segunda-feira, março 31, 2008

Temos precedente Carolina Micaelis?

"Se Vossa Excelência, Sr. Presidente, viesse cá almoçar mais vezes ..."

Como eu gostava de ser ouvido, Sr. Presidente!

Volto a escrever ao som de Adriano!

Depois de ler mais um artigo de opinião (que subscrevo e exorto), agora pela excelente pena de Mário Crespo, não posso deixar de clamar por JUSTIÇA: há mais ou menos 10 anos que sou, sistemática e ostracivamente, perseguido e linchado (moral e profissionalmente) nesta Escola onde professo, pelos mais kafkianos e pseudo-maquiavélicos ardis de gente sem escrúpulos, bem 'sentados à mesa' do poder que querem (e têm conseguido) manter. Para quê? Para gerirem os seus eventuais interesses de grupo sócio-profissional, à revelia e ao arrepio de alunos e professores não-alinhados.

Já vou no quarto processo disciplinar por culpas inventariadas, tanto por alunos manobrados, como por outros tantos professores cúmplices e/ ou coniventes com o esquema.

Do primeiro, resultou o arquivamento, talvez perla excelente intervenção de um advogado do Sindicato, não sem que esse advogado dissesse, em alegações finais, que quem deveria estar sentado no banco dos arguidos fosse a própria Administração escolar ...!

Nos três seguintes, fui condenado a um mês de suspensão com perda de vencimento (2º processo), e a multa de 400 euros (3º e 4º processos).

E por que factos fui condenado? Sempre por se alegar conduta imprópria para com alunos, na maioria das alíneas, e mesmo por falta de respeito para com colegas e, até, para com o Sr. Presidente da Escola! Em que circunstâncias? Por não pactuar nem ser permissivo (sempre tolerante, quando a situação o justifique) com a laxívia, a corrupção e tráfico de influências, e com a indisciplina! Por tentar ser sempre um digno servidor da sociedade que me paga para isso, ou seja, por intermédio do ME e do Estado! Sou um servidor público, não de interesses particulares ou, mesmo, regionais de onde me encontro a viver e a trabalhar! Tenho dito.

Por tudo isto, não digo que, no meu caso, tenha feito qualquer "braço-de-ferro" com alguém. Não. No meu caso, o que eu tenho exercido é, nas circunstâncias que tentei resumir, um autêntico "alma-de-ferro", tais são as marcas que, na minha saúde psíquica, já são manifestamente probatórias. O que me leva, em tom de profunda revolta, a denunciar esta situação, analogando-a a todo este caso mediático:

"Não houve braço-de-ferro nenhum


Mário , Crespo, Jornalista

Acho espantoso que sobre a ocorrência na Carolina Michaelis várias opiniões insistam que a professora não devia ter entrado em "braço-de-ferro" com a aluna por causa do telemóvel. Não houve "braço-de-ferro" nenhum.

A Professora recusou-se a capitular. Não deixou que lhe tirassem à força algo que, no exercício das competências em que está investida, tinha achado por bem confiscar. E não cedeu face a pressões selváticas. E não capitulou face a agressões verbais. E manteve-se digna no posto que lhe foi confiado pela sociedade, com elevação e consistência, cumprindo as expectativas depostas na sua missão.

A Dra. Adozinda Cruz é um modelo de coragem que o país tem que aplaudir. Que a nossa confusa sociedade precisa de aplaudir porque é uma sociedade carente de pessoas como ela. A Professora de francês fez aquilo que tinha que ser feito. Sozinha. Porque trabalha numa escola onde o Conselho Directivo tolera que a placa com nome do estabelecimento, baptizado em honra de uma excepcional pedagoga que foi a primeira mulher portuguesa a conseguir leccionar numa universidade, esteja conspurcada, num muro com inenarráveis graffitis que mandam cá para fora a mensagem que lá dentro tolera-se a bandalheira. Numa escola onde durante minutos se ouviu a algazarra infernal dessa bandalheira, onde ela estava a ser agredida e nenhum colega ou funcionário ou aluno se atreveu a abrir a porta e ver se podia ajudar. Foi dessa cobardia geral e conformismo abúlico que a Dra. Adozinda Cruz se demarcou quando não deixou que a desautorizassem. É por isso funesto não lhe reconhecer a coragem e diminuí-la num bizarro processo de culpabilização da vítima.

Estar a tentar encontrar fragilidades comportamentais num ambiente de tal hostilidade é injusto. E o facto é que não fora a louvável e pronta actuação do Procurador-geral da República a Dra Adozinda Cruz ficaria sozinha. Abandonada pelo Ministério que a tutela, porque entende que o seu calvário é resolúvel nas meias tintas do experimentalismo burocrático, distante das realidades do terreno e que os problemas de segurança da escola são questões menores que se decidem dentro dos muros cheios de graffitis ameaçadores, em ambientes onde circulam armas e drogas. Abandonada pelas organizações laborais porque não está filiada. Com assinalável candura Mário Nogueira confessou em entrevista que a Fenprof não tinha feito nenhuma intervenção nem a faria porque "a colega não está sindicalizada". Abandonada no arrazoado palavroso do Bastonário da Ordem dos Advogados que, desconhecedor da Lei, achava que tinha que haver queixa para que a Procuradoria iniciasse algum procedimento e que, como tal, a professora deveria ser deixada ao sabor das indecisões da desordem que reina dentro dos muros graffitados. Felizmente o Estado não se limita a estas entidades.

O Procurador-geral actuou a tempo e o Presidente da República, ao chamá-lo a Belém, diz ao país e em particular ao governo que o caso não está nem resolvido nem o executivo conseguiu um vislumbre de solução.

Talvez fosse importante reforçar esta mensagem de preocupação, solidariedade e cidadania recebendo em Belém a Professora que não se intimida e é capaz de ser firme no meio do caos em que se tornou a educação pública em Portugal. As famílias entenderiam que a tolerância cúmplice e desleixada do Ministério, das escolas, sindicatos e acratas irresponsáveis iria acabar e poderiam começar a mudar o seu próprio comportamento."


PS: o negrito a vermelho é de nossa autoria, para reforçar a tal analogia e pelo qual gostaríamos que este constituisse um precedente judiciário (temos jurisprudència?).
Gostaria, também, de chamar a atenção para um artigo de hoje, no "Quarta República", onde se descreve uma situação caricaturada mas bem exemplificativa das posturas assumidas em contextgos análogos, nas escolas portuguesas.