domingo, abril 30, 2006

Hoje ... de Outros Tempos

Entre conjunturas europeias e pseudo-revoluções, o destino malfadado da portugalidade, a qual, em dias como este de 1536 do nosso D. João III, dá sinais de não voltar sem o inevitável sebastiânico nevoeiro!
Para recordar destaco, de entre as efemérides possíveis que seguem, a primeira ...

30 de Abril
- de 1536. A Inquisição é instalada em Portugal.
- de 1789. George Washington é empossado no cargo de Presidente dos Estados Unidos da América.
- de 1845. Nascimento de Oliveira Martins. Historiador autodidacta, socialista, defensor mais tarde da instauração de um regime autoritário, será um dos membros da «Geração de 70» do século XIX.
- de 1945. Adolfo Hitler suicida-se em Berlim.
- de 1948. Criação da Organização dos Estados Americanos (OEA).
- de 1975. O Brasil, os Estados Unidos da América, a Espanha e a França reconhecem o novo regime saído do golpe de estado de 25 de Abril anterior.

Vejo as notícias e as datas que a História tem marcadas para os dias deste fim de semana prolongado, ainda mais prolongado neste feudo cor de laranja-amargo-doce (…), e que me aguça o topete? Uma sobre a CGD, no JN de sexta-feira (artigo de um leitor), outra com o artigo de VPV no Público de sábado, tudo isto para servir de condimento às minhas razões, também causadas por episódios da minha vida profissional, tornando pessoais as lamentações de muitos daqueles que, noutras épocas, sofreram com perseguições inquisitoriais, das que ainda andam por aí …

"Desejo falar livre, mas não posso. Nunca se veja o que eu daqui já vejo (…) A medo vivo, a medo escrevo e falo, tenho medo do que falo só comigo; mas ainda a medo cuido, a medo calo (…)"

António Ferreira em Poemas Lusitanos

Valha-nos Deus!

Por tudo isto e o muito mais da nossa infelicidade de que vamos sendo vivos testemunhos, no meu pensamento dançam ideias sobre o bailado social que todos temos seguido, já de cor pela persistência com que insiste em nos condenar, nas garras de um qualquer Leviathan devorador dos seus próprios filhos …
Ah!, Luís Vaz, que desta praia lusitana só andamos por mares já dantes navegados …, pois este mar continental não será, certamente, dominium nostrum! …


A Inquisição

"Maria Mendes foi presa. Confessou logo. Denunciou quantos filhos tinha, netos e parentes, (…) todos quantos conhecia e lhes sabia os nomes, que se entendeu que havia denunciado mais de seiscentas pessoas. Ainda assim foi condenada a morrer queimada. E negou tudo, declarando serem tudo falsidades que haviam posto sobre si e sobre
seus próximos (…) Estando esta mulher no auto já para morrer, uma filha sua que saiu no mesmo auto, em altas vozes lhe quis lembrar alguns parentes, para que ali no auto fosse denunciá-los e não morresse (…)"

Padre António Vieira em Notícias recônditas do modo de proceder da Inquisição com os seus presos (adaptação)

(Retirado da Diciopédia 2000, Porto Editora - veja-se o desenvolvimento do artigo sobre a Inquisição)


A Inquisição era um tribunal eclesiástico destinado a defender a fé católica: vigiava, perseguia e condenava aqueles que fossem suspeitos de praticar outras religiões. Exercia também uma severa vigilância sobre o comportamento moral dos fiéis e censurava toda a produção cultural bem como resistia fortemente a todas as inovações científicas. Na verdade, a Igreja receava que as ideias inovadoras conduzissem os crentes à dúvida religiosa e à contestação da autoridade do Papa.

As novas propostas filosóficas ou científicas eram, geralmente, olhadas com desconfiança pela Inquisição que submetia a um regime de censura prévia todas as obras a publicar, criando o Index, catálogo de livros cuja leitura era proibida aos católicos, sob pena de excomunhão.

As pessoas viviam amedrontadas e sabiam que podiam ser denunciadas a qualquer momento sem que houvesse necessariamente razão para isso. Quando alguém era denunciado, levavam-no preso e, muitas vezes, era torturado até confessar. Alguns dos suspeitos chegavam a confessar-se culpados só para acabar com a tortura. No caso do acusado não se mostrar arrependido ou de ser reincidente, era condenado, em cerimónias chamadas autos-da-fé, a morrer na fogueira.


Execução de condenados pela Inquisição, no Terreiro do Paço, em Lisboa (séc. XVIII)

Defendendo a Igreja Católica as concepções geocêntricas, por as considerar mais de acordo com as Sagradas Escrituras, opôs-se totalmente à teoria heliocêntrica de Copérnico que Galileu defendeu, impondo-lhe silêncio sobre as suas opiniões.

Por isso, a publicação do livro Diálogo sobre os Dois Maiores Sistemas do Mundo custou a Galileu a instauração de um processo pela Inquisição na sequência do qual ele foi obrigado a negar as suas convicções.

"Nós, os cardeais da Santa Igreja Romana, pela graça de Deus, tendo sido nomeados inquisidores-gerais da Santa Fé Católica, verificámos que tu, Galileu, filho de Vicente Galilei, florentino, de 70 anos de idade, já no ano de 1613 foste denunciado a este tribunal do Santo Ofício, em virtude de considerares verdadeira a falsa doutrina de que o Sol é o centro do mundo; e de aceitares a ideia de que a Terra não está imóvel [...].Tendo os teólogos e doutores considerado estas teorias absurdas e erróneas [...] e tendo nós constatado que, depois de teres sido advertido, publicaste em Florença um livro intitulado Diálogo dos Dois Sistemas do Mundo, de Ptolomeu e de Copérnico, no qual continuas a defender as mesmas opiniões [...], declaramos-te, Galileu, fortemente suspeito de heresia. Deverás renegar publicamente as tuas teorias, contrárias aos ensinamentos da Igreja; e ordenamos que o referido Diálogo seja proibido e tu próprio aprisionado nos cárceres do Santo Ofício, ficando à nossa ordem." (Processo de Galileu, semelhante a muitos outros que vão acontecendo, um pouco por aí...).
(Retirado do Google)

quarta-feira, abril 26, 2006

Hoje ... de Outros Tempos

Talvez a última lição da História, neste dia holocáustico!

