:
Salé tomou uma parte
Évora a outra.
[1]




E, continuando a evocar o fundo da alma com identidade pré-nacional, remeto-nos para o universalismo aristotélico de Ibn al-Sid, no poema:

Ó homem tu és um meio entre dois extremos opostos
Foste composto ao modo de uma forma num hilé
Se resistes à paixão, elevas-te às alturas
Se te submetes a ela desces ao mais baixo.



Oh, nosso belo Gharb al-Ândaluz!


[1] Isa Ibn al-Wakil.

quarta-feira, março 22, 2006

Entre mudas e não mudas... petiscando

Vamos reconstruindo a estética deste blogue, com as ajudas do vento que passa, ou a disposição que se ganha ao mudar de lugar...


Entretanto, foi aqui que se deran algumas das alterações ... ao sabor da boa camaradagem portugalória. Valeu a pena, pois neste local de Barcelos há um pouco do cosmopolitismo da nossa capital ... sem bloquismos, nem comunismos, nem pseudo-democratismos! Apenas o espaço em que se pode divagar, pensando, dialogando, tertuliando ... a escolha é sempre bem temperada com um cadinho p'ra tapar o saco...
E cá vamos nós, continuando a tentar fazer sempre melhor ... Este publicista bem o merce!

terça-feira, março 21, 2006

Chegando a uma conclusão

Não conheci, nem pessoal, gnoseológica ou literariamente, Fernando Gil, mas ouvi notícias que me deixam perceber que Portugal tem menos um vulto das ideias com substracto, quer contextualizadas no universo filosófico, quer como pedagogo universitário.
Na hora em que alguns, como eu, podem , pelo menos em espírito, comungar deste pesar da perda que o país sofre, vou reconstruindo a tal estética desta página, pois aproveito o tempo que nunca é muito.
Entre o escritório de casa e o que "ambulatoriamente" me é possível construir, creio já ter chegado a uma conclusão - apenas poderão vir a ser melhorados aspectos de muito pequeno pormenor, sobretudo quanto à funcionalidade das janelas do 'sidebar'.
Entretanto, até breve, e espero propostas de quem, identificado com o propósito desta página de blogue, se queira inscrever como membro da equipa de colaboradores.

domingo, março 19, 2006

Esperando que tenha valido a pena alterar o aspecto


Meti-me nas linhas de programação dos templates destes blogues, spot.com, que é como quem diz, nas linhas html e/ ou css, do qual eu sou um autêntico ignorante, ... mas meti-me nelas e vi alguma da lógica com que se constroem os elementos que constituem estas páginas. Ainda não consigo fazer muito do que gostaria, mas já consegui evitar a frustração de andar a querer fazer destas coisas e não conseguir.
Confesso o meu afecto pelas cores da Escola e respectiva Universidade, que deu mais ser aos meus horizontes, que ainda querem ser mais enquanto houver vontade para tal. Por isso a "cabeça" deste blogue ficou com essas cores, num fundo cinza de alma enublada, mas onde se poderá ler e escrever, claramente (corpo de texto principal), 'preto no branco'. A margem fica reservada para a massa cinzenta navegante.
Não presisei de nenhum choque tecnológico, nem sequer eléctrico, apesar de na minha última maratona desta construção bloguítica(durante esta madrugada) esta terra, pseudo-patagónica, de gente pacata e serena, ter visto a escuridão durante a parte restante da noite, sem electricidade, o que causou ainda o acionamento de n alarmes cujos proprietários se esqueceram que podem mesmo ser assaltados, sem sirenes nem alarmes, na tranquilidade aparente das suas existências, como se de donos de coisa nenhuma se tratasse, tal é a distância que medeia entre quem tem, quem pode, quem sabe e todos os outros «que aguentem lá com a sirene três ou quatro horas de descanso semanal, que nós ainda temos mais umas horas para estar a curtir a 'night'». "Não há pachorra! Isto só visto" (ver em Os Incríveis).
Assim, espero estar em condições de poder apresentar algumas peças de obra crítica que valham a pena o esforço que dispende quem gosta de comunicar. E espero ter o contributo de mais alguns que queiram fazer-me companhia, neste empreendimento cívico e académico.

quinta-feira, março 16, 2006


Hoje ... de Outros Tempos

Hoje ... vale a pena recordar ("reeditado de Novo Arco Íris"):

Golpes diplomáticos em jeito de iberíades (1), amores que levam à perdição (2), o nosso “tecido empresarial” eternamente pequenês (3), com ou sem Ministérios do trabalho (4), e como uma grande senhora das letras da nossa praça intelectual também hoje preocuparia o PGR (5)
Que,
(1) Neste dia do mês, no ano de 1737, sob a mediação da Inglaterra e da Holanda, Portugal enceta as «Pazes» com a Espanha, através da Convenção dedicada ao incidente com o embaixador português em Madrid, ocorrido dois anos antes: um preso espanhol refugia-se na legação portuguesa em Madrid, o que levou à invasão da casa do embaixador e à prisão de alguns dos criados. Lisboa paga da mesma moeda, tendo como represália invadido a residência do embaixador espanhol e prendido alguns dos seus servidores.Se a crise já era latente, o incidente desencadeou o corte de relações com a Espanha e a ameaça de guerra, que se torna eminente.
(2) Nasce em Lisboa, em 1825, Camilo Castelo Branco. Para o evocar, gostaria de não me reter apenas naquele episódio da sua vida particular com Ana Plácido, mas da importância literária e filosófica da sua obra. Assim, limito.me, humildemente, a reproduzir a nota que segue (retirada do Google):

Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco foi um dos escritores mais profícuos do segundo Romantismo português. Poeta, panfletário, polemista, prefaciador, crítico, tradutor, romancista, dramaturgo, bibliografo, historiador, cultor de todos os géneros, o conjunto da sua obra literária é o mais vasto e diversificado de todo o século dezanove. No romance, género que mais versou (publicou cinquenta e quatro romances), Camilo escreveu na fronteira entre o idealismo romântico (mas já, de certo modo, sob a influência da corrente realista) e a tentativa de alcançar a estética da geração naturalista, primeiro na forma de pastiche estilístico, mais tarde como adesão (embora reactiva) ao movimento de que, no íntimo, desdenhava.Nascido em Lisboa, cedo ficou órfão e passou a viver em Vila Real de Trás-os-Montes com a irmã, mais velha, e uma tia paterna. Depois do casamento da irmã, vai viver com ela para Vilarinho da Samardã onde o irmão do cunhado, o padre António José de Azevedo, o iniciou nos primeiros estudos. A vida aldeã e as recordações de infância perpassam pelas suas narrativas, todas elas, de uma forma ou outra, dotadas de um cunho autobiográfico ou do relato ficcionado de incidentes a que o escritor assistiu ou lhe foram narrados pelos próprios protagonistas.Aos quinze anos casa pela primeira vez, com Joaquina Pereira de França, com quem teve uma filha, logo abandonando as duas, que viriam a morrer pouco tempo depois. Em 1843 matriculou-se na Escola Médica do Porto mas não chegou a concluir os estudos de medicina. Tentou em 1846 frequentar Direito em Coimbra, projecto também gorado por não ter sido admitido na Universidade: desde o ano anterior, Camilo começara a publicar poemas Os Pundunores Desagravados, O Juízo Final e O Sonho do Inferno. De regresso a Vila Real, conhece Patrícia Emília de Barros, com quem foge. Acusado de rapto e desvio de dinheiro, Camilo e Patrícia, que viviam maritalmente, foram presos na Cadeia da Relação do Porto. Desta ligação reultou o nascimento de uma filha, Bernardina Amélia, em 1848.Ainda em 1846, e na sequência da revolta da Maria da Fonte, Camilo terá combatido ao lado da guerrilha miguelista o que, segundo alguns biógrafos, lhe deveu a nomeação para amanuense do Governo Civil em Vila Real, mas fugiu da cidade depois de ter publicado, no jornal portuense O Nacional, duas cartas contra o Governador Civil. Foi viver sozinho para o Porto onde começou a colaborar na imprensa e se revelou polígrafo de escrita rápida, com a publicação da narrativa Maria! Não me mates que sou tua Mãe!, de dois volumes de miscelâneas, de um poema e de uma peça teatral. Em 1850 estava de regresso a Lisboa, onde encetou a sua carreira de polemista com o panfleto O Clero e o Sr. Alexandre Herculano, defendendo o amigo escritor. Neste ano, em que a escrita do romance Anátema e a colaboração em vários jornais – mas também a fundação de alguns outros – marcam a sua dedicação total ao ofício da escrita, conheceu Ana Augusta Plácido, casada com Manuel Pinheiro Alves, mulher fatal, cujo amor impossível quase o levou a abraçar o sacerdócio, tendo solicitado a imposição de Ordens Menores, que lhe foram recusadas devido à vida aventurosa que até então levara. Continua a escrever vertiginosamente, ao mesmo tempo que mantém uma relação adulterina com Ana Plácido. A ligação dos dois foi muito censurada pela sociedade portuense, visto Ana ser casada com um homem respeitado na cidade e ser cunhada de Bernardo Ferreira, filho da famosa Ferreirinha da Régua. Os escritos de Camilo passaram a ser recusados pelos jornais do Porto, deixando-o sem meios de subsistência. Viu-se obrigado a concorrer em 1858 ao cargo de segundo bibliotecário da Biblioteca Pública Municipal do Porto, não conseguindo ser admitido, mesmo contando com a protecção de Alexandre Herculano, que nesse mesmo ano o propôs para sócio correspondente da Academia Real das Ciências, no intuito de reabilitar o nome do amigo.Entretanto, e depois de Ana Plácido ter dado à luz um filho, presumivelmente de Camilo, Pinheiro Alves moveu aos dois amantes um processo de adultério, tendo ambos sido presos na Cadeia da Relação do Porto em 1860. Era a segunda estada de Camilo naquela Prisão: desta vez, já escritor consagrado, recebe visitas do jovem rei D. Pedro V, traduz várias obras de autores estrangeiros e compõe diversos dos seus mais conhecidos romances – Amor de Perdição, Romance dum Homem Rico, Doze Casamentos Felizes. As suas recordações da Relação ficaram fixadas em Memórias do Cárcere, livro no qual dá conta das muitas figuras que ali conheceu, nomeadamente o célebre José do Telhado.Depois da absolvição de Camilo e Ana Plácido, do nascimento do filho Jorge e da morte de Pinheiro Alves – que deixou à mulher uma herança em dinheiro e diversos imóveis – os dois mudam-se para a Quinta de São Miguel de Ceide em 1864, onde lhes