quinta-feira, julho 20, 2006

Opinão ... de Outros Sítios

E ainda ... a propósito do "Sr. Silva",
Lembra-me aquela máxima do cinema português, de meados do século passado, pela boca do saudoso Vasco Santana (virado da rua para o também e não menos saudoso António Silva), quando acicatava, teimosamente, a paciência de quem queria, pacatamente, trabalhar: "Oh Evaristo, ... tens cá disto?"
Mais uma tirada da última do Jornal de Notícias, pela pena do:

Uma aventurana Madeira
A minha ideia de aventura alucinante seria entrar na cabeça de Alberto João Jardim e ver de lá de dentro o mundo durante uma hora. Se sobrevivesse a tão terrífica experiência, haveria de escrever de uma assentada a "Viagem à Lua", de Cirano de Bergerac, o "Tartarin de Tarascon", de Alphonse Daudet e os "Flinstones", de Hanna & Barbera, acrescentados com passagens selectas das"Lições de Finanças Públicas", do sargento Jean-Bedel Bokassa. A "Weltanschauung" de Jardim divide o Universo entre quem não lhe dá dinheiro para carnavais e futebóis (os "mafiosos", os "fariseus" e as "mulas da cooperativa", como era Guterres em 1997) e os "homens intelectualmente honestos" (como passou a ser o mesmo Guterres depois de, em 1999, ter pago 610 milhões de euros de dívidas da Região). Sócrates e o ministro das Finanças pertencem à primeira categoria, por pretenderem pôr cobro ao forrobodó orçamental da Madeira (1252 milhões sem tecto!), assim revelando "falta de patriotismo". Por isso Jardim já requereu ao ainda há pouco "Sr. Silva" que os demita e forme um "Governo de unidade nacional". Além disso, apanhando a boleia do Hezbollah, declarou, dizem os jornais, "guerra aberta" ao Orçamento de Estado. Todos para os abrigos, e cuidado com a carteira!

Opinião ... de Outros Sítios

De vez em quando ... convém dar um ar mais fresco à casa! ...
Ou como mais esta do Jumento pode ajudar a perceber muito melhor a verdadeira essência da necessidade de esclarecimento do fenómeno político-administrativo ( jurídico-constitucionalmente institucionaliozado) que é a descentralização, na complexidade de todas aquelas suas vertentes (e que a jusante terão, também, as suas implicações estritamente socilógicas ou, por outras palavras, as suas consequências em termos de justiça social).
"AS CONTAS QUE AINDA NÃO FORAM FEITAS
Agora que o Alberto anda para aí a mandar bananas para o ar porque deixou de ter o poder da chantagem na AR, uma das maiores vantagens da maioria absoluta de Sócrates, talvez seja a ocasião para que se façam algumas contas que ainda não foram feitas. Receio que ao longo de anos e graças a uma classe política que não dorme a pensar em votos e em poder se tenham criado distorções na distribuição dos investimentos do Estado, dando lugar a muitas injustiças que vão muito para além das habitualmente referidas, a insularidade dos Açores e do território libertado pelo Alberto e a dicotomia entre o litoral e o interior.

Gostaria, por exemplo, de comparar os investimentos públicos realizados na Madeira e os feitos em Trás-os-Montes, o Algarve ou o Baixo Alentejo. E mesmo nessas regiões gostaria de comparar o que se investe nas cidades e o que se investe longe das capitais de distrito.

Seria interessante compararmos os rendimentos de uma exploração do Minho com as dos agricultores que se têm vindo a manifestar em Lisboa, e qual a parte desses rendimentos que correspondem a subsídios estatais.

Saber quem, de uma forma directa ou indirecta, mais beneficia das scuts, para aferir se o pagamento destas auto-estradas beneficia todas as populações do interior ou apenas os mais privilegiados das regiões que beneficiam desse regime. Também faria sentido avaliar o impacto económico do investimento que se faz em scuts para o comparar com o que resultaria de outras soluções que visem o desenvolvimento das regiões.

Seria útil para a compreensão do nosso sistema político conhecer a geografia política dos investimentos públicos, para percebermos se existem regiões abandonadas pelo Estado só porque não estão representadas nos aparelhos dos partidos no poder.