Que, conjuntamente com outras efemérides de hoje que não tenho de as recordar
( 26 de Abril
- de 1860. Morte do duque da Terceira, marechal do Exército, político liberal. Tinha nascido em 1792.
- de 1937. Aviões alemães, a Legião Condor, bombardeiam a cidade espanhola de Guernica, no País Basco.
- de 1946. É criado o MUD Juvenil.
- de 1986. Acidente na Central Nuclear ucraniana de Chernobyl) - retirado do Portal da História,
apesar de apontá-las, é a última marca da estupidez humana, quando sabe que a nossa capacidade para evitar os riscos da aventura em que nos lança a inteligência não é directamente proporcional à nossa capacidade para os interpretar, descodificar e, assim, instituir a aprendizagem com a qual poderemos não permitir a repetição deste tipo de erros! Não digo mais nada. Apenas reproduzo o que hoje tirei do Google. Vale a pena!

Roentgens
To begin our journey, we must learn a little something about radiation. It is really very simple, and the device we use for measuring radiation levels is called a geiger counter . If you flick it on in Kiev, it will measure about 12-16 microroentgen per hour. In a typical city of Russia and America, it will read 10-12 microroentgen per hour. In the center of many European cities are 20 microR per hour, the radioactivity of the stone.
1,000 microroentgens equal one milliroentgen and 1,000 milliroentgens equal 1 roentgen. So one roentgen is 100,000 times the average radiation of a typical city. A dose of 500 roentgens within 5 hours is fatal to humans. Interestingly, it takes about 2 1/2 times that dosage to kill a chicken and over 100 times that to kill a cockroach.
This sort of radiation level can not be found in Chernobyl now. In the first days after explosion, some places around the reactor were emitting 3,000-30,000 roentgens per hour. The firemen who were sent to put out the reactor fire were fried on the spot by gamma radiation. The remains of the reactor were entombed within an enormous steel and concrete sarcophagus, so it is now relatively safe to travel to the area - as long as we do not step off of the roadway.......

The map above shows the radiation levels in different parts of the dead zone. The map will soon be replaced with a more comprehensive one that identifies more features.

It shows various levels of radiation on asphalt - usually on the middle of road - because at edge of the road it is twice as high. If you step 1 meter off the road it is 4 or 5 times higher. Radiation sits on the soil, on the grass, in apples and mushrooms. It is not retained by asphalt, which makes rides through this area possible.

terça-feira, abril 25, 2006

25 de Abril … quando?

Hoje … já foi um grande dia, … noutros tempos. Por isso, a rubrica com que hoje evoco este dia não é tanto a efeméride, mas o que ela, hoje, ainda pode representar, ficando-me apenas, no pensamento, a razão que só o sentimento consegue recordar.

De outra forma não será possível conceber este “La Pensée du Jour”: só aqueles para quem o significado do que se esperava, em 25 de Abril de 1974, se foi perdendo (depois de algo que, realmente, se foi conquistando a partir dessa data) saberão viver este pensamento, que se manifesta, desde logo, pela recordação daquilo que não chegou a acontecer, a não ser nos corações dos que ainda acreditam na mudança.
Eu não tenho ilusões: a frustração pelo que não deveríamos ter perdido ou deixado acontecer é muito maior que os ganhos obtidos, todos eles somados, ou então dizer que há deficit democrático não passará de mais um cliché dos que gostam de fazer ver a verdade através da demagogia. E nós sabemos que, infelizmente, o deficit resultante do enorme passivo da nossa contabilidade social é enorme. Mas nunca será demais recordá-lo!
Muitos dos que hoje gritam sempre nunca foram além do que a sua cor política lhes permotiu encobrir, escondendo nela a verdadeira potência de uma vaidosa cobardia!

E, por isso, volto a publicar este poema que, como muitos, lamenta, … apenas lamenta: que alguns continuem a pensar que Abril é comunismo, ou radical-demmocratismo, ou esquerdismo, ou qualquer ouro radicalismo residente apenas nas organizações partidárias que julgam deter a propriedade da revolução, da democracia, da verdade! Não: isso nunca mais!


Abril! … Quando?

Deixa-te abrir, de novo
Abril, de ti possam trazer
Tudo o que de ti não sabem,
Mas mereces: o teu povo

Deixa-t’ abrir, sem queixume
E sem remorso, nem temor,
Sem esses lamentos de dor
Que dão em coisa nenhuma

Deixa-te abrir, agora,
Tirar de ti a semente,
Que dará fruto na gente
À espera, a vida fora!

Deixa-t’ abrir, finalmente
Voltar a pensar, que em ti
É tão bom poder sorrir,
E abraçar o que se sente

Deixa-te abrir, é hora
P’ra de novo dizer que não
Aos vis rapinas da razão
Desse ser que em nós mora

Só então, Abril, verás! Quem
Em ti, sempre viveu e amou
Te quis, te bebeu e chamou
Para chegar ao mais além!

Quem!
Abril, de novo?!

segunda-feira, abril 24, 2006

Mire On Local

Como continuo angustiadamente entediado neste burgo pseudo-aristocrático de "gente fina"!
Dei mais uma volta, como há já algum tempo não fazia, por cantinhos desta terra, onde já residi, ainda contunuo a residir e aonde já não gostaria de habitar! Sabe-se que, como aqui, muito do que observei, ouvi e concluí poderia acontecer em relação a outras urbes do nosso portugalório provinciano e rurbano, a fazer inveja aos países que se dizem em vias de desenvolvimento, de realização civilizacional duvidosa. Mas ... cada um no seu canto. E eu, aqui deste por enquanto meu recanto, em vésperas de mais um dia que começo a comemorar sem razões de encanto, tenho de dizer o que encontro, pois como os outros pelos mesmos caminhos que eles ando, respiro, como e durmo! Enquanto nos vão deixando! Nunca será demais mostrá-lo!E de que me queixo? Não de muita coisa! Mas, como noutras circunstâncias, não é o móbil da queixa que lhe traz a gravidade, mas o contexto da sua aceitabilidade social: numa terra que, ultimamente, tem visto o seu povo (com muita ou pouca razão) fabricar "abaixo assinados" em série - lembremo-nos que, dos últimos, também o do protesto contra o encerramento da sua maternidade já provocou um autêntico movimento social -, pouco admissível será o "encaixe psico-social do que clandestinamente (com ou sem autorizações buricrático normativas) se vai construindo ou facilitando - veja-se o exemplo de garagens privadas com caixas de esgoto no seu interior;

ou de autênticas lixeiras a céu aberto, a horas "de movimento",

ou a 'perenidade' de obras que deixa muito a desejar, muito mais ainda que o tempo que demoram a concluir!

Ou, ainda, que continue a fazer-se "mercado" num espaço tão bonito como o do seu Campo da Feira, com serviços hospitalares e das respectivas urgências a ser dificultado, semanalmente por causa do dito comércio

e, todos os anos pelas Festas das Cruzes, a debitar decibéis de poluição sonora para qualquer um de nós que por lá passe e, mais especialmente, para quem tem de ir ou estar no Hospital com que o vil espectáculo se confronta.