nasce o terceiro filho, Nuno. Camilo continua a escrever vertiginosamente – chega a publicar seis romances por ano, para além da colaboração jornalística – e a doença oftálmica, que se tinha declarado anos antes vai piorando.As manifestações de loucura do filho Jorge e as difíceis condições de subsistência obrigam-no, em 1871, a fazer um primeiro leilão da sua biblioteca. Sucedem-se publicações, sobretudo de traduções adaptadas, sem nome do autor original. Em 1879 volta à polémica, desta vez resultante do Cancioneiro Alegre de Poetas Portugueses e Brasileiros, antologia cujas críticas lhe valerão resposta no volume Os críticos do Cancioneiro Alegre. Nesse mesmo ano publica Eusébio Macário que, com A Corja, do ano seguinte e O senhor Ministro, publicado em Narcóticos, constituem uma série de imitações “facetas” do estilo naturalista, então entrado em voga. Num último romance, Vulcões de Lama, de 1886, ridiculariza a escola realista, pondo em cena diversos tipos da sociedade portuguesa da época.Em 1888, depois de vários empenhos, é feito Visconde de Correia Botelho, conseguindo no ano seguinte uma pensão vitalícia para o filho Jorge, cuja loucura era irreversível. Cego, e desenganado dos muitos médicos que o tentaram tratar, suicidou-se em S. Miguel de Ceide no dia 1 de Junho de 1890.
(3) Como me deixa preocupado, este Decreto de 1893, que regulamenta o trabalho feminino e dos menores. A idade legal era fixada em 16 anos para os rapazes e 21 anos para as raparigas. Previa, ainda, a proibição de trabalho durante as quatro semanas posteriores ao parto, assim como a obrigação, para as fábricas que empregassem mais de 50 mulheres, de instalar uma creche a menos de 300 metros da fábrica. Previa-se ainda a possibilidade de as mães se ausentarem do trabalho a fim de amamentarem os filhos.Apesar de muita desta legislação não ter passado de letra morta, mesmo com a fiscalização do seu cumprimento prevista, não só importa como nota histórica de um quadro legal de referência à maior força reivindicativa que, em tempo monárquico, ficou capital do operariado já em crise, como deve fazer inveja aos dias que correm … (lembro-me do noticiado mas já esquecido episódio da srª que, em pleno Parque das Nações guterrista, foi impedida de “dar de mamar” ao seu bebé, por ter sido considerado uma falta de pudor …). Mas, acima de tudo, lembro-me do que nas minhas aulas já tenho dito aos meus alunos, falando de desenvolvimento sócio-humano, quando olhamos para a generalidade das empresas portuguesas e do preceito que, neste então de 1893, tanta inveja deve provocar às nossas mamãs de hoje …. Será que agora já não têm ‘las ganas’ de outrora? Nuestras mujeres estan volvendo locas ó qué pasará com sus ombres?, vuelven marchitables, por supuesto? Não será este mais um dos nossos indicadores de subdesenvolvimento? Cogitando … ma non tropo!
(4) Criação do Ministério do trabalho (e Previdência Social), que alargou os serviços de assistência prestados pelo Estado. Foram criados orgãos próprios destinados a uma prestação mais vasta de serviços, como é o caso dos socorros mútuos, seguros, caixas de pensão e económicas, cooperativas, etc. (ver Nota Histórica no Google, com toda a Génese e Desenvolvimento do Ministério - 1916-2004)
(5) Também para Natália Correia quero deixar falar as notas já historiografadas, porque o fazem muito melhor que eu. Mas não posso, também aqui, deixar passar o facto de, para este vulto do nosso património cultural, terem sido publicamente evocados episódios da vida privada que, certamente para a ética socialmente perfilada, não chegarão para abonar toda a verdade. Lembro-me de uma célebre entrevista à revista “K”, de 1992, em que Luís Pacheco então dizia que “A Natália Correia é uma devassa, vocês ponham isso que ela fica toda zangada, mas ela é uma devassa. Ela meteu-se com uma mulher minha”, antes do entrevistador lhe perguntar (K) “Como explica que em França os surrealistas fossem praticamente homófobos, e o grupo surrealista português tenha uma forte presença homossexual?” Ao que respondeu: (LP) “Não, aqui não havia tantos como isso… ficaram espantados como é que eu de repente aparecia aqui atrás de um magala. Eu era considerado um pai de família, tinha filhos, tinha casa.” (K) “Mas isso é a tradição homossexual portuguesa.” (LP) Sim, isso é para tapar. Casam-se. É o caso da Natália Correia, já vai no 4º marido para tapar, ela não gosta de homens (eu sei lá do que ela gosta ou do que não gosta!). Não, esses casamentos de conveniência para tapar os vícios ocultos, acho que há em todo o lado.” (…)Que quererá, hoje, tal entrevista significar? Que nos resignemos à realidade que não queremos reconhecer? Mais vale ficarmo-nos, por isso, com outras notas, dignas da publicitação que a obra desta autora também merece, sobretudo quando se evoca o dia em que, em 1993, nos deixou.
NATÁLIA CORREIA


