sábado, setembro 23, 2006

Que ninguém me diga que é apolítico

Qualquer dia faço uma Sebenta de “Textos de Crítica” politológica.

Não posso deixar de alertar o meu mui citado mestre JAM da pertinência destes textos que por aqui e por outras bandas da imprensa nacional vou lendo com atenção, de forma a que a Escola que, por tradição já secular, se devota ao pensamento político em Portugal, tenha estas publicações em consideração, pelo devido respeito académico que merecem.
Não é caso para menos, com estes artigos de opinião. Eu cá tinha as minhas razões para me sentir intrigado com a transbordante pertinência dos conteúdos de algumas rubricas que uma meia dúzia de articulistas do Jornal de Negócios deixa sair da pena das suas mãos. E não me enganei. Penso que felizmente, pois todos devemos, certamente, beneficiar com isso, não apenas porque assistimos a uma exemplar manifestação de liberdade de expressão; ou tão somente porque lemos num jornal temático linhas de prosa que nos mostram realidades que ultrapassam a categoria dos temas de que deveriam tratar. Não.
Este Jornal é um grande exemplo do que qualquer órgão de comunicação social (seja ele público ou, mesmo, privado) deve cumprir, de forma a que a Comunicação Social se torne definitivamente, no nosso País, na instituição que assume a missão a que por natureza (social) está vinculada: a de ser o principal Observatório Social, veículo dos fluxos da informação pública multidireccionada (recebida e emitida, ascendente e descendente) que interessa à sociedade descodificar e gerir.

Só assim, entendo eu e muitos, todos participaremos (democraticamente) na organização (definição, edificação, manutenção, desenvolvimento e regulação) do sistema social a que, inevitavelmente, pertencemos. E, por isso, que ninguém me diga que é apolítico. Há dois milénios e meio que Aristóteles negou essa pretensão, sobretudo àqueles que, pelas mais variadas justificações, se alheiam e afastam da realidade a que nenhum de nós (cidadãos que reclamamos viver em sociedade e em democracia) pode fugir: a da polis. Porque esta implica e exige tudo isto a que acabei de me referir. A partir
deste artigo do J. Negócios:

Os revolucionários do Beato
Pedro S. Guerreiro
psg@mediafin.pt

O Compromisso Portugal apresentou ontem várias propostas, muitas delas boas, outras que deviam ser Lei, algumas irrelevantes, poucas que não prestam e várias irrealizáveis.

É uma elite empresarial que é e será sempre acusada de querer trampolim para chegar ao poder governativo, de se afirmar como grupo de pressão com interesses próprios.

Podemos sempre suspeitar das motivações empresariais, políticas ou egocêntricas dos promotores; podemos sempre perguntar o que estão a fazer esta manhã pelo País aqueles que ontem à noite se deitaram com a boa consciência de terem cumprido o seu dever cívico; podemos sempre criticar quem propõe utopias mas jamais as testará – o programa eleitoral mais fácil de fazer é o do partido que sabe que não vai governar. Podemos sempre fazer isto tudo. Mas também podemos deixar a idade do armário e olhar para o que fica do Compromisso deste ano. Sem complacência, com exigência.

Quando Carrapatoso se declara revolucionário e contra os reaccionários, está (propositadamente?) a convocar a discussão em torno da acusação mais consistente feita ao Compromisso Portugal: a de que é um movimento que apresenta as suas propostas como não ideológicas mas que tem uma ideologia latente, mesmo escondida – a tecnocracia; a tese de que o País fica melhor entregue a gestores; o mito da solução única, que é a tecnicamente mais adequada. Como nas empresas.

É por isso que o poder político não comparece ao "rendez-vous" no Beato. Não quer valorizar. Não quer ver Carrapatosos, Mexias, Borges e Relvas a enfileirarem conquistas nos seus terrenos. Porque uma sociedade só percebe soluções técnicas se forem explicitadas ideologicamente, porque um Governo não é uma empresa, porque a despolitização dos assuntos distancia as pessoas, porque a glória de um movimento da sociedade civil é a desnecessidade dos partidos políticos – e são os partidos que interpretam a realidade. Ao invés, os tecnocratas do Compromisso Portugal falavam ontem do País com a mesma linguagem com que falam das empresas: a que aprenderam nos MBA. Posicionamento estratégico. Vantagens competitivas. Quotas de mercado. Nichos. Estratégia de competitividade.

