Desta vez, porém, acho que o Manuel A. Pina bateu forte, fortemente, como quem chama por nós, com o intuito de fazer chegar a cada um a opinião, certamente, de muitos quantos também se encontram com o coração, se não na boca, pelo menos nas mãos, ou para o amansar, tal deve ser o estado de encolerização, ou para que não definhe com o Estado a que as coisas estão a chegar!
Gente não é certamente, e a vida não bate assim:
Das duas uma: ou o Governo engana todos os dias os portugueses quando lhes diz que a situação económica e financeira melhora, a "crise" está a ser ultrapassada e os sacrifícios pedidos a todos excepto à Banca (diminuição de salários reais, despedimentos, trabalho precário, incumprimento das leis, miséria) acabarão em breve, ou então contou o conto do vigário aos chineses ao convidá-los a investir em Portugal porque os salários são baixos e a hipótese de virem a aumentar é menor do que nos novos países da UE. Porque, obviamente, os chineses não farão investimentos em Portugal para durarem apenas um ano. Se a comitiva de Sócrates garantiu aos chineses expectativas altas em relação aos salários baixos dos portugueses é porque, também obviamente, o Governo tenciona prosseguir a política de "os pobres que paguem a crise", pelo menos até os bolsos dos que se alimentam da crise estarem tão cheios que alguma coisa inevitavelmente acabará por cair deles. O que o Governo foi dizer aos chineses foi que, quanto a remuneração e protecção do trabalho, Portugal é uma espécie de China da Europa, pelo que se sentirão em casa. E alguma garantia disso os chineses hão- -de ter tido, pois, segundo os jornais, assinaram já acordos de centenas de milhões de euros."