sábado, março 17, 2007

Sobre este medo que me invade ...

Olho lá para fora. Já não tão relevantemente para as notícias publicizadas, nem para as da netosfera. Apenas me provoca angústia a monstruosidade dos poderes com que me sinto administrado, nesta polis em que quero ser cidadão civilizado, mesmo com o meu capital de culpas obrigacionais, mais morais (penso que ainda tenho consciência disso) que legais. O que me provoca medo, daquele tipo terrificador! Não há pachorra!
É assim que, nesta semana em que lá tive, mais uma vez, de telefonar para a EDP para me anularem uma factura mal processada (estava a pagar, duplamente, sabe-se lá por quantos meses isso já vai, a Contribuição audio-visual ...!), entre a tal baixa médica e o meu compromisso para com alunos, sem ter tido, felizmente, de estar muito tempo em filas para a entrega das declarações do IRS, me vejo, cá dentro da minh' alma atormentada por esta melancolia das existenciais falsas liberdades, a braços com o neo-perfectorismo dos "professores titulares".
A este respeito, apesar de já ter lido algumas, nos jornais, nos portais da educação e, muito, neste ciberespaço que é a blogosesfera, não poderia deixar de me chamar a atenção o estilo provocador, mas realista, deste artigo de um Blogue que passo a recomendar aos mais liberdadeiros cibernautas: "Tati".
"PROFESSOR TITULAR

Senhores Professores, (des)animem – do envelhecido caldo de elite virá à tona a mais fina nata. Alva e cremosa. Adocicada pelo (des)mérito final, um tudo nada acre pelos pingos de limão de muitos anos de empenho enjeitado. Os melhores dos melhores. Todos juntos formando uma espécie de senado. Quase trôpego, é certo. Turvo pelas mais que certas cataratas, frágil devido a bafos suspeitos no coração, de fala arranhada e ouvido minguado. Mãos e braços limitados por epicondilites no ombro, no cotovelo, no pulso, em tudo o que deveria ser articulado. Por via de anos de apagador e giz em riste, há atrito dorido entre os ossos, outrora biologicamente oleados. Senado de senex, velho, idoso. Assembleia de notáveis. Aos futuros senadores escolares chamam-lhe Professores Titulares. Dos professores, a suposta nata. Julgá-la obtida a partir da massa espessa que sobrenada no leite fresco, é engano. Cruel. Mas engano.

Os doutos Titulares são o último patamar da carreira docente. Dificilmente lá chega a plebe que se esmifra a encasquetar conceitos em mentes transbordantes de playstation, exigências, internet, sms, abandono e toques polifónicos. Uns desgraçados entupidos de todo. Mais desgraçado só o canalizador/professor que é suposto abrir brechas por onde circulem ideias correntes e se arrisca a levar como extra ao pré uns tabefes. Uns e outros dispostos a mandarem-se mutuamente a sítios pouco recomendáveis. De vez em quando, a paixão acontece - são os «cromos» se alunos, os «tansos» se professores. Os primeiros gozados à fartazana pela malandragem encartada, os segundos engolindo o amor mal saídos da aula, não vá alguém apelidá-los de carreiristas safardanas.

Para chegar a Professor Titular somente interessa o feito e os cargos ocupados desde 1999. Pode, até aí, ter sido o maioral dos baldas, ter aniquilado vocações aos milhares, ser dos incompetentes o rei. Tudo o tempo levou se da referida data para cá somar os pontos estipulados. Do mesmo modo, o esmero e amor pela profissão e pelos alunos, assiduidade sem mácula, desempenho dos mais altos cargos docentes são inúteis se após o final do século sobreveio o cansaço pelos serviços burocratas e/ou maleita física inesperada. Professor Titular. Entre pares: um sortudo!"