Poderei estar muito enganado, mas se um dia se fizerem estas e outras contas vamos perceber melhor porque razão este país não passa da cepa torta."

Opinião ... De outros Sítios

Numa tirada que provém dos contrastes entre a sorte de uns e a desfortuna dos outros muitos, mesmo com tiques à americana!

Retirado do Jornal de Negócios de ontem
Luísa Bessa
As lições do «Senhor cinco por cento»
lbessa@mediafin.pt


A nova vaga de filantropos americanos foi há semanas tema de capa da «The Economist» que associava a foto do fundador da Microsoft ao sugestivo título de «Billantrophy».
A Fundação Gates, reforçada pela contribuição de Warren Buffett, tem um património de 65 mil milhões de dólares para prosseguir a sua acção no apoio aos países pobres no desenvolvimento de vacinas para doenças como a malária ou a luta contra a SIDA.

Na América dos primeiros anos do século XXI, onde o número de milionários se multiplica de forma nunca vista, não se esquece a mensagem de «devolver à sociedade» a riqueza acumulada ao longo da vida. Os dois casos referidos são de excepção, quer pela dimensão da dádiva, quer pelo facto de um milionário (Buffet) prescindir da ligação do legado à eternização do próprio nome, algo que aparece geralmente associado à contribuição caritativa ou mecenática.

Portugal não tem uma tradição filantrópica ao mesmo nível. Poder-se-á dizer que nunca criámos grandes fortunas e que as condições sociais e económicas são diferentes. Mas é sobretudo uma questão cultural, de assumir a responsabilidade individual perante a sociedade e de ruptura da lógica do legado familiar. Argumentos que podem explicar que nos fiquemos sobretudo pela caridadezinha.

A grande excepção nos nossos dias foi a criação da Fundação Champalimaud, com que António Champalimaud surpreendeu os seus contemporâneos.

Mas a verdadeira excepção não é obra de um português e aconteceu, como disse ontem António Barreto, pelo «mais extraordinário golpe de sorte» da história de Portugal.
A Fundação Gulbenkian instalou-se em Portugal pelas vicissitudes dos últimos anos de vida de um arménio, nascido turco, que ficou conhecido pelo cognome de «Senhor cinco por cento», em referência à forma como multiplicou a já vasta fortuna de família com os contratos petrolíferos da sua Iraq Petroelum Company.
Além de saber ganhar dinheiro, Gulbenkian tinha uma outra paixão: gostava do que era belo e tinha os meios para reunir as obras de arte que lhe estimulavam os sentidos e o conhecimento.
Foi a sua colecção que esteve na origem da Fundação. Pela sorte de que fala Barreto, a dádiva de Calouste Gulbenkian está em Portugal há 50 anos e há 50 anos a contribuir para a mudança e a modernização do país.
Foi durante anos o Ministério da Cultura que Portugal não tinha. Criou organismos residentes (a Orquestra e o Ballet, cuja extinção no ano passado foi por certo a decisão mais traumática da existência recente), apoiou os artistas, abriu museus. Levou os livros onde não havia bibliotecas nem dinheiro para os comprar. Apoiou os investigadores dentro e fora de portas, criou o Instituto Gulbenkian de Ciência.
Soube prosseguir os seus fins em prol da ciência, da educação, da arte e da caridade nos anos do Estado Novo e em democracia, adaptando-se à mudança dos tempos e ultrapassando períodos de maior imobilismo.
Talvez a grande lição da Gulbenkian seja o seu carácter de independência e de exigência. Num país onde impera a dependência do Estado e um entediante culto da mediania, é estimulante ouvir as palavras de Gulbenkian, citadas por Rui Vilar: «Only the best is enough for me».
O «Senhor cinco por cento», que deixou uma fundação que chegou a representar mais de 2,5% do PIB português, continua a dar-nos lições.

