domingo, abril 30, 2006

Hoje ... de Outros Tempos

Entre conjunturas europeias e pseudo-revoluções, o destino malfadado da portugalidade, a qual, em dias como este de 1536 do nosso D. João III, dá sinais de não voltar sem o inevitável sebastiânico nevoeiro!
Para recordar destaco, de entre as efemérides possíveis que seguem, a primeira ...

30 de Abril
- de 1536. A Inquisição é instalada em Portugal.
- de 1789. George Washington é empossado no cargo de Presidente dos Estados Unidos da América.
- de 1845. Nascimento de Oliveira Martins. Historiador autodidacta, socialista, defensor mais tarde da instauração de um regime autoritário, será um dos membros da «Geração de 70» do século XIX.
- de 1945. Adolfo Hitler suicida-se em Berlim.
- de 1948. Criação da Organização dos Estados Americanos (OEA).
- de 1975. O Brasil, os Estados Unidos da América, a Espanha e a França reconhecem o novo regime saído do golpe de estado de 25 de Abril anterior.

Vejo as notícias e as datas que a História tem marcadas para os dias deste fim de semana prolongado, ainda mais prolongado neste feudo cor de laranja-amargo-doce (…), e que me aguça o topete? Uma sobre a CGD, no JN de sexta-feira (artigo de um leitor), outra com o artigo de VPV no Público de sábado, tudo isto para servir de condimento às minhas razões, também causadas por episódios da minha vida profissional, tornando pessoais as lamentações de muitos daqueles que, noutras épocas, sofreram com perseguições inquisitoriais, das que ainda andam por aí …

"Desejo falar livre, mas não posso. Nunca se veja o que eu daqui já vejo (…) A medo vivo, a medo escrevo e falo, tenho medo do que falo só comigo; mas ainda a medo cuido, a medo calo (…)"

António Ferreira em Poemas Lusitanos

Valha-nos Deus!

Por tudo isto e o muito mais da nossa infelicidade de que vamos sendo vivos testemunhos, no meu pensamento dançam ideias sobre o bailado social que todos temos seguido, já de cor pela persistência com que insiste em nos condenar, nas garras de um qualquer Leviathan devorador dos seus próprios filhos …
Ah!, Luís Vaz, que desta praia lusitana só andamos por mares já dantes navegados …, pois este mar continental não será, certamente, dominium nostrum! …


A Inquisição

"Maria Mendes foi presa. Confessou logo. Denunciou quantos filhos tinha, netos e parentes, (…) todos quantos conhecia e lhes sabia os nomes, que se entendeu que havia denunciado mais de seiscentas pessoas. Ainda assim foi condenada a morrer queimada. E negou tudo, declarando serem tudo falsidades que haviam posto sobre si e sobre
seus próximos (…) Estando esta mulher no auto já para morrer, uma filha sua que saiu no mesmo auto, em altas vozes lhe quis lembrar alguns parentes, para que ali no auto fosse denunciá-los e não morresse (…)"

Padre António Vieira em Notícias recônditas do modo de proceder da Inquisição com os seus presos (adaptação)

(Retirado da Diciopédia 2000, Porto Editora - veja-se o desenvolvimento do artigo sobre a Inquisição)


A Inquisição era um tribunal eclesiástico destinado a defender a fé católica: vigiava, perseguia e condenava aqueles que fossem suspeitos de praticar outras religiões. Exercia também uma severa vigilância sobre o comportamento moral dos fiéis e censurava toda a produção cultural bem como resistia fortemente a todas as inovações científicas. Na verdade, a Igreja receava que as ideias inovadoras conduzissem os crentes à dúvida religiosa e à contestação da autoridade do Papa.

As novas propostas filosóficas ou científicas eram, geralmente, olhadas com desconfiança pela Inquisição que submetia a um regime de censura prévia todas as obras a publicar, criando o Index, catálogo de livros cuja leitura era proibida aos católicos, sob pena de excomunhão.

As pessoas viviam amedrontadas e sabiam que podiam ser denunciadas a qualquer momento sem que houvesse necessariamente razão para isso. Quando alguém era denunciado, levavam-no preso e, muitas vezes, era torturado até confessar. Alguns dos suspeitos chegavam a confessar-se culpados só para acabar com a tortura. No caso do acusado não se mostrar arrependido ou de ser reincidente, era condenado, em cerimónias chamadas autos-da-fé, a morrer na fogueira.


Execução de condenados pela Inquisição, no Terreiro do Paço, em Lisboa (séc. XVIII)

Defendendo a Igreja Católica as concepções geocêntricas, por as considerar mais de acordo com as Sagradas Escrituras, opôs-se totalmente à teoria heliocêntrica de Copérnico que Galileu defendeu, impondo-lhe silêncio sobre as suas opiniões.

Por isso, a publicação do livro Diálogo sobre os Dois Maiores Sistemas do Mundo custou a Galileu a instauração de um processo pela Inquisição na sequência do qual ele foi obrigado a negar as suas convicções.

"Nós, os cardeais da Santa Igreja Romana, pela graça de Deus, tendo sido nomeados inquisidores-gerais da Santa Fé Católica, verificámos que tu, Galileu, filho de Vicente Galilei, florentino, de 70 anos de idade, já no ano de 1613 foste denunciado a este tribunal do Santo Ofício, em virtude de considerares verdadeira a falsa doutrina de que o Sol é o centro do mundo; e de aceitares a ideia de que a Terra não está imóvel [...].Tendo os teólogos e doutores considerado estas teorias absurdas e erróneas [...] e tendo nós constatado que, depois de teres sido advertido, publicaste em Florença um livro intitulado Diálogo dos Dois Sistemas do Mundo, de Ptolomeu e de Copérnico, no qual continuas a defender as mesmas opiniões [...], declaramos-te, Galileu, fortemente suspeito de heresia. Deverás renegar publicamente as tuas teorias, contrárias aos ensinamentos da Igreja; e ordenamos que o referido Diálogo seja proibido e tu próprio aprisionado nos cárceres do Santo Ofício, ficando à nossa ordem." (Processo de Galileu, semelhante a muitos outros que vão acontecendo, um pouco por aí...).
(Retirado do Google)