sábado, abril 26, 2008

25 de Abril, Sempre ... por realizar!

"Em certo sentido, o 25 de Abril ainda está por realizar"!



Coloquei bem a vermelho esta constatação presidencial (veja aqui o discurso do PR), revelada nas comemorações de uma data que, embora muitos possam recordá-la, de facto, como eu que estive naquele dia, já nem tantos poderão dizer, como eu, que para ela tenham colaborado! No entanto, este publicum servitore, na mais estrita missão de cultivar a constitucional liberdade de ensinar e aprender, já foi processado, punido, vilipendiado e completamente ostracizado por todos aqueles que, na sombra que os ganhos de Abril a todos proporcionaram, não gostaram (nem ainda gostam) de serem, quando e porque o merecem, apontados como maus exemplos de democracia e de ensino para a cidadania.

Mas, sempre que se aproximam inaugurações, festas, comemorações, ou qualquer outra forma de evocações democráticas, são os primeiros a engalanarem-se e, de peito levantado pelo fôlego que ainda lhes resta por tudo quanto nunca fizeram, prostram-se no mais graxista reverencialismo dos que continuam a querer manter os privilégios que os donos da revolução lhes concederam, quais micro poderes subestatais, burocraticamente escondidos nos meandros das interpretações normativas que o império da lei ainda não soube resolver, para gáudio dos mesmos açambarcadores das clientelas que sobrevivem no limbo da moral de favores caciquistas! É a este Portugal de Abril que a referência presidencial aponta o dedo!

Bem haja, Sr. Presidente! Com essa já ganhou mais um admirador! Gostaria, profundamente, é que estas minhas "lamentações" lhe chegassem aos olhos de ler, ou tão pouco aos ouvidos, para que de qualquer forma se inteirasse de casos como o meu. Tenho a certeza, sobretudo por quanto já li nas consultas internéticas já efectuadas, que estes casos de joguinhos de poder e de lobisinhos bem anichados nos processos de decisão administrativa da gestão escolar pública, em todas as áreas de actividade, são a prova factual e plena do controle das escolas públicas por grupos de interesse, com ou sem ligações partidárias, pseudo-democráticas e altamente lesivas para o interesse dos alunos e expectativas das respectivas famílias, em geral, e do interesse na educação e formação dos cidadãos de amanhã, acima de tudo!

POR FAVOR, SR. PRESIDENTE, INTERVENHA!
APELANDO A TODAS AS SUAS COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS!
DENTRO DO CONSENSO MAIS ALARGADO POSSÍVEL!
AO MAIS ALTO NÍVEL DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS E DOS PODERES DE AUTORIDADE DO ESTADO PORTUGUÊS!

Por isso, não deixei de observar, em mais este postal de meu mui citado mestre JA Maltez, as referências que faz a mais uma evocação de Otelo e das FP-25 Abril.

Aí também pude ler um outro artigo de opinião, redigido em cima das comemorações do hemiciclo de S. Bento, sintetizando as alusões que caracterizaram o conjunto das intervenções dos grupos parlamentares, com o tal destaque para os "problemas actuais":

"Um 25 de Abril virado para problemas actuais

EVA CABRAL

Oposição aproveita sessão solene para atacar Governo PS
Trinta e quatro anos depois do 25 de Abril, o deputado socialista Osvaldo de Castro vai lembrar, no Parlamento, o que era o Portugal dos tempos da ditadura e a evolução depois da revolução dos cravos.

Antecipando o seu discurso de hoje, Osvaldo de Castro frisa ser importante realçar a melhoria da qualidade de vida conseguida com a democracia em Portugal e o facto de esta ter sido aprofundada ao longo dos últimos anos.

Já politicamente activo à data do 25 de Abril de 1974, Osvaldo de Castro - que antes do PS militou no PCP - garante ir fazer uma "saudação especial à juventude" e lembrar factores decisivos para o presente como o processo de integração do País na União Europeia.