Cuidado! Amanhã, muitos dos que não querem saber do que aqui digo andarão vestidos de cravos vermelhjos, conseguindo trazer ao peito sentimentos que nunca perfilharam, pois nunca viveram, por dentro de si, a realidade que ainda não sabem ver, muito menos ser! Quem anda por aí? Será que ninguém dá uma mãozinha? Por favor, aonde fica o exílio?

domingo, abril 23, 2006

Tradição e Revolução

"Tradição e Revolução - Uma biografia do Portugal político do século XIX ao XXI" - Talvez a melhor referência crono-histórica da vida social e política de Portugal, desde o advento do liberalismo até à formação do Governo de José Sócrates.

Estes meus artigos de análise crítica a obras politológicas ou de interesse sociológico, que pode ser despoletado pelo impacto que essas obras tenham ou venham a ter, previsivelmente, na sociedade em que vamos vivendo, começam agora, pela mão do Pedro Miguel Cunha, a ser editados no jornal alegadamente mais antigo desta urbe feudo-condalense que é Barcelos. Prometo, palavra de Coelho.

Pois, para começar, talvez nada melhor seja do que fazer a referência ao meu já muito referenciado mestre Professor Doutor José Adelino Maltez, por duas razões: primeiro, porque também ele, nestas andanças blogueiras, é estilo de palavra e voz de referência na crítica sócio-política, principalmente no seu “Sobre o Tempo Que Passa”, e no qual também fui buscar alguma inspiração; segundo, porque é dele a referência literária deste número do Politilendo, esta magnífica obra histórico-política que é TRADIÇÃO E REVOLUÇÃO.

Apresentação

1. Sobre o autor dispenso qualquer apresentação, pois poderá ler-se, entre outras fontes possíveis, as notas biográficas das contra-capas das suas publicações. Nesta também.
Lisboa,
Tribuna da História
Colecção
«Filosofia e Ciências»
2005
vol. I
608 páginas
ISBN 972-28799-23-3
vol. II
759 páginas
ISBN 972-28799-29-2
2. Obra editada pela Tribuna da História, em dois volumes (vol I, de 1820-1910; vol II, de 1910-2005), pode ser sintetizada pela sinopse que dela faz o autor, quando escreve, na capa:
"Um império que já não há, uma língua que é futuro, dois regicídios, outros tantos magnicídios, três guerras civis, campanhas de ocupação e guerras coloniais em África, uma permanente guerra civil ideológica,três bandeiras, uma guerra mundial, seis constituições escritas, sete presidentes eleitos pelo povo, oito monarcas, a separação de nove Estados independentes e, muito domesticamente, quinze regimes, com duas monarquias e três repúblicas, sem que voltasse D. Sebastião, apesar dos heróis do mar e do nobre povo. Mais: oitenta eleições gerais, cento e vinte e tal governos, 13.233 dias de salazarquia, duzentas turbulências golpistas, cinco revoluções, outras tantas contra-revoluções, de restaurações a reviralhos, quatro centenas de partidos e facções, um todo, com mais de cinco mil factos políticos seleccionados. E sempre a frustrada modernização de um Portugal Velho que quis ser reino unido e armilar, entre antigos regimes e jovens democracias.
Graças à balança da Europa: desde El-rei Junot ao estado a que chegámos, que continua sem rei nem lei e até sem sinais de nevoeiro."(1)

Características da obra:
3. Conteúdo
"Obra enciclopédica, os 2 volumes apresentam cronologicamente a história política de Portugal de 1820 até 2005, abordando os sucessivos governos, os partidos, os principais dirigentes do país e as teorias políticas dominantes em cada época, referindo os acontecimentos fundamentais até ao dia 12 de Março de 2005, informando por isso também do resultado das eleições de 20 de Fevereiro e da formação do governo de José Sócrates." (2)
4. Arquitectura
Também esta obra tem uma estruturação dos diversos conteúdos sem enquadramento tipológico. Notam-se, contudo, em cada um dos dois volumes, duas partes distintas: uma em que se pretende transportar o leitor para um leque variadíssimo de títulos, ao jeito blogueiro dos títulos dos ‘posts’ de que o mestre também é autor, em cada um dos capítulos que antecedem a segunda parte, esta composta unicamente pelos anos (cada um indexado à respectiva página) correspondentes a cada um dos dois volumes. Assim, temos:

Vol. I
- PELA SANTA LIBERDADE! Ou a necessária indisciplina do bom senso pág. 11
- DOS FANTASMAS DE DIEITA AOS COMPLEXOS DE ESQUERDA - Entre bonzos, endireitas e canhotos pág.123
- 1820, pág. 164
até
- 1910, pág. 560
- TÁBUA DE REFERÊNCIAS, pág. 565

Vol. II
- Para uma caracterização do Portugal contemporâneo, pág. 9
- Erros sem tragédia na constituição a que chegámos, pág. 61
- O revolucionarismo permanecente, pág. 81
- A guerra civil fria, pág. 87
- Compadrismo e corrupção, pág. 93
- 1910. pág. 161
até
- 2005, pág. 765
- TÁBUAS, pág. 767
5. Impacto na sociedade
Pelo seu estilo algo sui generis, em que o autor dirige os conteúdos sempre pertinentes, para o momento histórico em si mesmo e, também, numa correlação sócio-histórica cujo diacronismo pretende fazer ver a actualidade de fenómenos que não têm tempo, o contributo desta obra ultrapassará os meios académicos na justa medida em que, para qualquer um de nós que quer viver a sua cidadania de forma mais esclarecida, por certo chegará a fazer proclamar o déficit civilizacional a que as nossas consciências já não aludem, sem escolha de estrato ou categoria social à qual vai conseguindo fazer-se chegar!
Nessa tentativa da procura da verdade cada vez ‘mais verdadeira’, que marca, indubitavelmente, o contributo lusíada para um humanismo universalista que a armilar confirmou, esta obra constituirá, por certo, mais um marco a perfilar no elenco dos pensadores portugueses que souberam, para lá das matrizes ideológicas e, ainda mais, das partidárias, traduzir os factos sócio-históricos numa linguagem rica em ensinamentos, como é timbre deste professor de Ciência Política, fazendo da pedagogia a arma que os demagogos não possuem. Para mais, a pluralidade dos horizontes gnoseológicos em que parecem construir-se as verdades procuradas revelam essa faceta da heterodoxia de muitos dos escritores que caracterizaram o pensamento filosófico português, para o qual contribuirá, certamente, esta obra!
Bem haja, Mestre, por este contributo!
(1) Sinopse da capa dos dois volumes.
(2) Retirado de "O Portal da História".

Hoje ... de Outros Tempos

Terra é sempre, todos os dias! Não só naquele em que também nasceram figuras célebres, os portugueses descobriram o Brasil e os liberais acabaram com o mais cobarde sistema de repressão que a Humanidade conheceu!