[Fajã de Baixo (São Miguel, Açores), 1923 - Lisboa, 1993
Nascida na Fajã de Baixo (Ilha de São Miguel, Açores) em 13 de Setembro de 1923, Natália de Oliveira Correia – que se estabeleceu em Lisboa com a mãe e a irmã aos onze anos, quando o pai emigrou para o Brasil – foi uma das personalidades mais destacadas da literatura portuguesa das últimas décadas. Notabilizada através de diversas vertentes do ofício da escrita (foi poeta, dramaturga, romancista, ensaísta, tradutora, jornalista, guionista e editora), tornou-se conhecida na imprensa escrita e, sobretudo, na televisão, em programas como «Mátria», no qual exprimia uma forma especial de feminismo – afastado do conceito tradicional do movimento e que mais correctamente se poderia intitular «feminilidade portuguesa» – o matricismo, identificador da mulher como matriz primordial e arquétipo da liberdade erótica e passional; mais tarde, à noção de Pátria e de Mátria acrescenta a de Frátria.Natália dava largas ao seu invulgar talento oratório – a que não era estranha a coragem combativa que a moveu em vários momentos de intervenção política pública – nas suas polémicas intervenções parlamentares enquanto deputada (1980-1991) e nas tertúlias artísticas: primeiro em sua casa, mais tarde no bar Botequim, que fundou em 1971 com Isabel Meireles, Júlia Marenha e Helena Roseta, e onde durante os anos setenta e oitenta do século XX se reuniu grande parte da intelectualidade portuguesa – foi amiga de António Sérgio (esteve associada ao Movimento da Filosofia Portuguesa), Cruzeiro Seixas, David Mourão-Ferreira (“a irmã que nunca tive”), Mário Soares, Urbano Tavares Rodrigues, José-Augusto França (“a mais linda mulher de Lisboa”), Manuel de Lima, Luiz Pacheco (“esta hierofântide do século XX”), Mário Cesariny, Almada Negreiros, Eugénio de Andrade, Ary dos Santos, Fernanda de Castro... – e muitos escritores estrangeiros – Henry Miller, Henri Michaux, Graham Green, Ionesco... Em diversas ocasiões tomou parte activa nos movimentos de oposição anti-fascista, tendo participado no MUD (Movimento de Unidade Democrática, 1945), no apoio às candidaturas para a Presidência da República do General Norton de Matos (1949) e de Humberto Delgado (1958) e na CEUD (Comissão Eleitoral de Unidade Democrática, 1969). Durante a ditatura foi condenada a três anos de prisão, com pena suspensa, pela publicação de uma Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica (1966) e processada pela responsabilidade editorial das Novas Cartas Portuguesas de Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta nos Estúdios Cor, de que foi directora literária; foi também responsável pela coordenação da Editora Arcádia.Na linha de Teixeira de Pascoaes, Natália Correia defendia «a poesia como profecia» e «o poeta como profeta». Mais do que saudosista, a sua forte ligação às ilhas atlânticas (sobretudo à sua S. Miguel natal) e ao seu maior poeta, Antero de Quental, era de permanente paixão, tendo mesmo, depois da revolução de 25 de Abril de 1974, apoiado a Frente de Libertação Açoriana e escrito a letra para o hino dos Açores. Após a Revolução foi, ainda, directora das publicações Século-Hoje e Vida Mundial, e consultora para os Assuntos Culturais Internos da Secretaria de Estado da Cultura (1977), tutelada por David Mourão-Ferreira. Em 1992, liderou a criação da Frente Nacional para a Defesa da Cultura, acompanhada, entre outros, por José Saramago, Urbano Tavares Rodrigues e Manuel da Fonseca.O seu primeiro romance, uma narrativa infantil, Grandes Aventuras de um Pequeno Herói, surgiu em 1946. Nesse mesmo ano começa a escrever poesia. Pela vida fora publicou numerosos livros, datando o último do ano da sua morte, O Sol nas Noites e o Luar nos Dias, a reunião da sua poesia completa, que inclui todos os livros publicados e muitos poemas inéditos.Natália Correia, cuja escrita alguns críticos classificaram como surrealista, outros como barroca e outros, ainda, como romântica (entre todas, a classificação preferida pela própria), foi na verdade uma escritora cuja originalidade e versatilidade não podem ser compartimentadas em qualquer escola literária. Estudiosa do Cancioneiro Medieval, e adaptadora para português moderno dos Cantares dos Trovadores Galego-Portugueses, organizou uma Antologia da Poesia do Período Barroco; em ambos os períodos literários buscou inspiração, mas não deixou de introduzir nos poemas da sua lavra um singular talento e uma peculiar expressão poética, a que não é alheia a hábil utilização de figuras de estilo como a metáfora, os paralelismos e as repetições. Por outro lado, a ironia e o sarcasmo, as associações fónicas e imagéticas, aproximam-na do surrealismo, sem que a sua poesia deixe de ter um toque de originalidade que não pode sofrer comparação com outras expressões do movimento surrealista português. Natália Correia foi um desses seres, frequentes no nosso país, que se adiantam ao tempo em que vivem para anunciar, antecipar, novas expressões culturais. Reencontrou os grandes mitos portugueses, que nos seus trabalhos se transformaram em arquétipos recorrentes: os mitos do Andrógino (o ser completo, uno e plural), do Desejado (que simboliza a resistência, a esperança em tempos melhores), a história de Pedro e Inês (símbolos da paixão, da volúpia na morte), o espaço sagrado e iniciático da Ilha, com os seus enigmas por resolver. Toda a sua criatividade lhes estava dirigida: reformulando-os, dedicou obras próprias a cada um desses mitos, símbolos e arquétipos, conferindo-lhes uma dimensão de futuro, de liberdade, de natalidade, de portugalidade sentida. A esta faceta não deve ser alheia a sua experiência vivencial nos Estados Unidos da América, enquanto esteve casada em segundas núpcias com o norte americano William Creighton Hyler. Ali escreveu o livro de crónicas Descobri que era Europeia.Em 1962, Natália Correia conhece um jovem poeta e cineasta que se apaixona por ela, Dórdio Guimarães, com quem estabelece uma longa amizade. Viúva do terceiro marido, Alfredo Machado, casa-se com Dórdio em Março de 1990. Natália Correia recebeu, em 1991, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores pelo livro Sonetos Românticos. No mesmo ano foi-lhe atribuída a Ordem da Liberdade; era já detentora da Ordem de Santiago. Faleceu em Lisboa, em 16 de Março de 1993. O seu espólio literário, constante de muitos volumes éditos, inéditos, documentos biográficos, iconografia e correspondência, foi arrolado sob orientação da sua grande amiga Helena Roseta e está a ser tratado por uma equipa de especialistas da Biblioteca Nacional de Lisboa para depois ser partilhado entre a Biblioteca Nacional e o Governo Regional dos Açores, conforme as disposições testamentárias de Natália Correia e de Dórdio Guimarães. Os volumes constantes das suas bibliotecas ficaram integralmente na posse do Governo Regional dos Açores, onde estão a ser catalogados pela Biblioteca de Ponta Delgada.