Mas, na sessão parlamentar de hoje, os discursos feitos com base numa memória própria vivida nos dias e emoções do 25 de Abril de 1974 acabam no deputado socialista.

Todas as outras bancadas optaram por escolher parlamentares muito jovens que apenas têm da data hoje evocada solenemente uma mera memória histórica. São todos jovens que estão hoje mais virados para os muitos problemas do quotidiano e que atacam as actuais políticas do Executivo.

Miguel Tiago, da bancada do PCP, vai denunciar a "provocação feita pelo Executivo PS ao fazer coincidir a aprovação do Tratado de Lisboa e a revisão do Código Laboral com as comemorações do 25 de Abril".

O jovem deputado comunista frisa que o actual Governo socialista tem seguido uma política de "destruição dos ideais e conquistas de Abril", designadamente nas áreas de serviços públicos de educação e saúde.

Já José Moura Soeiro, do Bloco de Esquerda, vai centrar toda a sua intervenção na questão da educação, "considerada como o factor essencial para o Portugal do futuro".

Numa altura em que os jovens são muito afectados com problemas como os da precariedade laboral, José Soeiro diz ser necessário "uma escola que esbata as diferenças sociais dos alunos". O deputado bloquista adianta ser preciso alterar a ideia de que a escola "deve preparar pessoas para responder ao mercado de trabalho", garantindo que esta deve assegurar muito mais do que isso.

Pedro Mota Soares, vice-presidente da bancada do CDS/PP, vai centrar a sua intervenção nas questões da demografia. O deputado popular - que nasceria só em Maio, cerca de um mês depois do 25 de Abril - defende que a evocação da data histórica deve evoluir.

Para Mota Soares, a sessão solene no Parlamento, até por contar com a presença do Presidente da República, deve ser o momento certo para se fazer "discursos de maior alcance em matéria de futuro". Se reconhece que a evocação histórica é importante, considera ser ainda mais relevante dar resposta a problemas concretos dos dias de hoje. Assumindo que a sua bancada tem tido uma agenda centrada em questões como a protecção da maternidade e paternidade e a criação de um sistema fiscal mais amigável para quem quer ter filhos, Pedro Mota Soares garante ir ainda abordar as questões relacionadas com a criação de emprego, o que passa por alterações a nível da taxa social única (TSU) e da tributação sobre os trabalhadores e empresas.

Luís Montenegro, da bancada do PSD, tinha um ano quando se deu o 25 de Abril, cabendo-lhe a tarefa difícil de nestes dias de turbilhão no mundo social-democrata abordar as questões da qualidade da democracia portuguesa .O deputado do maior partido da oposição refere "ser necessário valorizar a actividade política, e dar um sinal de esperança para a juventude portuguesa".

E, por falar em mais esta episódica referência à “falta de motivação das novas gerações para a política” (veja no site da Presidência o estudo referenciado pelo PR), em plena sessão comemorativa na Assembleia da República, relembro umas linhas de um pequeno livrinho[1] que ando a ler, de Carlos Diogo Moreira, Professor que muito bem conheço do meu ISCSP, quando aponta:

" (...)

Na verdade, porém, o sentimento de que predominavam os interesses de todos e não em especial de alguma área ideológica, e a sensação de mudança efectiva é o que prevaleceu ao fim destas três décadas de democracia. Assim, quando o passado vem à memória já não tem relevância para o presente: é uma mera questão histórica ou um motivo de discussão que já não interessa praticamente a ninguém, se assume um mero carácter pontual ou "folclórico"."

Então, tem ou não pertinência o poema que editei, há já três anos, num jornal local?

31 de Abril! Quem?

Deixa-te abrir, de novo
Abril, de ti possam trazer
Tudo o que de ti não sabem,
Mas mereces: o teu povo


Deixa-t’ abrir, sem queixume
E sem remorso, nem temor,
Sem esses lamentos de dor
Que dão em coisa nenhuma

Deixa-te abrir, agora,
Tirar de ti a semente,
Que dará fruto na gente
À espera, a vida fora!