22 DE ABRIL (Retirado do Portal da História)
1. Dia Mundial da Terra.
2. 1500 - Pedro Álvares Cabral descobre as Terras de Vera Cruz, que mais tarde passarão a ser designadas pelo nome de Brasil.
3. 1724 - Nasce o filósofo germânico Immanuel Kant, em Konigsberg, na Prússia.
4. 1732 - Nasce George Washington, em Bridge's Creek, Virgínia, EUA.
5. 1821 - É abolida a Inquisição em Portugal.
6. 1870 - Nasce Vladimir Ilich Ulianov (Lenine) em Simbirsk na Rússia.

Ainda vou a tempo de editar esta rubrica, mesmo já no adiantar do calendário. Assim:

(1) Não subscrevo a comemoração neste dia dedicada à
Terra, porque, necessariamente, é uma das dimensões da nossa existência que, por um lado, prescinde dessa efeméride para ser o que é, quer dizer, a Terra ou sistema Mundo; por outro lado, por ser a realidade que é, e na perspectiva de que o é sempre sob a influência da acção humana, então merece que lhe dediquemos todos os dias das nossas vidas, seja quanto ou como for.

(2) Merece algum destaque, pelo impacto que tiveram nas nossas vidas, seja de que formas for, figuras como
Immanuel Kant, George Washington e Lenine.

(3) Por que razões as
terras de Vera Cruz se tornaram tão importantes para Portugal? Para compreendermos as razões da altura, que o diga a lógica da leitura da História de Portugal, sob o prisma das relações diplomáticas que então se desenrolavam entre a coroa portuguesa, a espanhola e a papista “católica-romano-poucoapostólica”.

(4) Especial destaque a este dia pela abolição da Inquisição, ou Tribunal do Santo Ofício, expressão que apenas deveria ter valido pelo ofício de que se ocuparam as maiores bestas humanas da Idade Média, salvo o devido respeito por aqueles que, nele, achavam o que de santo poderia dalí operar-se, concomitantemente com os que nele encontraram eco para eventuais juízos tribunícios. Mas cristão, lá isso é que não o foi, pois Cristo não sofreu às mãos dos seus carrascos o que, historicamente, conhecemos que muitos passaram nas garras daqueles inquisidores.

Por isso, bem haja o dia em que, neste Abril de tantas aberturas lusitanas, se dá a “extinção do Tribunal do Santo Ofício. O espírito tolerante e laico do liberalismo, que assimilou os valores do iluminismo, entendeu desde logo extinguir este órgão católico repressivo, ao mesmo tempo que pugna pela secularização da sociedade, da cultura e das instituições e por uma não interferência da Igreja nos poderes do Estado.”
[1]

[1] História de Portugal em Datas, Círculo de Leitores, pág. 202.

quarta-feira, abril 19, 2006

Hoje... de Outros Tempos

(1) A natureza é dos "indígenas", mesmo quando Portugal ainda era uma potência mundial (2); (3) e ... como nasce o Partido Socialista!

Como sempre, há nas efemérides uma como que natural escolha/ selecção subjectiva que, na história dos eventos, tendemos a operar.
1. E, porque para uns este dia evoca a trizteza do destino das populações indígenas do Brasil, e para outros o Índio é lembrado no calendário ambiental (consideram-no as duas referências aqui citadas, com alguma frieza realista, como um factor de preservação ambiental, mesmo que os processos de desenvolvimento colonialista e capitaleiros os tenham relevado ao esquecimento), eu prefiro a versão de Aldous Huxley na fantástica obra que é o Admirável Mundo Novo, ou a realidade fielmente interpretada na obra cinematográfica realizada por Roland Joffré "A Missão", contrapondo as artificialidades do "fardo do homem branco" ao teocratismo naturista, a exemplo do nosso P. António Vieira, de que os jesuítas sempre foram, também, eloquentes transmissores: ("Uma das marcas relevantes da espiritualidade franciscana, que de algum modo se pressente no Santo português, é o entendimento do mundo do homem no quadro de uma interioridade que não o fecha sobre si próprio, estimulando um movimento de abertura e de relação solidária a tudo o que o cerca, no âmbito de um já muito vincado optimismo na valorização da criação como obra de Deus. A espiritualidade antoniana permanecerá muito permeável, na forma como viveu a perspectiva da interioridade e da pobreza, ao concreto, à natureza e à relação humana. A interioridade acentua a ideia de dependência em relação aos outros homens bem como ao conjunto da criação, numa espiritualidade eminentemente prática e vivencial" - in Pedro Calafate, retirado do Google).
2. Mas a História também nos dá como que ironias do destino. Senão, vejamos o que, neste dia 19 de Abril de 1648, contingentes significativos de índios fizeram contra as tentativas de usurpação holandesa das nossas possessões ultramarinas, também no Brasil, aqui referidos no Recife... .
Como ironicamente, poderíamos ter perdido a que eraconsiderada a "jóia da Corôa" ... .
3. Tempo ainda para fazer referência a essa transformação da Acção Socialista Portuguesa, neste dia de 1973, na então Alemanha Ocidental, nesse tão curioso Partido Socialista Português (PS), quando o marxismo ainda não era peça arqueológica da ideologia da acção.
Senão, vejam-se, de entre os documentos referentes ao acontecimento, por exemplo o Relatório de Mário Soares ou o seu Manuscrito aonde o fundamentou, apresentados na ocasião.
"No dia 19 de Abril de 1973, na cidade alemã de Bad Munstereifel, militantes da Acção Socialista Portuguesa idos de Portugal e de diversos núcleos no estrangeiro, reunidos em Congresso, aprovam, por 20 votos a favor e 7 contra, a transformação da ASP em Partido Socialista. Finda a votação, todos os congressistas aplaudiram de pé a deliberação. Eram 18 horas."
Esta também será, certamente, mais uma das ironias da nossa História!?

domingo, abril 16, 2006

Hoje ... de Outros Tempos

E quanta história não há por contar…?

17 de Abril

- de 1969. Começo da Crise Académica de 1969, com greve às aulas e boicote aos exames de Junho, provocada pela prisão pela PIDE de Alberto Martins, presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra, por pretender usar a palavra na cerimónia de inauguração do novo Edifício das Matemáticas da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, presidida pelo Presidente da República, Américo Tomaz. O ministro da Educação Nacional, José Hermano Saraiva, encerrará temporariamente a Universidade.
(Retirado de “O Portal da História”, www.arqnet.pt/portal/calendario/abril.html)

Revolta estudantil de Coimbra. Incidentes desencadeados quando a recém eleita direcção da Associação Académica de Coimbra, através dos seu presidente, pede para falar na cerimónia, Tomás recusa. Foi o rastilho para o movimento acirrado pelas prisões feitas pela polícia dos dirigentes estudantis. Até Outubro a cidade de Coimbra vai viver em estado generalizado de desobediência cívica. (In “Destaques”, C.E.P.P., ISCSP-UTL.)

