Gostei de revisitar , mais uma vez, o "Ortogal", e de lá ter encontrado, a partir de uma evocação ao nosso Agostinho da Silva, este trecho musical que me lembrou uma das mais conhecidas interpretações de Joan Baez, ainda de finais dos anos 60:
"«Conhecemos tão pouco da vida, do mecanismo complexo que deve ser este do mundo que, segundo me parece, o decidir-se não tem grande valor, senão no que respeita à estima que poderemos manter por nós próprios, à confiança que talvez seja absurda, mas que em todo caso nos permite viver. Creio que, sejam quais forem as circunstâncias, tanto faz decidir-se depois de ter pensado bem um ponto como decidir-se atirando a moeda ao ar... »
Agostinho da Silva, Sete Cartas a Um Jovem Filósofo"
Eu diria aqui, ainda, que cada um de nós é uma parte da vida que não se repete, nesta constante repetição que a vida é feita.
Ela dá-nos tanto quanto cada um consegue percebê-la, nessa acepção meramente existencialista do sentido de posse, que é o mesmo que dizer que o ter é conhecermo-nos, como já diziam os helenistas pitagóricos, pretendendo assim traduzir a vida e o mundo perceptível (percepcionado): quando acedemos ao conhecimento da vida, que em nós mesmos se manifesta, sabemos que somos apenas o que a vida depositou em nós, que quando já não somos é a vida que se recupera, porque só somos a vida e não apenas o que pensamos dela, e que tudo o mais pertence, como um artefacto da ilusão, ao vácuo da imaginação fantasiada, único fundamento dos egoísmos impertinentes (ou egos absurdos).