Deixa-t’ abrir, finalmente
Voltar a pensar, que em ti
É tão bom poder sorrir,
E abraçar o que se sente

Deixa-te abrir, é hora
P’ra de novo dizer que não
Aos vis rapinas da razão
Desse ser que em nós mora

Só então, Abril, verás! Quem
Em ti, sempre viveu e amou
Te quis, te bebeu e chamou
Para chegar ao mais além!

Quem!
Abril, de novo?!

J. R. Coelho
(em versão métrica)

________________________________________________________
[1] MOREIRA, Carlos Diogo, Pátria, Identidade e Nação, UTL, ISCSP, Lisboa, 2007, pág. 42.

domingo, abril 20, 2008

Do devir da democracia virtual

Ou da virologia social vigente

Vejo nas notícias de agora sinais de preocupação que me deixam preocupado: qualquer destes sinais mediatizados caberiam, nos meios jornalísticos por onde discretamente (ou receosamente) circulam, nas 1ªs páginas respectivas, com mérito, dignidade profissional e toda a pertinência como serviço público prestado.

Como vai a democracia que temos!?
Apenas anoto, hoje, dois destes sinais. Sem qualquer preconceito, vindos de vozes que, pela escrita falada, apenas apontam sinais de revolta: o excerto de uma entrevista a uma senhora ex-deputada da nossa Assembleia da República (de quem nunca gostei do estilo, mas que "põe o dedo na ferida", lá isso põe), de uma área ideológico-partidária historicamente revolucionária; e um artigo de opinião que, em 360º graus de perspectriva crítica, pinta o quadro da "doença virológica" que infectou o que ainda esperávamos da democracia ideal. Por isso, talvez nunca tenha passado de virtual - realidades democráticas sustentáveis parecem quimeras ou, no mínimo, fantasiosas utopias dos que habitam o submundo!

Excerto da entrevista a Odete Santos:

"(...) Qual é o partido mais próximo do stand-up comedy real?
O Bloco de Esquerda.

Porquê?
Não me convencem com aquelas tiradas revolucionários. Representam a burguesia intelectual.

À Direita, Aguiar Branco afirmou estar disponível para derrotar Sócrates. Pode ser ele o salvador da pátria laranja?
O PSD tem um drama inultrapassável, seja por que figura for Sócrates faz ainda mais política de Direita do que faria o PSD."


E o artigo de opinião da secção cultura do J Notícias de hoje:

"O vírus e a democracia

1. A vitória eleitoral de Berlusconi, num país de milenárias raízes culturais, não pode passar despercebida. Vivemos uma realidade globalizada, como sublinhou, nas páginas deste jornal, Paquete de Oliveira, em artigo emotivo e inteligente (qualidades não incompatíveis, completam-se e enriquecem-se). Escreve Paquete de Oliveira "as democracias estão a ser impregnadas de perigosos e ameaçadores "vírus". Antes, sublinhava o divórcio do povo e dos políticos, o crescente desprezo daquele por estes. Referia o caos crescente e decorrente. Assim é. Ao chegar a Itália (Janeiro de 1975), onde me demorei quase 15 anos, fervia uma polémica apaixonante, entre Calvino e Pasolini, que o assassínio do segundo interrompeu. Os dois escritores debatiam a sociedade e a política, cuja prática marcava (e, no fundo, continua a marcar) os italianos. Discutiam-se ideais, moral, o presente e o futuro. Mas tudo involuíu - a sociedade deixou que a comprassem, para a explorarem. O vírus instalou-se.