Certamente que noutras efemérides se poderão evocar tantos outros episódios da luta estudantil que eu, como muitos companheiros, travámos: lembro-me, para falar de figuras conhecidas do público, do Dr. António Costa Pinto, o então camarada Tony - a quem só revi uns quase 20 anos mais tarde, no ISCSP, na apresentação da tese de doutoramento do seu amigo e já falecido César de Oliveira -, e das inúmeras actividades que com outros desenvolvíamos – Rui Gomes, o nosso “Tarzan”, não pode ficar esquecido -, desde as noitadas de trabalho de publicação na AE do IST, as R.I.A.’s - Reuniões Inter-Associações - que em várias faculdades tinham lugar, até às manifes que por toda a capital se realizavam, … frente aos inúmeros adversários sociais e políticos da altura, na transição da década de 1960 para a de 70, com a evidente influência que os percursores coimbrãos incutiram no espírito de contestação estudantil (não só universitário, mas ao nível generalizado do ensino secundário) a partir do nosso Maio de 68, que se deu a partir de 17 de Abril de 1969. Depois, … bem, o melhor é perguntar à História, essa transcendente racionalização do passar do tempo que só o tempo, melhor que ela, sabe ensinar … .

Vamos “ver” o filme? Então vá lá:

Decorria o ano lectivo 1968/69. Portugal vivia um período tensão, submetido a um governo fascista, que ao longo dos anos cria um clima de tensão provocado pela Guerra Colonial, pela censura à impressa e aos meios culturais, e a perseguição a todos aqueles que se opunham ao regime.
Neste contexto social levanta-se a voz discordante dos estudantes do Ensino Superior e Coimbra é quem ergue a bandeira, defendendo a liberdade, a autonomia e a democratização do Ensino Superior.
A repressão era bem visível no contexto Universitário: a Associação Académica de Coimbra tinha à frente dos seus destinos uma Comissão Administrativa nomeada pelo Estado. Entre 1965 e 1968 não foi permitido aos estudantes a escolha dos seus corpos gerentes.

Em 1968, por iniciativa do Conselho de Republicas (CR) e de vários Dirigentes de Organismos Autónomos, foi criada uma Comissão de Pró-Eleições: o objectivo era de promover o Acto Eleitoral, sendo apenas possível após a recolha de 2500 assinaturas num abaixo assinado que foi entregue ao Reitor da Universidade de Coimbra, Andrade Gouveia.
Após vários recuos e avanços, as eleições realizam-se no final do mês de Fevereiro. Comparecem a este acto eleitoral duas listas: a do Conselho de Repúblicas (CR) e a do Movimento de Renovação e Reforma (MRR). O Conselho de Repúblicas ganha as eleições com cerca de 75% dos votos, avançando com uma linha crítica de contestação à Universidade e a todo o Regime em geral.
Um mês mais tarde a Direcção Geral da Associação Académica de Coimbra eleita é convidada para a cerimónia de inauguração do edifício das Matemáticas da Faculdade de Ciências. A DG não só aceita o convite como afirma publicamente a intenção intervir na cerimónia proferindo algumas palavras de descontentamento sobre a situação do ensino da Universidade de Coimbra e no resto do país.
"Em conversa tida com o Magnifico Reitor expusemos conjuntamente (Associação Académica de Coimbra e a Junta de Delegados das Ciências), a nossa pretensão em nos fazermos ouvir. Foi-nos alegado:
1. O Magnífico Reitor ao discursar, representava a Universidade;
2. A possibilidade de um estudante falar vinha prejudicar as prescrições protocolares;
3. O senhor presidente da república tinha de visitar o edifício, o que não lhe permitia um alargar da secção; … verdadeiramente conscientes, dum dever irmos esgotar todas as vias para que os estudantes, estando presentes, possam participar na sessão inaugurativa"
Na manhã de dia 17 de Abril de 1969 vivia-se em frente ao Departamento de Matemática um cenário pouco característico para uma ditadura, onde as palavras de ordem eram: "Impõe-nos o diálogo de silêncio", "Intervenção das AEs na vida e reforma da Universidade", "Ensino para todos", "Estudantes no Governo da Universidade", "Exigimos Diálogo", "Democratização do Ensino".


No interior do edifício, na actual Sala 17 de Abril, o presidente da DG/AAC, Alberto Martins, acompanhado por Luís Lopes, presidente do TEUC, e Luciano Vilhena Pereira, presidente do CITAC, pede a palavra a Américo Tomás, Presidente da República, que lhe responde de forma inconclusiva.A cerimónia termina abruptamente e toda a comitiva se retira protegida pelos agentes da Pide/DGS.
Nessa noite Alberto Martins é preso à porta da Associação Académica de Coimbra por volta das duas horas da madrugada.
A notícia da prisão de Alberto Martins corre rapidamente, os estudantes mobilizam-se em frente à esquadra, originando confrontos e feridos. Na manhã seguinte Alberto Martins é libertado. Durante a tarde do dia 18 há Assembleia Magna, resultando na conclusão da necessidade do aumento da participação activa dos estudantes na vida universitária.
Decreta-se o "Luto Académico" a 22 de Abril.
O período do "Luto Académico" e da "Greve às Aulas" caracterizou-se pelo debate em torno dos problemas das faculdades, da Universidade e do país. As iniciativas de contestação ao regime, também se repercutiram nas actividades culturais e desportivas, ao ponto da Queima das Fitas de 1969 ter sido cancelada:
"O Conselho de Veteranos decretou o luto, com capa e batina fechada e proibição do uso de insígnias, e a Reunião Geral de Grelados deliberou o cancelamento da Queima das Fitas".
Mais tarde e após a Assembleia Magna do dia 28 Maio, nos jardins da AAC, com a participação de cerca de 6000 estudantes, iniciam-se novas formas de luta: ao a "Greve aos Exames" (com uma adesão de 85%), a "Operação Balão" e a "Operação Flor".
O 17 de Abril de 69 foi o início de um processo de contestação estudantil em que "o objectivo era pôr em causa a Universidade para pôr em causa a sociedade", que viria a terminar com a "Revolução dos Cravos" cinco anos mais tarde no 25 de Abril de 1974, na medida em que conseguiu bloquear a acção do Governo e consciencializar social e politicamente os homens que fizeram o amanhã.