O Compromisso Portugal nasceu como um contra-movimento a outro grupo de empresários, que assinou o "Manifesto dos 40" pedindo a defesa dos centros de decisão nacional. Os proteccionistas despertaram os liberais e estes venceram-nos. Esta é a nova geração, que já cresceu em democracia e sucede aos empresários que se zangaram com o País em 1975. Por isso, não tem contas a ajustar. Por isso, é gente pragmática, optimista, provocante, ambiciosa, que defende a economia de mercado, a concorrência. E é nesse deslumbramento que António Carrapatoso subverte a realidade e "desideologiza" a palavra "revolucionário", chamando de "reaccionários" provavelmente a gente do Bloco de Esquerda e dos sindicatos imobilistas.

No fim da jornada de ontem, sobra um incómodo: para que serviu isto? Seja o que for, não pode extinguir-se num estudo que se entrega a quem aprouver – o Compromisso Portugal é um movimento de elite, não é uma consultora. Ser grupo de pressão não é defeito – é virtude, mesmo que a sua força resulte mais da representatividade económica do que da popular.

A Convenção do Beato não foi um comício, foi uma reunião de trabalho. E dela emerge uma constatação: o Compromisso Portugal tem uma visão e apresenta medidas para a alcançar. E esse é um desafio lançado a um Governo que parece sempre aprisionado pela gestão aflita do quotidiano.

Para um País, o melhor está em quem quer gerir o Estado. O pior está em quem quer gerir o poder. No Governo ou no Compromisso.”

sexta-feira, setembro 22, 2006

Mas afinal ... que é que esta gente quer?

(Ou a felicidade de ser apenas um cidadão)
Encontros para debater questões meramente económicas não são! Convenções gerais de natureza partidária não parece, igualmente, traduzir o conteúdo das mensagens ou a finalidade das intenções.
Lembro-me de ter reparado nas notícias publicitadas que, na altura do primeiro destes encontros no Convento do Beato, fizeram furor pela "película de verniz" social, espelhada em tão notáveis autores de intervenções e assistência. Aparentemente, por razões socialmente objectivas ou por meras fobias subjectivamente germinadas nos cidadãos que vão acumulando complexos sócio-político-partidários e/ ou ideológicos geradores de frustações, só me lembro de ter uma sensação e uma ideia imediatas: medo, perante a provável elite tecnocrática, constituída a partir do mais que provável mixed "ring" da residual elite dominante e da contra-elite ao Poder. Toda ela político-economicamente liberal, capitalista e pseudo-aristocrática.
Segui, com atenção, as opiniões de dois comentadores do Jornal de Negócios:
"Políticos assumem poder sem estarem preparados e estão orientados para a conquista do voto
Susana Domingos
sdomingos@mediafin.pt


António Carrapatoso defendeu hoje que os Governos têm assumido o poder sem estarem preparados para tal, tendo uma orientação focalizada na conquista dos votos, considerando o Estado “fraco”. O responsável aponta ainda o dedo à sociedade civil que “é fraca e pouco interventiva”.

Estas foram as principais razões apontadas hoje pelo Compromisso Portugal, através de António Carrapatoso, para explicar as razões que levam a que as reformas não sejam eternamente adiadas em Portugal.

Para começar, a sociedade civil "é fraca e pouco interventiva" , existindo uma "incapacidade dos governos de estruturar e explicitar uma visão de verdadeira mudança, da forma como a sociedade está organizada e funciona", afirmou o responsável.

António Carrapatoso afirmou que "os Governos assumem o poder sem estarem preparados, sem terem um programa de mudança. Têm uma visão táctica orientada para a conquista do voto", adiantando que "os governos têm uma fraca capacidade de gestão".