2. E instalaram-se os anos do consumismo inconsciente. Aliás, tornar os cidadãos inconscientes, anestesiá-los, afastá-los de preocupações "incómodas" - ética, justiça, solidariedade - era a meta da política neo-liberalista, que tomou as rédeas. O resultado foi desastroso corrupção, queda do poder de compra, desemprego. Obviamente: no frenesi do consumo, o cidadão mandara às ortigas a intervenção cívica e assim que a casa começou a abrir brechas, responsabilizou os políticos, esquecendo que ele é que os deixara livres: incontroláveis. Virando-lhes as costas, reforçara-lhes a venalidade. E, mesmo assim, ou por isso, buscou um magnata salvador: Berlusconi (na imagem), ao qual volta, agora. Não todos, claro!, mas a maioria - e uma maioria folgada. A década das vacas gordas - os anos 80 - representou o triunfo da contra-cultura. E um país só é dono de si próprio quando investe na cultura - na inteligência e conhecimento.

3. De manhã à noite, somos objecto e vítimas da publicidade de um trabalho de sapa, continuado e implacável, que nos vai vulgarizando, anulando. Quero dizer: que vai uniformizando e enfraquecendo a nossa personalidade. Nunca é de mais lembrar o cão de Pavlov e a campainha. Hoje, a Itália - e muitos outros países - anseia pelo que lhe deram e roubaram: dinheiro. E o drama é que não entendem os que se queixam o seguinte: para atingir a justa estabilidade económica é indispensável não perder de vista a defesa e exercício dos direitos inerentes à democracia."

sábado, abril 19, 2008

Um contributo oportuno para o Tibete

Política e ... Meditação!

Não fazia nada mal aos nossos políticos profissionais enveredar, de quando em vez, por umas meditações 'transcendentais' q. b., qual purga das convulsões neurocognitivas a que, constantemente, se vêm sujeitos, tão hipermaquiavelicamente vivem o empenho com que se devotam à causa pública ...!(?)

Recordando o nosso "Alma sã em corpo são", do saudoso programa público televisionado de Vitorino Nemésio, vou ler mais um texto, certamente apaixonante pela especificidade e diferença cultural da que estamos habituados.



ISBN: 978-972-23-3937-7
Nº de Páginas: 248

Data da 1ª Edição:17-4-2008

Sinopse:"Da autoria de um dos maiores especialistas em medicina tibetana no Ocidente, esta é a primeira obra que nos ensina a aplicar os princípios milenares da sabedoria tibetana Bön à nossa vida quotidiana. Com um carácter profundamente holístico, esta leitura revela-nos a íntima ligação entre corpo, mente e alma, e as formas simples como estes conhecimentos ancestrais podem actuar sobre eles restaurando o seu equilíbrio dinâmico. Hansard desvenda-nos todos os aspectos essenciais à mudança das nossas atitudes mentais e comportamentais - ensina-nos a despertar a sabedoria interior, a conseguir a cura emocional, a fortalecer a mente, técnicas de massagem e rejuvenescimento e ainda exercícios de auto-cura e de meditação. Uma obra que reflecte o percurso de iluminação e de experiência clínica de toda uma vida e que contém em si um extraordinário potencial de renovação."



Não sendo neófito na matéria, não sou um seu especialista. Mas sou, seguramente, um devoto e humilde contemplador desta filosofia (Zen). Cheguei´mesmo, em tenra juventude, a alinhar numas dietas macrobióticas ...! Alimentei-me, muito mais, da parte espiritual e estética destes ensinamentos, muito úteis a quem tem abertura de mente, suficiente para, muito portuguesmente, se conciliar com o cosmos.