quarta-feira, março 15, 2006

Cogitadelas 15

Contemplando, ... uma noite com a Lua cheia

Que vai alta e plena de luz, sem perder pitadada do que a face da Terra para si não oculta não esconde, a não ser nos meandros que os acidentes, naturais e/ ou humanos desenham nos quotidianos por que todos vamos navegando, passando sem velas de vento que não se sente, e por isso não se vai como deveria ir, ou vai como não devia ir, como não devia ser, quando e onde não devia estar, e ninguém deveria ser obrigado a tal quando já é alguém que passou onde devia, quando é o que tem de ser, à luz seja de quem for ...!
Acabadinha de tirar
Oh lua que, tão alta vais, será que ninguém te ouve quando te vê, para ti olha e não te sente? Claro, há sempre alguém que te vê, te cheira e contempla, ouvindo a música que passa no teu lento passeio à luz das estrelas, que parecem invejar-te tão clara intimidade, no límpido que é esse lampejo prateante do teu olhar!
E por que será que outros se escondem, mas nem por isso deixam de te querer ver?
Ao jeito dos paparazzi, ainda a noite começava
Será de vergonha ou de medo? Ou apenas hesitam em se expôr ao teu luar, para não mostrarem a face que ocultam à tua luz? Oh, Lua, que tão alta vais, tão plena de luz, sem perder pitada do que aqui vai, conta-nos um pouco do que sabes ver, que não deve ser pouco, de ti também precisamos para esclarecer o que não vemos, sem a tua luz que também não somos!
Oh Lua, como para nós podes ser tão bela?

terça-feira, março 14, 2006

Construindo modestamente esta Página ...

Vale a pena trabalhar um pouco para melhorar, também, a estética desta Pàgina. E assim ..., esperando, ... até lá ..., até logo!
Esta coisa de construir blogues, para quem não possui conhecimentos específicos na matéria torna-se um empreendimento enfadonho, relativamente imperfeito, constantemente problemático e, pior que tudo, quando disfunciona, é uma potencial frustação!
Por isso, "deixem-me trabalhar", para meu regozijo e proveito de todos. Assim que estiver em condições de se apresentar como gostaríamos de aparecer.
Assim, parando um pouco, ... !

segunda-feira, março 13, 2006

Começar Um Jornal de Ideias

Apresentação

Começo esta apresentação com uma evocação à data de hoje (relativamente a 10 de Março), que é a do aparecimento, em Coimbra de 1927, dessa "folha de arte e crítica" chamada Presença, de José Régio e outros. E, porque também nela se expressaram autores de uma pluralidade de correntes de pensamento, que tentaram acompanhar "o tempo que passa" na sua época, igualmente se pretende que este espaço bloguista se traduza numa dessas pluralidades de expressões, numa como que convergência de esforços que marquem uma atitude intelectual que não se reveja na "autoflagelação, ou na ironia perfurante dos que se excluem da censura das coisas pátrias, como se lhes fossem estranhos" [1].






Porque também é espaço para outros que, como nós, sabem articular "o seu labor intelectual às exigências históricas e sociais da sua época, traduzindo um sentimento de responsabilidade quanto à reforma do país, nessa postura que enlaça as ideias com os dramas da existência, relativamente aos indivíduos em particular ou à comunidade em que se integram, implicando análises tanto dos imperativos de ordem lógica como dos condicionalismos de ordem sociológica" [2].