Estado é pouco independente
Carrapatoso considera que "há um poder desproporcionado de corporações e outros grupos de interesse sobre o Estado", afirmando que o "Estado é fraco e pouco independente, o que obriga a que exista uma sociedade civil atenta".

Outra razão apontada para a não concretização das reformas é o "facto de existir uma opinião pública pouco esclarecida e com uma elevada resistência à mudança".

Atendendo a estas razões, só a força e pressão da sociedade civil e uma opinião pública esclarecida permitirão ultrapassar estes factores de "bloqueio" e "forçar"a realização das necessárias rupturas, defende António Carrapatoso.

Na intervenção que decorreu no Convento do Beato, o responsável afirmou que "o modelo social actualmente é insustentável e injusto", não criando "igualdade de oportunidades e um dos sinais é o abandono escolar de 40%".

No que toca à segurança do trabalho, "as leis rígidas só vão prejudicar e portanto o Compromisso Portugal defende a flexibilidade como uma forma positiva para assegurar a segurança no trabalho".

Quando se referiu à justiça em Portugal, António Carrapatoso definiu-a como "incapaz, corporativa" e que "não dá confiança ao cidadão". O responsável defende a mudança do sistema judicial "se queremos confiar nele".

"O sistema de saúde tem falta de indicadores claros da sua eficiência. A qualidade ambiental tem vindo a degradar-se e, sem fazer convergência entre interesses da economia e do ambiente, até a economia fica posta em causa no longo-prazo".

Cidadão precisa de ser responsabilizado e valorizado
António Carrapatoso defendeu ainda que "o cidadão tem de ser responsabilizado e valorizado. Os direitos sociais têm de ser claramente definidos, o Estado tem de ser forte, independente e subsidiário e tem de existir flexibilidade".

O responsável acrescentou que "o modelo social tem de ser capitalizado mas mantendo pensões mínimas sociais".
"Compromisso na prática
Sérgio Figueiredo
sf@mediafin.pt


Uma nota prévia: agora que são conhecidos os seis documentos de base à discussão na Convenção do Beato, sem sombra de dúvidas que a qualidade do trabalho e da matéria de reflexão subiu vertiginosamente face à primeira iniciativa que o Compromisso Portugal realizou há dois anos.
O método deste ano partiu de grupos de trabalho, liderados por relatores, que produziram umas "versões preliminares", debatidas e aperfeiçoadas pelo "plenário" dos vinte e tal promotores principais.

Contrasta, para melhor, com o "improviso" de 2004, em que a Convenção foi baseada nas intervenções de mais de uma dezena de "estrelas", que ali desfilaram durante um dia inteiro. O Compromisso amadureceu, apresenta trabalho mais estruturado e essa é a primeira utilidade que a nossa classe empresarial dali pode extrair: há um exemplo que revela a diferença entre os resultados produzidos em equipa e aqueles que se obtêm a partir de iniciativas individuais.

Por mais brilhantes que sejam, os espanhóis habituaram-se a partilhar riscos, a unir esforços, a trocar informação, a dividir até clientes e seguirem em consórcio para mercados internacionais e projectos de grande dimensão. Ainda somos o país do "cada um por si" e essa atitude é uma barreira invisível para a competitividade.

Assim, sem ainda ter começado, esta segunda Convenção do Beato já está melhor do que a primeira. Longe de ser perfeita. Longe de ser equilibrada. Longe de ser uniformemente eficaz nas seis áreas que são propostas para a agenda nacional.

O que traz então concretamente de novo o Compromisso para Portugal?
O exercício mais completo e mais prático, até hoje conhecido, sobre a redefinição das funções do Estado. O relatório assinado por Fernando Pacheco e Nogueira Leite explora as boas práticas internacionais. Sobretudo na Educação, na Saúde e na Administração Pública. E adapta-as à nossa situação concreta.

Avança com metas quantificadas. Duplicar o peso dos privados na oferta de ensino. Aumentar, para cerca de um terço, a prestação de cuidados de saúde nos hospitais privados.