(Retirado e adaptado de http://www.aac.uc.pt/historia/17abril.php)

sexta-feira, abril 14, 2006

Hoje ... de Outros Tempos

"Regicídio"à americana, democracia à espanhola, autoritarismo em português e o NÃO salazarista ao fascismo!

Não me apetece falar de fórmulas americanas de democracia, para lembrar que neste dia de 1865 Abraham Lincoln foi mortalmente ferido. Apenas me apraz registar o seu poema preferido (retirado do google)



Oh, why should the spirit of mortal be proud?
Like a swift-fleeting meteor, a fast-flying cloud,
A flash of the lightning, a break of the wave,
He passes from life to his rest in the grave.

The leaves of the oak and the willow shall fade,
Be scattered around, and together be laid;
And the young and the old, the low and the high,
Shall molder to dust, and together shall lie.

The infant a mother attended and loved;
The mother that infant's affection who proved;
The husband, that mother and infant who blessed;
Each, all, are away to their dwelling of rest.

The maid on whose cheek, on whose brow,
in whose eye,Shone beauty and pleasure - her triumphs are by;
And the memory of those who loved her and praised,
Are alike from the minds of the living erased.

The hand of the king that the sceptre hath borne,
The brow of the priest that the mitre hath worn,
The eye of the sage, and the heart of the brave,
Are hidden and lost in the depths of the grave.

The peasant, whose lot was to sow and to reap,
The herdsman, who climbed with his goats up the steep,
The beggar, who wandered in search of his bread,
Have faded away like the grass that we tread.

The saint, who enjoyed the communion of Heaven,
The sinner, who dared to remain unforgiven,
The wise and the foolish, the guilty and just,
Have quietly mingled their bones in the dust.

So the multitude goes - like the flower or the weed
That withers away to let others succeed;
So the multitude comes - even those we behold,
To repeat every tale that has often been told.

For we are the same that our fathers have been;
We see the same sights that our fathers have seen;
We drink the same stream, we feel the same sun,
And run the same course that our fathers have run.

The thoughts we are thinking, our fathers would think;
From the death we are shrinking, our fathers would shrink;
To the life we are clinging, they also would cling -
But it speeds from us all like a bird on the wing.

They loved - but the story we cannot unfold;
They scorned - but the heart of the haughty is cold;
They grieved - but no wail from their slumber will come;
They joyed - but the tongue of their gladness is dumb.

They died - aye, they died - we things that are now,
That walk on the turf that lies over their brow,
And make in their dwellings a transient abode,
Meet the things that they met on their pilgrimage road.

Yea, hope and despondency, pleasure and pain,
Are mingled together in sunshine and rain;
And the smile and the tear, the song and the dirge,
Still follow each other, like surge upon surge.

'Tis the wink of an eye - 'tis the draught of a breath -
From the blossom of health to the paleness of death,
From the gilded saloon to the bier and the shroudOh,
why should the spirit of mortal be proud?
Nem pretendo fazer o que é da competência de "nuestros hermanos", que é a evocação da proclamação da 2ª República espanhola, pois em Portugal essa já não era novidade para o regime de então, mas uma hipotética ameaça que implicaria a simpatia da nossa ditadura militar pelo futuro caudilho espanhol.
Mas, neste dia de 1939 (ano em que só os inocentes acreditariam como ironia do destino o facto de Hitler e Estaline estabelecerem um pacto secreto), Salazar e o governo do Estado Novo recusam o convite, oficialmente apresentado pelo embaixador italiano em Lisboa, para Portugal aderir ao «Pacto Anti-Komintern», aliança de estados fascistas, já subscrita pela Alemanha, Itélia e Espanha, que teria por principal objectivo destruir (diplomática e militarmente) a «ameaça comunista» e a URSS.
Por outras palavras, será melhor traduzir este evento politológico em calão socialmente português, mas naturalmente mais do que outros, em semelhaqntes circunstâncias (à maneira do hoje-em-dia europês), o fariam, numa interpretação geo-política reveladora da desmitificação do provincianismo salazarista.
O Dr. António Oliveira traduziu, melhor que ninguém para a sua época, os interesses maiores para o Estado Novo, como hoje poucos o saberão interpretar. Soube esquivar-se, diz-se deste dia de 1939, a um compromisso historicamente decepcionante para o futuro da nossa identidade nacional. Daqui lhe faço a minha justiça por isso. Em minha opinião, devemos-lhe essa parcela do activo da nossa História.

quarta-feira, abril 12, 2006

Mire On Local

Continuando a reviver em saudade, como vejo também os ontens de hoje que, certamente, continuarão nos amanhãs! Ou como tudo começa e acaba na Capital do Reino!

Regresso a Barcelos com um "Mire On" sobre Lisboa! Não sou repórter. Não sou fotógrafo. Não sou mensageiro de informações que interessem a agências de qualquer espécie. Mas, como cidadão, sou observador, pelo menos das situações em que directa ou indirectamente vou participando.
E o mais velho dos meus dois mais novos já sabe o que significa ISCSP, essa Escola que alguém das paleonomenclaturas do situacionismo gerontocrático (ou da dinastia soarista) já apelidou de escola dos malditos, sem que ainda fosse atingida por esse sistema pré-bolonhês em que um estudante trabalhador, que começou um mestrado na vigência de uma lei, se vê impedido de o concluir por, financeiramente, não suportar os 1750 euros a que a actual lei obriga! E ainda antes de, talvez por ironia do destino, apenas ter de subir a rua para onde foi viver há quase quarenta anos, essa equidistância entre o velho e o novo ISCSP, para chegar às suas novas instalações!
Fiquei também a saber que há uma "lei Sócrates" relativa ao seguro automóvel, agora que, uma vez em Lisboa, aproveitava para me deslocar à sede da seguradora em questão e aí resolver um pequeno pormenor (não aceito que, para assumirem o risco de me segurarem "contra todos os riscos", me desvalorizem a viatura, com menos de dois anos a partir do novo), em quase 50% do seu valor - não admira que enriqueçam à custa do que nos andam a sacar!!!
Vi também, entre outras "vistas" que me trouxeram saudade, o local onde, à custa do programa de Veiga Simão (1970/ 71) para as actividades "circum escolares" do ensino secundário de então, pratiquei remo, com o Prof. Lopes Marques, na "Casa da Mocidade", edifício contíguo ao viaduto que sobrepassa a linha de combóio do Estoril, ali ao ladinho das "Docas" de Alcântara, onde, também noutros tempos, ali assistíamos à chegada e partida de transatlânticos de todas as proveniências, mesmo quando descíamos a "rampa" da marina para pôr o yolle de 8 na água (lembro-me do Vitor Pereira, do Raul Caldeira, do Baptista, entre outros do team). Agora, vejo um cais onde parece ninguém querer atracar, a não ser nas noites do "Budda" e nas "doquinhas", que já não têm o cheiro a "maresia que o Tejo traz e leva".
Agora, resta-me esperar pelas boas graças que as eventuais diligências poar aqui tomadas possam ter despertado, em regime de fobia crónica pelos poderes alternadamente instalados nos corredores da partidocracia, esperando a suprema intervenção das legítimas autoridades institucionais! Deus o queira, porque enfrento "Adamastores" que fazem com que, à semelhança do que enfrentaram os nossos antepassados pelos "mares nunca dantes navegados", seja difícil ser professor em meios sócio-urbanos ainda afastados da civilidade democrática, mal pecebendo que ser funcionário público não é ser empregadodos poderes locais instalados, mas servidor da República!!!

sexta-feira, abril 07, 2006

A saúde da saudade, em Lisboa!