É neste contexto de referência histórico-bilbiográfica que auto-reclamo a identificação do nome deste espaço de trabalho com aquele grupo dos nossos filósofos de vertente publicista, como foram António Sérgio, Raul Proença, Leonardo Coimbra e, sobretudo, Sampaio Bruno. Com eles "a filosofia «desce» aos jornais e às revistas culturais e, portanto, à intervenção mais directa, no âmbito do que se considera serem as exigências políticas e sociais da época" [3], sempre numa perspectiva da acção orientada pela interculturalidade e, por isso, assente na abertura aos valores universais.



Não podendo deixar de me referir ao autor de cuja obra retiro esta nota, concluo, com ele, que "o que deve preocupar-nos numa primeira instância é a exigência de conhecimento, comprometida com a análise tão criteriosa quanto possível do pensamento filosófico dos que estiveram, estão e estarão ligados a Portugal, sendo então possível falar de identidade, numa linha de autognose" [4].





[1] CALAFATE, Pedro, História do Pensamento Filosófico Português (dir.), cap. de Apresentação da obra, vol. I, ed. Círculo de Leitores, 2002, pp. 11-15.
[2] Idem, ob. cit., com adaptações ao texto da pág. 12.
[3] Idem, pág. 14.
[4] Idem, pãg. 15.

sexta-feira, março 10, 2006


Cogitadelas 14

E porque esta estrada é larga,

As vias são várias e a ânima não é pequena, talves seja altura de clarificar estas "águas blogueiras", que é como quem diz "vamos lá a separar a trigo do joio", para se poder perceber melhor o que é do pensamento sobre o que se vai vivendo, em si mesmo

(as "Cogitadelas"), ficando com os Cogitando

o que é da razão crítica e do pensamento sistematizado,

("Fiat Lux"), para onde transitam as Tiradas de Reflexão Pura

o que é da expressão "liberdadeira" e plural da cidadania, a começar pelos mais jovens,
("Novo Arco Íris"), para onde transitam as La Pensée du Jour

e, mais recentemente, esse desejo de criar um espaço de participação na crítica social à luz do pensamento filosófico , tanto quanto possível, caracteristicamente português,

(o "Publicista"), para onde transita O Republicanário

Mas certamente que, porque não se advogam, em princípio, quaisquer exclusivismos, também nestes espaços haverá lugar à interpenetração de ideias e expressões. Só assim se conseguirá, cremos, uma abrangência na integralidade da utilização que fazemos deste meio tão profícuo que é o da blogosfera e, acima de tudo, das vontades efectivas de participação civilizante.
Vamos, para tanto, cogitando um pouco mais profundamente!
(Já revogado, por todos os títulos terem transitado para o "Publicista")

Fiat Lux (tiradas de Reflexão Pura)

As letras de Deus

(Reedição de Fiat Lux) Sexta-feira, Março 10, 2006

E porque hoje, depois de um memorial dirigido ao aparecimento do heterónimo Alberto Caeiro, é dia de recordarmos uma das publicações de uma geração notável de pensadores da nossa res publicae, a Presença, já em vésperas de e durante a sua convivência com a era autoritarista salazareira, vem-me à ideia, inspirada num momento de conselho paternal a um dos meus rapazes, que a liberdade natural não coindide com a da nossa razão, sendo a primeira resultado de uma lógica infinitamente superior à nossa, mas que esta, mesmo assim, a alcança. E apercebemo-nos nesse momento que esse inatingível se entende através de uma sujeição, primeiramente pela disciplina orgânica do corpo que nos transporta a mente, depois pela ratificação que os benefícios dessa sujeição capitalizam, que é dizer a confirmação, pela razão, que a liberdade primeira começa pela nossa submissão a um dever de obediência, ou então não estaremos em condições existenciais de podermos usufruir da liberdade que a Natureza (Deus) suporta.





Emanuel (primeiro o de Nazaré, depois o Kant) tem razão, e por isso Jesus não é só Cristo, nem só nosso, Buda também é de todos, Maomé "foi à montanha" e Khrishna poderia ter sido um dos principais mestres de Fernando Pessoa, ao lermos "Há Metafísica Bastante Em Não Pensar Em Nada".


E, porque não pretendo ser metafísico necessário, deixo o pensamento suficiente para alcançarmos o estado de alma que não pensa, a não ser pelo sentimento que se tem quando não a temos no pensamento!

quinta-feira, março 09, 2006

'Blogues' de outros tempos

Assim se divulgava, em 1927, o pensamento e a crítica (ou os blogues de outras eras).
(Reeditado do "Novo Arco Íris"))

10 de Março de 1927. Aparecimento da revista Presença, "folha de arte e crítica" fundada, em Coimbra, por José Régio, João Gaspar Simões, Branquinho da Fonseca e Edmundo de Bettencourt.