Estima impactos. E surpreende. É na gigantesca máquina pública, não tanto na cedência de funções sociais, é portanto no extermínio das grandes ineficiências do Estado que, à luz da experiência de Berlim, se obtêm as maiores poupanças.

Num curto espaço de tempo, o sistema de impostos pode ficar aliviado de 5 mil milhões de euros por ano. E quase 200 mil pessoas ficarão libertas para produzir algo de útil. Este trabalho já vale um Compromisso. Mas não o esgota.

No modelo social surgem as respostas que o PSD foi incapaz de dar. Sabemos, assim, os custos de transição para um sistema de capitalização: 155 mil milhões de euros. Uma barbaridade.
É proposto um método.

Emissão, anual, entre 2007 e 2051, de 3,5 mil milhões de dívida pública nova para pagar as actuais responsabilidades. Que implica, para o défice até 2051, um fardo anual de 0,6% do PIB só em pagamento de juros. E que a partir daí, com as amortizações, sobe para mais de 1% do PIB até ao fim do século. O exercício é meritório. A opção, propriamente dita, impraticável.

E há também um destaque muito especial para a Justiça e a Educação. E o mérito de enfrentar o reino das corporações. Dos juízes e dos professores. De colocar a transparência no centro das relações do Estado com os cidadãos.

De introduzir os mais básicos princípios de gestão. De premiar quem leva a sua profissão a sério. E castigar aqueles que não prestam contas, que atingiram o Nirvana, que confundem deliberadamente discrição com opacidade. E defendem o sistema.

Enfim, o sistema questiona-se e a elite autocritica-se. Essa é a parte mais estimulante do Compromisso Portugal."

terça-feira, setembro 19, 2006

Opinião ... de Outros Sítios

Por que será que este tema - o da elite - dá sempre tanto que falar!?!

Não vou recomendar, por não ser cronologicamente viável a leitura oportuna de uma tamanha obra, a única tese de doutoramento em Portugal dedicada ao tema da elite, do meu querido Professor António Marques Bessa - "Quem Governa? Uma Análise Histórico-Política do Tema da Elite". Mas não faria mal a ninguém que a lesse, tal é a pertinência da sua leitura relativamente ao momento sócio-político que, nestes dias, se viverá em Portugal. Como nos dá conta este já nosso conhecido colunista do JNegócios, em mais uma das suas "bicadas":

"Razão para desconfiar

Sérgio Figueiredo
sf@mediafin.pt

Há duas formas de encarar o movimento de elites, como aquele que depois de amanhã volta a reunir centenas de gestores e empresários no Convento do Beato.

Uma, céptica, corresponde à visão de um dos nossos grandes advogados que, ao Jornal de Negócios de sexta-feira, explicava porque era rara aquela entrevista: "Não aparecer é uma das poucas formas de elitismo que restam em Portugal."

A outra, romântica, é aquela que leva o seu filho a aparecer. Não só a aparecer na Convenção de quinta-feira, como a promovê-la, a assumir ali o protagonismo do debate sobre o tema da justiça.

Portugal está algures, entre o distanciamento de Vasco Vieira de Almeida e o empenho de João Vieira de Almeida, à procura de um rumo. Por vontade do pai, não era o "Compromisso Portugal" que mudava o país. Se dependesse do filho, não era de mudança que se falava, mas de ruptura.

Modelo Social. Competitividade. Justiça. Papel do Estado. Ambiente e Ordenamento. Educação. São os seis temas à discussão, por um movimento que renasce dois anos depois, e sintetizados num documento já disponível na Net (www.compromissoportugal.pt) que os próprios classificam como "provocatório".

Evidentemente que o modelo social precisa de ser reformado, porque os resultados que delem se tiram resumem-se a um fracasso nacional. Não existe, aliás, outra forma de interpretar a "bandeira de Cavaco" no combate à exclusão, senão o reconhecimento, ao mais alto nível, desse fracasso colectivo.