Quando a saúde reclama, a necessidade chama com a chama viva da saudade!


Estou (de férias ?) em Lisboa! Venho tomar ares como quem vai a banhos de verão! Recarregar baterias precisa-se, em tempos em que os dispêndios energéticos já por si são dispendiosos, que é como dizer que, na entropia da vida, se gasta muito para reabastecr dos gastos que todos temos que ter para viver! É preciso ter muito cuidado, pois esses pseudoglutões da caixa negra deste sistema socialmente associal engolem-nos como leucócitos de um corpo que só a eles tem como corpos estranhos...!
Será que o Leviathan estará a comer os seus próprios filhos? Talvez não. Em todo o caso, cuidado, porque eles andam por aí, como autênticos anticorpos de um corpo social ao qual não pertencem, porque só dele se alimentam, transformados em autênticos parasitas do espaço vital que não lhes pertence! (Será isto algum Alliens revisitado ?)!

Provavelmente, nem os recursos disponibilizados por aquele tão falado "choque tecnocrático" (veja-se, por exemplo, as carapaças em metais de liga pesada que nos protejam das investidas da besta) de nada nos valerão, pois a besta já tratou de se domiciliar nos corredores dos bastidores dos palcos do politicamente correcto, ou único, enjeitando esta ditadura tipo soft, que só na "era do vazio" consegue ter lugar!

Por isso, prefiro ter de recordar esta velhinha mas sempre simpática Lisboa, de outros tempos populares, sem o saudosismo retrógrado mas que, sadiamente, nos remete para a saudade que qualquer vivente neste Portugal cosmopolita e sempre humanista necessita ser recordado, seja por razões individuais ou seja, com força ainda maior, por motivos que, em vez de serem como para muitos do alheio, se comprometem com a justa partilha fraterna sem hipocrisias que a desmesura das mentes andam frequentemente por aí a reclamar, como sendo virtudes ...




Por estes lados, há motivos de sobra para se comemorarem, existencialmente, esses valores sociais que não têm tempo, não se enquadram em qualquer regime politicório, não necessitam de choques tecnológicos nem de cartas de filiação neo-federalizantes, a precisarem mais de filhos do que estes de filiação ...
São estes restos de filhos sem família que me chamam mais a atenção e me despertam mais profundamente a saudade de riviver a fraternidade de outros tempos, mesmo em regime de autoritário provincianismo nunca assumido pelos que, em jeito de urbanidade rural, sempre podem dizer, hoje, que são tempos que ainda não lá vão porque esses ainda cá estão para marcar presença neste espaço social que já não sabe onde começa a escravidão e acaba a cidadania ... pior que isto, talvez não tenha havido ... há imagens de sobra que nos fazem reviver com saudade ...

É desta colectividade de cultura recreio que componho esta publicista, dando conta do que por aqui também disse há já uns bons anos, mesmo quando presidi à Mesa da Assembleia Geral, em jeito de exortação de valores sociais que, na altura (pós PREC) estariam já a ser associativisticamente ameaçados... "a sociedade [SFRA] é o espelho da sociedade a que pertencemos"...

Hoje, com os "tapa tudo", "encobres" (como é exemplo à entrada desta noutros tempos muito respeitada colectividade, não só pelo espaço de convívio social que proporcionava, como pelos títulos desportivos, como foi o caso do Ténis de Mesa a nível nacional, e as diversas manifestações de âmbito cultural e sócio-político que a marcaram ao longo dos anos) e os "quem tem dinheiro vai sempre à frente", entre outras das prerrogativas neo-capitaleiras deste regime pró-totalitarista de um pensamento subtilmente único, já não há como expressar certas situações da realidade social que, observadas, a todos consternará. Mas é por isso, também, que o publicista existe e se quer fazer:

Agora, que também da janela do meu quarto, mesmo ao lado da SFRA, mais um pedaço dos meus horizontes sobre o Tejo levaram, não quero dizer mais nada, porque pouco mais haverá a dizer.

Há, certamente, muito mais a fazer, não só por estas sociedades específicas - as colectividades de cultura e recreio, sobretudo as que, historicamente, merecem nunca ser esquecidas - mas pela sociedade que todos queremos ser!

terça-feira, abril 04, 2006

Letras do Pensamento

O publicista Sampaio Bruno, ou como o espírito inconformista deste vulto da nossa praça intelectual tem razão para ser, continuamente, evocado!

Também eu segui os passos deste grande vulto do pensamento português, tão pouco conhecido como, notoriamente, muitos outros nomes de relêvo da nossa cultura filosófica. Por isso, nesta primeira aproximação que faço em sua memória, pois este título do Blogue, já o disse, foi nele inspirado, apenas me apraz republicar um artigo que assinei num jornal local deste burgo condalense. Tem isso a ver com a presente situação profissional que atravesso, e as implicações pseudo-tácitas que, também, atravessam as nossas instituições, desde há já muitos anos. Onde começou, não sei, "mas que elas andam por aí, lá isso andam ...", disfarçadas ou não em filhas da virtude que nunca conheceram.

«1. Chamaram ...e o astrólogo do Reino ainda não veio! Mas já “fala”! O que o astrólogo do Reino descobriu?! É fantástico, o que o poder dos magos alcança (?)! Qualquer dia, também os políticos mais susceptíveis a estas andanças exotéricas, que delas (consta por aí) são vistos e achados frequentadores, chamarão pelo dito para bafejar o défice orçamental com aquela pitadinha de mágica, que lhes falta para exorcisar as marcas que, insistentemente, nos atormentam a contabilidade pública...! Mesmo assim, não sei se haverá magia que afronte a vil maleita, tão forte deve ter sido o ritual satânico que nos sentenciou a penar em tão angustioso sacrifício ...!

