quarta-feira, março 05, 2008

Porque continuo a preferir Coimbra a ... Bolonha!?

Mais uma voz de um jornalismo muito politicamente incorrecto!

Perdoe-me esta senhora jornalista, de quem faço minha a sua voz contra este situacionismo que nos coloca num tempo sem tempo, onde nas escolas tudo se ensina para nada se aprender, e tudo se aprova para nada reprovar ...! Viva a contra-reforma (?)...!!!

"A Universidade para o emprego

Helena Garrido










Eram centros de saber, hoje são locais onde vamos aprender um ofício. Como noutros tempos os pais pediam ao artesão, à fábrica ou ao mercador que deixasse o filho andar por lá como aprendiz. São as universidades dos nossos tempos, o ensino superior no modelo de Bolonha.

Não é uma critica. é uma constatação. Com aspectos positivos e negativos. Hoje já não é fácil encontrar sábios como aqueles que fazem as nossas delícias em livros de, por exemplo, filosofia. Já ninguém - ou quase ninguém - estuda para saber mas sim para ganhar o 'pão de cada dia'.

Conhecer aquilo que nos garante melhor o 'pão de cada dia' é hoje manifestamente mais difícil do que no tempo em que o pai pedia ao vizinho que deixasse o filho aprender o ofício na sua loja. A informação era local, todos sabiam o que estava a dar, o vizinho vivia bem, aquilo era um ofício com futuro...

Hoje a informação é global e de tão global que é, está tão partida aos bocadinhos que ninguém acaba por ter os dados relevantes para a sua vida. E com a formação orientada para a contínua felicidade, fazem-se escolhas com sonhos de realizar vocações ou, mais prosaicamente, para fugir de obstáculos como pensar. E acaba-se infeliz por sonhos não realizados.

Este é o drama dos jovens que chegam hoje ao mercado de trabalho. Na geração dos seus pais, entrar na universidade era o passaporte para o emprego. Como era noutros tempos aprender um ofício. Foi a era em que as universidades passaram de centro de saber para ante-câmaras de trabalho garantido.

Quando todos perceberam que a universidade era o meio para atingir a felicidade suprema de ganhar bem, o mercado ficou obviamente engarrafado, especialmente porque se olhou para aquele caminho como a via mais fácil.

Os alunos fugiram da matemática, as universidades privadas minimizaram investimentos ficando-se, na esmagadora maioria, pelos cursos de 'papel e lápis' e quem já estava a trabalhar, organizado em corporação, impôs como pode limites à invasão de novos licenciados. Os mais bem sucedidos foram, sem dúvida, os médicos. De todas estas 'mãos invisíveis', racionais por natureza, resultou o que temos hoje: poucos engenheiros, muitos licenciados de papel e lápis e médicos que escasseiam.

É verdade que todos os estudos mostram que, apesar de todos estes problemas, que apesar do aumento do desemprego entre os licenciados, estudar tem uma elevada taxa de rentabilidade. Mas continuamos com um problema: a universidade já não é o meio fácil para realizar sonhos. Corremos o sério risco de a 'mão invisível' orinetar os portugueses ainda mais para o pouco estudo, o pior dos mundos para um país com elevadas taxas de iliteracia num mundo em que o valor está no conhecimento.

A solução tem de ser olhar seriamente para os resultados da taxa de empregabilidade dos cursos superiores que hoje o Jornal de Negócios analisa. Formação de professores, marketing e publicidade, economia e gestão são cursos que explicam mais de metade do desemprego de licenciados. Ironia esta de estarem desempregadas pessoas qualificadas em áreas que também precisamos, como o ensino, o 'marketing', a gestão... Ou mais uma demonstração do mau estado em que está o nosso ensino?

Problemas complexos exigem em geral soluções simples. Doze anos de matemática é a sugestão que fica. E obrigar a comparar o curriculum dos cursos com os que no mundo, sendo iguais, garantem mais emprego, mais criação de valor.