A competitividade da economia tem de ser, como é lógico, objecto de reflexão, devem portanto remover-se os bloqueios que se colocam às nossas empresas, porque até hoje ainda não se inventou o progresso de uma nação sem empresas saudáveis.

E, como óbvio, não é possível encarar um país socialmente mais justo e economicamente mais competitivo, se a justiça continuar a ser aquilo que é, se o ambiente e o ordenamento do território continuarem a ser depreciados, se o Estado não sofrer o choque de mudança necessário.

E, por fim, para que tudo isto seja sustentável, para preparar as futuras gerações para prosseguirem o caminho de desenvolvimento, é necessário mudar a cultura que prevalece no nosso sistema de ensino.

Portanto, não falta mote ao "Compromisso Portugal". Nem faltam motivos para a elite se inquietar. Nem a nação está bem, nem muitos daqueles promotores se recomendam. Mas, e o "pai" Vasco que me desculpe, é sempre preferível vê-los em manifestações públicas do que em peditórios privados.

Outro Vasco, ainda mais céptico, o Pulido Valente, escreveu na primeira Convenção algo do género: "Se esta gente estivesse no poder, o Governo caía num dia." É uma afirmação que se autodestrói: eles não estão no Governo, por isso é um absurdo exigir-lhes que se comportem como se estivessem.

Também um colunista de um jornal não escreve a pensar assim, senão pelo menos VPV deixava de fazer aquilo que faz como ninguém, se pensasse como um ministro...

Há, portanto, uma terceira forma de olhar para o Compromisso Portugal: a oportunidade para debater o que é preciso mudar. Com rupturas – e elas são necessárias para derrubar o "império das corporações". Com transições – e elas são recomendáveis quando se discute o modelo social e o papel do Estado.

Não me interessam as ambições políticas do dr. Carrapatoso. E é idiota desqualificá-lo por razões como esta. Se querem algo mais pateta, fica aqui uma revelação: foi um espanhol, Rafael Mora, que baptizou o movimento de "Compromisso Portugal". Em vez de só patearem, podem cantar o Hino Nacional."

Opinião ... de Outros Sítios

Em estilo laboratorial, dissecando o Homo democraticus ...
Vejo que há artigos de opinião que poderão contribuir para as linhas de uma sempre necessária renovação da teoria política. Os conteúdos da crítica que por estes lados, no Jornal de Negócios, e os de outros articulistas, noutras bandas dos escaparates jornalísticos, se vão construindo, constituem um material empírico à espera de uma adequada constextualização teórica, que a politologia académica tem de abarcar.
Neste artigo retirado do JN a sua autora dá-nos uma visão das vicissitudes por que passam os protagonistas da elite política, como autênticos actores de uma ópera chamada democracia ...
"Um assunto demasiado sério
Luísa Bessa
lbessa@mediafin.pt

Há na política um pingue pongue verbal que faz parte das regras do jogo. Os partidos têm diferentes projectos e para se baterem por eles precisam de evidenciar as diferenças. Se fizessem o contrário deixavam de ter razão de existir.
Tocamos na essência da democracia. Ser eleito em função de um conjunto de propostas, governar de acordo com elas e depois ser avaliado pelos eleitores.

É verdade que às vezes as coisas não são assim tão simples. Nem os eleitos governam exactamente de acordo com aquilo que prometeram nem as propostas são, frequentemente, o critério essencial para a decisão dos eleitores, que avaliam cada vez mais a confiança que lhes suscitam os candidatos do que as propostas propriamente ditas. Mas isso é outra conversa.

De acordo com estas regras, a defesa de pactos de regime entre quem está no poder e quem está na oposição pode parecer «contra natura». Aplicando-se os «pactos» a matérias que vão mexer com interesses instalados - e convém ter presente que quando se muda alguma coisa há sempre alguém que sai prejudicado -, é óbvio que a colagem da oposição a este tipo de decisões a faz partilhar os custos.