Mas, confesso, este poder transcendente não é o do meu (quase assumido alter ego) douto amigo JAM, que tanto tenho evocado! Apesar de toda a força anímica que nos move, e que dele brota como água de fonte limpa! O astrólogo do Reino, por quem chamamos há umas semanas atrás para parar a seca em que mergulhou a nossa democracia, é algo parecido com a figura cibernética da “caixa negra”. Com aquele poder de retroacção dos sistemas que, depois de descodificadas as anomalias do seu funcionamento, e por efeito da doseada homeostasia (capacidade de os sistemas se corrigirem automaticamente), consegue descobrir o que desvia o corpo para o “vício”. Sem o compromisso de prescrever o tratamento a seguir, reservado que está, quase em exclusividade, à casta teleológica superior (com alguns doutorados, talvez também, em universidades complutenses...).
“De qualquer maneira, sinto que andam por aí inúmeros seres de intolerância ... , desde jacobinos não reciclados, militantemente anti-religião, ... que continuam a fabricar aquelas cumplicidades que lhes permitiram ganhar a vida como pretensos donos daquilo que formalizam como inteligência, mas que assumem a intolerância típica dos inquisidores e sargentos da censura... que apenas toleram que sejam eles próprios os fabricantes da intolerância, da difamação e do insulto. E ai de quem ousar pisar-lhes as calosidades opinativas, rejeitando seguir-lhes os ditames que emitem sobre a partidocracia que os protege e prebenda, ou ofender-lhes os meandros apoiantes do respectivo benefício situacionista.”
[1]

2. Também digo, pela pena de alguém que, finalmente, leio com projecção num dos jornais diários nacionais, que este Governo não reflecte, quase na invisibilidade, qualquer esperança que seja luz, tão imerso que estará na germinação de mais um pseudo plano salvífico, urdindo a sacratura da palavra que convence, apenas, a indigência dos hipócritas.
“Vós sois os eternos críticos e oficiosos biografadores daqueles que, em troca, vos elogiam, irmanados que estais no sindicato das citações mútuas, nesses doces enlevos que vos fizeram encartados homens de cultura ... como cães de fila e vozes de dono, nunca passareis de engraxadores do ditirambo, visando subir mais alto, aos etéreos vértices donde, finalmente, podereis clamar o "cheguei, vi e venci" ...
Pois, continuai a falar em doutrinas como justificação para o insulto e a mentira, como outros disseram pátria e humanidade, para disfarçarem crimes de assassinato físico e moral. Eu não me calarei, enquanto a voz puder ser comunicada aos outros.”
[2]
Doença social em franca expansão para-económica, dado já dever ser o principal recurso para repasto dos necrófagos elencados na casta nomenclatura neuro-democrática, faz com que se governe “por periscópio” (talvez a fazer inveja à enclausurocracia salazarista) ... faz-nos lembrar uma espécie de soldados da paz (do género não bombeiro) que, empenhados na luta sem tréguas (?) do combate ao devorismo flamejeiro, tão distantes que estão dos olhares, insinuações, dúvidas e inquirições, apelos e atropelos ‘bem intencionados’, ... dificilmente escapam à cartesiana dúvida da sua existência! A não ser que sigamos o mesmo cartesiano logicismo de que “eles decretam, logo existem”. Nem que a tragédia dos episódios do quotidiano plebeu os obrigue ao disfarce, ou que isso custe ou ponha em risco a existência alheia!»

[1] JAM, www.tempoquepassa.blogspot.com.
[2] Idem.

domingo, abril 02, 2006

Letras do Pensamento

Quando estas coisas assim me atingem … vejo algo acontecer à educação em Portugal!

Que hoje, para começar, não poderia deixar de ser, também, uma evocação ao “Publicista” Sampaio Bruno, pelos seus contributos que, com os de outros, traçaram um pensamento caracteristicamente português sobre a educação, dentro daquilo a que poderíamos chamar filosofia da educação, no que tem sido “ a preocupação portuguesa pela formação e reformação do homem”. Primeira curiosidade: o facto de, no ano de 1906, Bruno publicar Os Modernos Publicistas Portugueses (talvez a obra “onde mais directa e desenvolvidamente ele se debruça sobre a educação”) e, nesse ano, Raul Brandão publicar Os Pobres, essa obra do seu existencialismo que retratava “a imensa legião de pobres do mundo moderno … resultado da dissolução dos valores emergentes do amor cristão, mediante o império avassalador da cobiça, do dinheiro, do lucro, da acumulação do capital, gerando o desprezo pela dignidade humana e libertando ódios indizíveis”. Assim exprimia “a consciência dramática da miséria aviltante que transforma o homem num farrapo”.


“Estamos a precisar de escrever uma História da Filosofia da Educação em Portugal … todo o país que o mereça ser tem de possuir uma visão filosófica da educação. E essa visão há-de exprimir a história desse povo, que é única.” [1].



É com esta introdução referenciada que me exorto a fazer eco do que, recentemente, fez de mim mais uma vítima do sistema em que, quase inevitavelmente, vivemos! Agora já não me restam quaisquer dúvidas: de entre os contra-poderes da administração pública portuguesa, aquele que mais estruturantemente condiciona e, potencialmente, vicia a reprodução social é, afirmativamente, o do sistema de ensino!

Mas, sobre isso, ainda não me é, jurídico-processualmente, permitido falar! E não o devo, ainda, fazer. Mas há casos que, moral e físicamente, nos transportam para a dimensão pseudo-anárquica do nosso sistema de ensino, onde proliferam processos neo-kafkianos de linchamento profissional, com lobbies que serão, inequivocamente, o maior absurdo de um estado de direito, que se quer democrático, não somente nas declarações solenes e formais, mas nos actos do dia-a-dia do trabalho, sobretudo de quem também anda a tentar construir o futuro! Sem cálices de cicuta!

É perfeitamente frustante, humana e profissionalmente falando, o ataque cerrado mas silencioso dos que, do alto do pedestal onde se sentem atingidos, não se importam de tratar dos seus próprios interesses pessoais em detrimento da implementação das soluções que, quotidianamente, a todos se nos deparam como as mais exequíveis para as situações/problemas que enfrentramos!

Haja Deus!!!

Compreendo, agora, que o lema benfiquista "et pluribus unum" tem muito mais propriedade que a velha máxima coloquial de que "quem não é benfiquista não é bom chefe de família", pois o lema também serve para os caciquismos subservientistas de quem, no ensino, não se identifica com isso, ou seja, "quem não é de esquerda [tipo jacobina] não é bom professor. Para estes, continuo a preferir o meu velhinho de Belém, o meu querido e simpático "Os Belenenses", nem que não fosse, somente, pela Cruz que a todos nós diz respeito (até a cruz da Federação Portuguesa de Futebol o imita)!

Libertemos, também, esta fúria azul, mesmo que a águia nos tenha derrotado este fim de semana!

[1] História do Pensamento Filosófico Português, ob. cit., Vol. V, Tomo 1, pág. 392.