"Filosofia Zen

Zen é a forma de Budismo mais conhecida e praticada no Japão. Mais do que uma religião ou seita, o Zen é uma filosofia vivencial que ainda hoje influência muito o povo japonês.
A filosofia do Zen consiste na procura da iluminação através do auto conhecimento; uma busca que ultrapassa os obstáculos mentais criados por nós mesmos a fim de encontrar a verdade em seu estado puro. Trata-se de uma percepção extra-sensorial das coisas, um ensinamento especial que não envolve palavras; apenas chama a atenção para a verdadeira essência do homem. O Zen é também a prática do o auto-controle, da disciplina e da simplicidade no viver.As raízes do Zen estão na China, onde foi trazido da Índia por Bodhidharma no século VI. É uma variação do Budismo tradicional tibetano. A diferença básica entre os dois, é que a filosofia do Zen tenta reduzir ao mínimo as doutrinas e o estudo das escrituras sagradas. Para os praticantes do Zen, a palavra escrita é dispensável no caminho da iluminação."



quinta-feira, abril 17, 2008

Estado-Sociedade-Educação

Da violência reprodutora (ou de como a pseudo-cultura democrática gera múltiplas violências)

Depois de receber mais mail postal do "Portal da Educação", sobre a violência nas escolas de Portugal (algures também), e de, por um acaso, ter lido mais um postal em que o meu mui citado mestre JA Maltez dá uma excelente lição sobre a essência da democracia:

"... O essencial da democracia está no estabelecimento do diálogo entre adversários, como dizia Ortega y Gasset, ou em controlarmos o poder dos que mandam, através do sistema de pesos e contrapesos, visionado por Montesquieu. Melhor ainda: o essencial da democracia está em podermos fazer um golpe de Estado sem efusão de sangue, como dizia Karl Popper. A democracia mede-se menos por resultados eleitorais e mais pela prática governativa das maiorias absolutas. A democracia vive-se e mede-se pela distância que vai da teoria à prática. (...)",

veio-me à ideia o tema da minha proposta de investigação para tese de doutoramento:
"Cultura Democrática e Educação para a Cidadania em Portugal de Abril (Contributos para a formulação de uma epistemologia da democracia e de uma deontologia da sua prática pedagógica).

E, de algumas coisinhas que já me passaram pelos olhos de ler, lembro-me de esta (1):

"... a política de avaliação [dos professores], embora declarando promover o desenvolvimento profissional dos professores e a melhoria organizacional das escolas, não incluía algumas características que a literatura considerava fundamentais para atingir esses objectivos. A implementalão da política visava sobretudo a finalidade administrativa de possibilitar a progressão na carreira docente. Em consequência, foram apresentadas recomendações para a reformulação da política e para a sua implementação de forma mais consonante com as finalidades assumidas."

Dito isto, de outra maneira, o trinómio Estado-Sociedade-Educação desfaz-se num acolchoar de interesses mútuos, entre quem escolhemos para nos governar, e que elegemos para nos avaliar. O sistema que se estruturou com a anterior política de avaliação pariu, há muito, seniores bem instalados nas cadeiras directivas que, à boa maneira caciquista, serão os chefes de equipa das comissões internas que, nas escolas de Portugal, continuarão a gerir os interesses já há muito gerados pelas cliques instaladas.

Por isso, não haverá solução, certamente, que não passe pela analógica instalação, essencialmente democrática, de controlarmos o poder de quem manda, no tal jogo de equilíbrios que só o Estado (a tal componente essencialmente externa e, por isso, isenta e imparcial da avaliação) pode assegurar. As comissões internas de avaliação continuarão, forçosamente (pela inércia característica dos fenómenos grupais intra-organizacionais), a acarretar o pendor das suas decisões a favor daqueles que, em contrapartida, garantirão a continuidade dos seus privilégios.

___________________________
(1) Curado, Ana Paula, Política de Avaliação de Professores em Portugal: Um Estudo de Implementação, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2002, pág. 9. (tradução portuguesa da dissertação de doutoramento da autora).

segunda-feira, abril 14, 2008

Do Jazz fusão sobre o Garb Al-Andalus

«O Andaluz tem sido comparado por muitos autores ao paraíso terreal» (1)

Descobri, agora, este músico (também fusionista cultural através da música) que interpreta soberbamente a convergência mundovidente que reinou neste canto do Mundo chamado al-Andalus.