Apesar disso, o PSD tem insistido na proposta de pactos para um conjunto de matérias e faz bem. Ao fazê-lo Marques Mendes corre o risco de partilhar alguns custos da reforma, mas assume-se como o interlocutor privilegiado do Governo e o rosto da alternância, com a postura de Estado necessária a quem se apresenta como candidato a líder do Governo. E disponível para as decisões difíceis a que o estado do país obriga.

Até agora a estratégia tem-lhe corrido bem. Na Justiça, ninguém ignora que foi o primeiro a propor um pacto, logo em 2005, iniciativa que José Sócrates rejeitou liminarmente. Um ano mais tarde, o pacto aí está. Pode pecar por defeito, nomeadamente por excluir o reforço da luta contra a corrupção, mas mais vale um pássaro na mão do que dois a voar.

Seguiu-se a Segurança Social. Com as propostas do Governo em discussão entre os parceiros sociais, o PSD deu o passo em frente: classificou-as de insuficientes para o longo prazo e propôs que uma parte das contribuições fossem canalizadas para um regime de capitalização.
José Sócrates aproveitou a deixa e anunciou a indisponibilidade do PS para aceitar a «privatização» da Segurança Social. Para diluição já basta o acordo na Justiça, de menor carga ideológica, era a mensagem implícita.

Mas, apesar das declarações públicas, é preciso perceber que: 1) o PSD não propõe a privatização da Segurança Social mas a adopção de um sistema misto, semelhante ao que foi adoptado por governos sociais-democratas europeus; 2) que o PS não exclui liminarmente essa opção, apesar de tudo o que tem sido dito nos últimos dias.

Assim, se a discussão é para levar a sério, convém que o PSD responda rapidamente ao Governo, ao PS e aos portugueses, como se propõe fazer a transição e quanto vai custar aos cofres do Estado a quebra nas contribuições que asseguram o pagamento dos actuais pensionistas, para responder à provocação de Vieira da Silva de que o que tem para apresentar se resume a «umas folhinhas no jornal oficial [no site do partido] que até são de difícil leitura».

Se o não fizer conclui-se que está a usar a proposta de pacto na Segurança Social como mero instrumento do pingue pongue do discurso político, o que não convinha mesmo nada. Primeiro, porque o assunto é demasiado sério. Segundo, porque as propostas do Governo para o reforço da sustentabilidade da Segurança Social são um bom princípio mas podem não ser suficientes. E já não há tempo a perder."

quinta-feira, setembro 14, 2006

Opinião ... de Outros Sítios

Subscrevo ... mas, porque sou Professor, sem comentários (?)