A Revista «Presença»
A revista «Presença» foi lançada em Coimbra em 1927. Dela saíram 54 números. José Régio foi um dos principais fundadores e permaneceu à frente do projecto até à sua extinção, em 1940. Este movimento, habitualmente designado por 2.º Modernismo, divulgou nas páginas da sua revista os autores do 1.º Modernismo: Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros. Muitos nomes de diferentes quadrantes estético-literários colaboraram com a «Presença», nomeadamente Miguel Torga, Vitorino Nemésio, João Gaspar Simões (entre outros). Contudo, as ideias que prevaleceram na literatura (e na arte em geral) valorizaram a dimensão psicológica.É interessante saber que a poesia de alguns presencistas esteve na base dos textos e das composições do Fado de Coimbra e do Fado cantado por Amália Rodrigues.
(retirado de Google.pt e do Portal da história)

Letras do Pensamento

Quinta-feira, Março 09, 2006
(Reedição de Fiat Lux)


+ 1 evocação do mestre Caeiro

Alberto Caeiro


V - Há Metafísica Bastante em Não Pensar em Nada

Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu do mundo? Sei lá o que penso do mundo! Se eu adoecesse pensaria nisso.Que idéia tenho eu das cousas? Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos? Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma E sobre a criação do Mundo?Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos E não pensar. É correr as cortinas Da minha janela (mas ela não tem cortinas).O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério! O único mistério é haver quem pense no mistério. Quem está ao sol e fecha os olhos, Começa a não saber o que é o sol E a pensar muitas cousas cheias de calor. Mas abre os olhos e vê o sol, E já não pode pensar em nada, Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos De todos os filósofos e de todos os poetas. A luz do sol não sabe o que faz E por isso não erra e é comum e boa.Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores? A de serem verdes e copadas e de terem ramos E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar, A nós, que não sabemos dar por elas. Mas que melhor metafísica que a delas, Que é a de não saber para que vivem Nem saber que o não sabem?"Constituição íntima das cousas"... "Sentido íntimo do Universo"... Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada. É incrível que se possa pensar em cousas dessas. É como pensar em razões e fins Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.Pensar no sentido íntimo das cousas É acrescentado, como pensar na saúde Ou levar um copo à água das fontes.O único sentido íntimo das cousas É elas não terem sentido íntimo nenhum. Não acredito em Deus porque nunca o vi. Se ele quisesse que eu acreditasse nele, Sem dúvida que viria falar comigo E entraria pela minha porta dentro Dizendo-me, Aqui estou!(Isto é talvez ridículo aos ouvidos De quem, por não saber o que é olhar para as cousas, Não compreende quem fala delas Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)Mas se Deus é as flores e as árvores E os montes e sol e o luar, Então acredito nele, Então acredito nele a toda a hora, E a minha vida é toda uma oração e uma missa, E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.Mas se Deus é as árvores e as flores E os montes e o luar e o sol, Para que lhe chamo eu Deus? Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar; Porque, se ele se fez, para eu o ver, Sol e luar e flores e árvores e montes, Se ele me aparece como sendo árvores e montes E luar e sol e flores, É que ele quer que eu o conheça Como árvores e montes e flores e luar e sol.E por isso eu obedeço-lhe, (Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?). Obedeço-lhe a viver, espontaneamente, Como quem abre os olhos e vê, E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes, E amo-o sem pensar nele, E penso-o vendo e ouvindo, E ando com ele a toda a hora.

quarta-feira, março 08, 2006

Hoje ... de Outros Tempos

Por causa do dia de hoje
(Reeditado do "Novo Arco Íris")

Mulher, ... Sempre! Ou como a evolução da espécie humana ainda criará o Dia Internacional do Homem (por sinal, no mesmo mês, a 19 de Março?)!

Como sinto algo de sombrio sempre que oiço falar de dias internacionais, sobretudo quando evocam o que nem devia ser evocado, porque não há fundamentos para evocar o que nunca careceu de ser evocado! Mulher é, independentemente de quem ou do que quer que seja que digam, como eu sou, assim como qualquer um de nós é. E para o sermos também não carecemos que nos evoquem! Nem, creio, gostaríamos que nos atribuissem um dia em que todos parecem nos querer evocar, num como que sentimento de pena ou pretensa compensação pós-operatória.

Por isso, prefiro evocar, neste dia de 8 de Março (embora já o esteja a fazer no começo do dia seguinte), Fernando Pessoa, quando, com o Guardador de Rebanhos, cria o seu heterónimo Alberto Caeiro.

O GUARDADOR DE REBANHOS
1
Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janella.
Mas a minha tristeza é socego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ella dar por isso.
Como um ruido de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que elles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.
Pensar incommóda como andar á chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos.
Ser poeta não é uma ambição minha.
E´ a minha maneira de estar sòsinho.
E se desejo ás vezes,
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
E´ só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silencio pela herva fóra.
Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mimNo cimo d´um outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéas,
Ou olhando para as minhas idéas e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não comprehende o que se diz
E quer fingir que comprehende.
Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapeu largo
Quando me vêem á minha porta
Mal a diligencia levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé dúma janella aberta
Uma cadeira predilecta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou cousa natural -
Por exemplo, a arvore antiga
A´ sombra da qual creanças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.
8 - 03 – 1914
(Retirado do Google.pt)

terça-feira, março 07, 2006

domingo, março 05, 2006

Hoje ... de Outrosa Tempos

Vale a Pena Recordar (5/3/06)

A título experimental, lanço uma primeira edição do que pode vir a ser esta rúbrica.