Do álbum que adquiri, de Renaud Garcia-Fons - "Navigatore" - vê-se a miscegenação instrumental, do clássico ao tradicional folk e ao moderno, onde ressaltam faixas idênticas a esta:




"(...) O Irão, onde antes se implantara o Império Sassânida, revelar-se-ia como um alfobre neste mundo medieval islâmico. A sua influência fez-se sentir no comércio, nas técnicas, nas ciências, na farmácia, na arte, nos termos literários, na música, nas técnicas agrícolas, nos gostos culinários".


"(...) Com o triunfo da Reconquista, o Andaluz surge depois aos olhos dos exilados como o paraíso perdido"

"O amor transforma o amador num pastor de estrelas e planetas:

Pastor sou de estrelas como se tivera a meu cargo
apascentar todos os astros fixos e planetas.
As estrelas na noite são o símbolo
dos fogos de amor acesos nas trevas da minha mente.
Parece que sou o guarda deste jardim vedrde escuro
do firmamento cujas altas ervas estão bordadas de narcisos.
Se Ptolomeu vivesse, reconheceria que sou
o mais douto dos homens a espiar o curso dos astros."




_____________________________________

(1) Autores vários, citados em História do Pensamento Filosófico Português, (Dir. de Pedro Calafate, Círculo de Leitores, vol. I (Idade Média), 2002, pp. 141 e ss.

domingo, abril 13, 2008

Uma boa lição sobre 'Políticas Públicas'

Se eu estivese a passar o capítulo das políticas públicas numa das aulas de Ciência Política adoptaria este artigo de opinião como obrigatório para os meus alunos - eu já o tinha bedm referido: este jornal ainda vai tornar-se uma academia de articulistas.
Eis mais este artigo do já mui referido "Pedrito", com painel de votação para uma pequena sondagem de opinião (já agora, depois explico porque votei 'sim'):

"O nojo

Pedro Santos Guerreiro
psg@mediafin.pt

A indicação de Jorge Coelho para presidente da Mota-Engil convocou o debate das promiscuidades entre política e empresas. E dividiu o País em duas facções: os moralistas e os ingénuos. A demagogia adora divisões assim. Pensar que Coelho está a ser pago por favores prestados é um insulto à inteligência de António Mota.

Não é pelo que fez no passado que Coelho é o preferido pela família que controla a empresa, mas pelo que pode fazer no futuro. Politicamente, é claro.

Se sete anos não é tempo suficiente para período de nojo, então mais vale decidir que ser governante é um caminho sem saída: nunca mais se pode ser nada na vida excepto continuar político ou ser académico. Nesse caso é necessário pagar essa exclusividade: Abel Mateus sai da Autoridade da Concorrência com uma inibição profissional, e bem, de dois anos; por isso recebe, e bem, um subsídio de dois terços da sua anterior remuneração.

Mesmo validar uma contratação desde que seja para empresas que nada tenham a ver com o sector que o ex-ministro tutelou é uma contradição: se o novo gestor nada percebe do sector, a única razão da sua contratação é política.

É evidente que António Mota quer recrutar Jorge Coelho pelos seus contactos políticos. Pela sua influência no PS, que governa. Porque a Mota-Engil está prestes a renegociar com Mário Lino os contratos de concessão de estradas. Porque estão anunciadas oito novas auto-estradas. Mas qual é o mal de querer contratar alguém pela sua rede de contactos?

O mal existe mas é outro: é termos uma economia assente em favorecimentos e dependências recíprocas entre Governos e algumas empresas. São os intervencionismos compulsivos dos ministros, o que cria economias paralelas de privilégios e monopólios. Os métodos são opacos e as justificações populistas. Como dizia António Borges em entrevista há oito dias, a economia está fechada como uma espécie de oligarquia de mercado. Como hoje escreve José Manuel Moreira, num texto obrigatório a páginas 9, “quanto mais se abusa dos meios coercivos do Estado para intervir na economia, mais o sucesso depende da acumulação de capital político”.