Opinião ... de Outros Sítios

Que esta maiêutica anti-socrática possa “dar à luz” …
É uma legiítima pretensão de cidadania, sobretudo quando esta questão, apresentada por este articulista do J Negócios, assume contornos jurídico-político-constitucionais que nos permitem classificá-la como mais um facto político que sirva, paradigmaticamente, a pedagogia da democracia participativa. Não nos devemos contentar com os maquiavelismos, expostos e denunciados pelas pobres e residuais explicações, típicas dos policy makers, mesmo quando se atenuam pelo facto de nos serem, formalmente ou não, prestadas por responsáveis governamentais de posições mais baixas na hierarquia do Poder do Estado.
E, por isso, prezo sempre estas “tiradas” de informação/ reflexão, eu que também tenho um capital de queixas engendradas pelo défice democrático com que muitas das situações, por mim protagonizadas ou não, acabaram por me prejudicar, física, mental e, acima de tudo, profissionalmente, quando agi em conformidade com a minha consciência de cidadão e de funcionário da República.
Então, força rapazes! Mas cuidado, que “dar à luz” é, mais que uma “arte”, certamente um acto violento e, por isso, acarreta sempre alguns perigos, sobretudo quando a democracia se torna, eventualmente, numa miragem (!?...).
As contas que o Governo não presta
Pedro S. Guerreiro
psg@mediafin.pt

A manchete de ontem do Jornal de Negócios deu que falar. É natural: uma redução de 23% na reforma dos que hoje têm cerca de 35 a 40 anos não é coisa pouca. O Governo desmentiu. O Jornal de Negócios mantém.

E como a coisa se passa no campo da matemática é sempre mais fácil berrar do que explicar para conseguir convencer.

O Jornal de Negócios prefere explicar. É o que faz de novo, hoje ainda com mais detalhe, para que o leitor tenha a informação que necessita para decidir. É, também, aquilo que o Governo não faz: não dá todos os dados aos jornalistas, aos deputados, aos parceiros sociais – aos portugueses. É uma opção. Mas não é a melhor opção. E dizer que é impossível prever dados para as próximas décadas é atenuante mas não é desculpa.

A reforma da Segurança Social ainda nem iniciou o processo legislativo mas o Governo já dá o figurino como quase definitivo. Por isso, é nesta altura já uma obrigação (política e moral) prestar toda a informação para que qualquer português possa perceber o que lhe vai suceder. Há uma razão para que o Jornal de Negócios simule o que acontece a quem se reforme em 2030 e não o faça para quem se reforme em 2033 ou em 2027: é que a parca informação que foi revelada só permite fazer o cálculo para 2030...

O secretário de Estado da Segurança Social, Pedro Marques, apressou-se a ir à RTP dizer que o Jornal de Negócios estava errado. E preferiu afirmar que as pensões de quem se reformar em 2030 vão é aumentar 35%. Com a verdade me enganas. Estes 35% são a comparação entre o que um pensionista médio recebe hoje e o que vai receber no futuro. Mas com mais anos de contribuições e outras expectativas salariais. A comparação que o Jornal de Negócios entende como pertinente é também outra: é entre o que um pensionista receberá em 2030, perante as novas regras, e o que receberia se as regras se mantivessem como estão agora (e portanto sem compensar com mais anos de trabalho): menos 23%.

A diferença entre os +35% e os -23% não é matemática. É de pressupostos. É de seriedade. Se é verdade que as pensões aumentam 35% com as novas regras, elas aumentariam quase o dobro se nada mudasse.

O Governo fez uma proposta para reformar a Segurança Social corajosa, até engenhosa, competente e que tem o mérito de produzir efeitos para além dos ciclos de vida políticos. Pela primeira vez, este ano as despesas vão ser superiores às receitas e é neste contexto que esta reforma se assume como inadiável. Mas não há como negar: ou se trabalha mais tempo ou se recebe menos na reforma. E não havia outro caminho - excepto pagar mais impostos.

Mas o mesmo Governo que quer ficar com os louros da grande reforma não deve esconder o custo que ela comporta. Este é um assunto delicadíssimo na vida das pessoas. Elas têm o direito de perceber o seu caso pessoal. E isso o Governo não dá. Quando muito, dá exemplos. Desmente pressupostos sem explicar os seus. Liberta informação parcelar, incompleta, insuficiente. E assim dificulta a discussão esclarecida. Mas o assunto é demasiadamente importante para que não coloquemos questões e façamos o nosso trabalho de casa.

O que interessa não é o desmentido do secretário de Estado ou o brio profissional deste jornal. É a informação esclarecida a que todos os pensionistas, actuais e futuros, têm direito. As contas do Jornal de Negócios prestam. As contas do Governo, Pedro Marques não presta.”