De entre as várias referências a esta data, merecem especial destaque as seguintes:
5 de Março
- de 1827. Alessandro Volta, cientista italiano inventor da pilha, descobridor do metano, morre. A unidade de medida da tensão eléctrica - o «volt» - foi assim nomeada devido aos seus estudos na tentativa de encontrar uma unidade de medida da electricidade de valor universal.
- de 1917. Manuel de Arriaga, primeiro Presidente da República, morre.
- de 1922. Estreia do filme de Friedrich Wilhelm Murnau Nosferatu.- de 1931. Gandhi aceita pôr fim à campanha de desobediência civil na Índia, dominada pela Grã-Bretanha.
- de 1933. O partido nazi ganha as eleições legislativas na Alemanha.
(Retirado do Portazl da História)
De entre todos estes eventos a que podem aceder todos quantos “naveguem” à procura de eventos históricos significativos, serão certamente de realçar o papel de Gandhi na independência da Índia, contrastante com a vitória eleitoral do partido nazi para as legislativas alemãs, através da qual Hitler acedeu, democraticamente, ao poder, mas que não viria a traduzir-se na forma como o exerceu.


E, mais uma vez, embora não se confirme que a História dá sempre as mesmas voltas, sem proclamarmos o seu fim, podemos comensurar as distâncias (equi ?) que separam o aludido episódio com as constantes fugas às promessas eleitorais de quem só se lembra da democracia para aceder ao poder, facilmente dela se esquecendo quando o exerce, que é dizer quase nunca em nome do povo.


Mas, talvez, a lição maior deste dia deverá atribuir-se ao apóstolo da não-vilência Mohandas Karamchand Gandhi, ao pôr fim à campanha de desobediência civil na Índia, onde e quando ainda não Blocos, de esquerda ou de direita, para impor novas doutrinas sobre o que já havia séculos se tinha aprendido, mas que Gandhi sublimou ao trazer para a política a religião fundadora dos valores com que lutou, dando assim o exemplo, por mais uma razão, de que o laicismo bloqueiro, troykista ou outro, axiologicamente xenófobo, não tem eco na História, será mais uma invençãos das de fazer inveja a Aldous Huxley, para a produção de comportamentos politicamente correctos, sinistramente alinhados.

sábado, março 04, 2006

Hoje ... de Outros Tempos

Vale a Pena Recordar

Será uma rúbrica que assinala os a contecimentos históricos que, em cada dia do ano, merecem ser recordados, pelo menos sempre que a natureza desses eventos possa ser contextualizada com o que de mais crítico se obseve no quotidiano actual, nacional ou internacionalmente digno de nota.

Assim, lanço mais um desafio aos que, de facto, se quiserem juntar a este grupo de cidadãos intervenientes.
Dica: O formato da rúbrica poderá seguir, a título de exemplo, o tratamento sintético dos respectivos conteúdos dentro de uma metodologia do tipo histórico-comparativo, em que dados factos sejam considerados representativos para a análise sócio-histórica dos nossos dias.
Há por aí muitas fontes de informação sobre o assunto. Passando a publicidade, vejam-se no Google as referências bibliográficas (Mestre Carlos Rebelo, J Hermano Saraiva, Portal da História, etc.).

Horizontes Académicos

A Indiferença

O que é mais comum que a indiferença?

Que, sem melhor prova, é muito maior do que uma simples observação (1) da realidade que nos rodeia pode parecer, sobretudo quando sentida no mais quotidiano dos seus pormenores – a paisagem real da sociedade (2): quem a determina, porquê, e de que forma é que, directa ou indirectamente, participamos nessa determinação?São questões que, em época de uma necessária revitalização da participação democrática (3) (diga-se da reedificação do estatuto civilizacional da cidadania (4)), tornam-se tanto mais pertinentes quanto menos interesse aparenta ter a manifesta apatia (5) quase generalizada das pessoas que nos rodeiam.

(1 a 5 - conceitos a desenvolver no contexto do tema proposto)

A Indiferença

A Indiferença

O que é mais comum que a indiferença?

Que, sem melhor prova, é muito maior do que uma simples observação (1) da realidade que nos rodeia pode parecer, sobretudo quando sentida no mais quotidiano dos seus pormenores – a paisagem real da sociedade (2): quem a determina, porquê, e de que forma é que, directa ou indirectamente, participamos nessa determinação?São questões que, em época de uma necessária revitalização da participação democrática (3) (diga-se da reedificação do estatuto civilizacional da cidadania (4)), tornam-se tanto mais pertinentes quanto menos interesse aparenta ter a manifesta apatia (5) quase generalizada das pessoas que nos rodeiam.

(1 a 5 - conceitos a desenvolver no contexto do tema proposto)

sexta-feira, março 03, 2006

Horizontes Académicos

Cinema na blogoesfera

E que tal uma notas dignas sobre a importância do papel da cinematografia actual na sociedade (em Portugal e noutros, se essa for uma realidade sociologicamente diferencial)? Por isso deixo este apelo a todos quantos já acedem a este “local de trabalho” para, tomando como base, e a título de exemplo, a revista “Première” (passo a publicidade), exercerem essa crítica de forma producente e profícua, ou seja, construtivamente.Gostaria que o meu querido amigo JV Mendes pudesse colaborar neste espaço. Vou tentar convencê-lo, pelo menos a deixar-vos algumas orientações úteis.
Prof. JRC