Em capital político, António Mota não corre qualquer risco de estar a comprar gato por Coelho. Os accionistas da empresa foram os primeiros a reconhecê-lo, quando valorizaram as acções imediatamente depois da notícia. Mas Mota e Coelho são mais vítimas das circunstâncias em que eles próprios prosperaram do que agentes de uma promiscuidade subitamente desflorada. Na verdade, sempre foi assim. Esse é que é o problema.

Há poucos assuntos tão dados ao populismo como o da migração de políticos para as empresas. E é também por causa do moralismo fácil (a par do aparelhismo cacique e desqualificado) que muita gente de qualidade não está disponível para a política. Mas mal está o País quando o seu Governo só interessa ou a missionários ou a gangsters.

O mundo das empresas está cheio de animais anfíbios, como Luís Filipe Pereira, António Vitorino, Armando Vara, Fernando Gomes ou Ferreira do Amaral e gente que, ao contrário de Coelho, nem nojo teve quando saiu de funções governativas. Entretanto, a Mota-Engil garantiu uma suspeição colectiva e demagógica, que aliás se vai virar contra si, pois todos os concursos que Jorge Coelho ganhar serão sempre linchados na opinião pública.

Se a acção política e os contratos públicos fossem transparentes e escrutináveis, metade desta suspeição sobre a classe política esfumava-se. E metade dos ex-ministros perdia o emprego."

Vote no painel do artigo do J Negócios

sexta-feira, abril 11, 2008

Liberdades, poderes, Natureza, deuses e etc.

Pelo Tibete!

Aqui deixo uma tirada cinematográfica de grande beleza estética, nas mais variadas das suas facetas apreensíveis. Agora que a causa tem uma visibilidade mediatizada, remeto esta evocação para as eloquentes contemplações metacríticas de meu mui citado mestre JA Maltez, nos dois postais de ontem.




"Que delito fiz eu para que sinta
o peso desta aspérrima cadeia
nos horrores de um cárcere penoso
em cuja triste, lôbrega morada
habita a confusão e o susto mora?
Mas se acaso, tirana, estrela ímpia,
é culpa o não ter culpa, eu culpa tenho.
Mas se a culpa que tenho não é culpa,
para que me usurpais com impiedade
o crédito, a esposa e a liberdade?"


Pela liberdade natural
Pela ordem social
Pela memória histórica
Pelo poder espiritual
Pela autoridade temporal
Pela civilização do amor!





Para outras referências audiovisuais sobre o Tibete ver, no youtube:

domingo, abril 06, 2008

E se houvesse PIE's (projectos de interesse educativo)?

Vejo e revejo-me em mais estas linhas do "Pedrito" do J Negócios.

Ao ler mais este artigo do 'Pedrito' do JNegócios veio-me à ideia essa figura normativa dos projectos e/ ou participação em actividades de interesse educativo que os professores deste portugalório devem apresentar para serem devidamente avaliados. Mas já o tenho dito: são os interessados em manter o status quo educativo aqueles a quem, essencialmente, está destinado o controle da avaliação. Por outras palavras, vamos entregar a 'julgamento' muitos 'não-culpados' pelos actos ilícitos dos que os vão julgar. Ou seja, ainda, o problema da eficiência do sistema educativo não está tanto em professores que não 'cumpram', mas naqueles em quem recai a responsabilidade de controlar, sistematicamente, osz métodos, os instrumentos e os resultados, em cada ano lectivo. E ESSES NÃO CUMPREM!
Por isso, gostaria de ver até que ponto não aconteceria o mesmo a eventuais PIE's (Projectos de Interesse Educativo) que aos PIN's referidos neste artigo:

"A montanha pariu um PIN
Pedro Santos Guerreiro

psg@mediafin.pt

Ou melhor: nenhum. Três anos depois do arranque dos fabulosos Projectos de Interesse Nacional, não há que esteja a laborar. Os únicos salários que estão a ser pagos por estes “projectos de elite” são os dos construtores que os erguem e dos consultores que tratam da papelada. Os PIN são um fracasso? Não. O fracasso está no País que tomba à força da inércia.
Os PIN foram lançados como uma “Via Verde” para o investimento; pertencem à era da entrada de leão de Sócrates, quando disse ao que vinha em meia dúzia de semanas, lançando o Plano Tecnológico, os PIIP, os PIN, o PRACE ou o Simplex.
Num país onde qualquer empresário desesperava com as iterações necessárias para pôr de pé um projecto, os PIN propuseram o oásis. Em vez de mudar leis, propunham alterar o processo decisional para contornar os custos de contexto: juntavam todas as autoridades numa sala e desatavam-se todos os nós. Simples, não era?
É uma utopia. Os papéis dos PIN vão para o cimo da pilha de papéis, mas a pilha permanece. Há uma diferença abissal entre os megaprojectos anunciados por Manuel Pinho, os números fantásticos de Basílio Horta e esta realidade funil: de 147 propostas de PIN, a AICEP aceitou 77; apenas 11 estão em execução; nenhum em laboração.
Os empresários queixam-se de haver projectos de primeira e de segunda. Por causa disso, estão a querer chamar PIN a tudo. É como os remetentes de correio normal depois de aparecer o correio azul: o azul passou a ser o normal... Resultado: as direcções regionais de Economia queixam--se de uma “overdose” de PIN. Voltou-se à casa da partida.
O problema não está nem em Pinho, nem em Basílio. As empresas ainda hão-de construir uma estátua ao trabalho da API (cuja cultura e gestão, espera-se, contagiará o ex-ICEP). A questão a colocar é outra: se é assim com os investimentos que têm passadeira vermelha na Administração, como será com os milhares de projectos que não possuem cunha de ministro?"

quinta-feira, abril 03, 2008

Em Nome do Pai

Sobre a Justiça na Educação: um caso revelador de um Estado sem graça!

Veio-me à ideia, agora que revi no canal HWD o filme "Em Nome do Pai", e durante mais este período convalescente em que me encontro, após mais uma recaída dos esquemas kafkianos que os meandros situacionistas dos micropoderes subestatais da educação provocam a "inconvenientes" como eu ..., veio-me à ideia, dizia, a tentação de poder mostrar o que praticamente todos nós já vimos, na vida ou em representações dramatizadas: como se sente um inocente, culpabilizado de actos que o condenam, sistematica e impunemente (dado que quem promove estes procesos já foi indicado, em alegações finais de um processo, como sendo quem deveria estar a ser julgado ...). E nada melhor para o conseguir que através de algumas passagens deste filme, aqui evocado. Especialmente uma das últimas passagens, em que se mostra algo que, em julgamente, é omitido pela acusação, escondido da defesa! Para gáudio da vil condenação de alguém que se sabe inocente! Para se resguardarem do sistema, que teimam em querer defender! Para agradarem e mostrarem serviço que, de outra forma, só revelaria incompetência!




Por isso vou aqui mostrar, a partir de agora, em que irá consistir a campanha que, à semelhança do que também mostra no filme, talvez seja o único caminho para um desamparado social como eu conseguir fazer chegar a voz e a imagem da verdade às devidas instâncias da JUSTIÇA ! Chega de humilhação e instrumentalização! Teremos que VER o que se passa nas escolas de Portugal! Para bem de todos! Para mim, basta! (continua)

PS: E, já que estamos em ambiente cinéfilo, que tal revermos a mensagem de mais este filme (ficcionado) revelador dos meandros ocultos dos poderes instalados? Acho que vale a pena, sobretudo para quem nunca o viu! Também pela analogia que, a partir deste filme, podemos tecer relativamente aos meandros alienígenas de quem nos engana, oprime e controla! Vá, vá lá que vale a pena. Vá ...!