Mais um dos "coices" do Jumento:
"Carta aberta a um Professor
Imagem que nos foi dedicada pelo Cartunes e Bonecos [Link]
a propósito do início do ano lectivo [+]
Estimado professor,Agora que vai começou mais um ano lectivo venho desejar-lhe os maiores êxitos, estou certo de que fez e vai fazer tudo o que está ao seu alcance.Não sei se vai continuar com os memos alunos do ano passado, mas o mais certo é que tenha alguns novos alunos, e até é muito provável que tenha sido colocado noutra escola e mesmo noutra localidade.Se permaneceu na mesma escola, melhor, conhece o ambiente cultural do meio, a atitude dos pais e alunos, está integrado socialmente e já é respeitado, conhece muitos dos que vão ser seus colegas e sabe das dificuldades da escola. Se ficou com as mesmas turmas, melhor ainda, conhece os seus alunos, as suas dificuldades, as estratégias pedagógicas mais adequadas, já dialogou com os pais para entender melhor os seus alunos, pode trocar impressões com os seus colegas, vai aproveitar do trabalho que já iniciou.Em qualquer dos casos já preparou o novo ano lectivo, depois de ter gozado as suas merecidas férias estudou bem as turmas a que vai leccionar, analisou o passado escolar do seus alunos, identificou os que poderão vir a ter mais dificuldades e estudou as melhores soluções, dialogou com outros professores desses mesmos alunos, tentou identificar as razões do insucesso, dialogou com os seus pais tentando mobilizá-los para uma tarefa que também é deles, discutiu com o conselho directivo sobre os recursos disponíveis para fazer face a situações cujas causas são estranhas à escola, com alguma sorte o estabelecimento conta com o apoio de psicólogos que lhe deram sugestões sobre a melhor forma de adequar as suas estratégias pedagógicas ao comportamento dos alunos mais problemáticos.Nesta ocasião já tem uma boa parte das aulas preparadas, planificou a sua vida de forma a minimizar o risco de ter que faltar, teve em consideração a possibilidade de proceder a correcções e até mesmo a eventualidade de faltar por usar o direito de aderir a uma greve cujas reivindicações apoia porque considera justas ou está legitimamente a defender os seus interesses.Todos sabemos que os recursos são escassos, que o frio se vai fazer sentir nos dias de Inverno, que a funcionária auxiliar não vai estar quando faltar o giz, que a proibição de despesas que o governo costuma decretar lá para Outubro por causa do maldito défice vai impedir de fazer tudo o que tinha previsto realizar. Também sabemos os horários do infantário dos seus filhos não foram feitos a pensar no seu, que o ministério da Educação vai adoptar medidas que o farão sentir frustrado, que as autarquias consideram mais importante a inauguração de mais uma rotunda do que a qualidade do ensino no concelho, que as empresas que um dia irão empregar os seus alunos consideram que a sua formação é coisa que não lhes diz respeito.Mas, sabe bem que mais do que da qualidade das instalações, da temperatura das salas de aulas, das políticas educativas ou dos recursos materiais de que dispõe, é do seu trabalho que em grande medida depende o sucesso escolar dos seus alunos, que é você o grande agente de mudança do ensino.Estou certo de que fez tudo o que podia para assegurar o sucesso deste ano lectivo e venho desejar-lhe que no final do ano se possa sentir feliz pelos resultados do seu trabalho, e olhar as pautas das suas turmas com orgulho.Bom trabalho."

Subscrevo ... mas, porque sou Professor, sem comentários (?)

Mais um dos "coices" do Jumento:
"Carta aberta a um Professor
Imagem que nos foi dedicada pelo Cartunes e Bonecos [Link]
a propósito do início do ano lectivo [+]
Estimado professor,Agora que vai começou mais um ano lectivo venho desejar-lhe os maiores êxitos, estou certo de que fez e vai fazer tudo o que está ao seu alcance.Não sei se vai continuar com os memos alunos do ano passado, mas o mais certo é que tenha alguns novos alunos, e até é muito provável que tenha sido colocado noutra escola e mesmo noutra localidade.Se permaneceu na mesma escola, melhor, conhece o ambiente cultural do meio, a atitude dos pais e alunos, está integrado socialmente e já é respeitado, conhece muitos dos que vão ser seus colegas e sabe das dificuldades da escola. Se ficou com as mesmas turmas, melhor ainda, conhece os seus alunos, as suas dificuldades, as estratégias pedagógicas mais adequadas, já dialogou com os pais para entender melhor os seus alunos, pode trocar impressões com os seus colegas, vai aproveitar do trabalho que já iniciou.Em qualquer dos casos já preparou o novo ano lectivo, depois de ter gozado as suas merecidas férias estudou bem as turmas a que vai leccionar, analisou o passado escolar do seus alunos, identificou os que poderão vir a ter mais dificuldades e estudou as melhores soluções, dialogou com outros professores desses mesmos alunos, tentou identificar as razões do insucesso, dialogou com os seus pais tentando mobilizá-los para uma tarefa que também é deles, discutiu com o conselho directivo sobre os recursos disponíveis para fazer face a situações cujas causas são estranhas à escola, com alguma sorte o estabelecimento conta com o apoio de psicólogos que lhe deram sugestões sobre a melhor forma de adequar as suas estratégias pedagógicas ao comportamento dos alunos mais problemáticos.Nesta ocasião já tem uma boa parte das aulas preparadas, planificou a sua vida de forma a minimizar o risco de ter que faltar, teve em consideração a possibilidade de proceder a correcções e até mesmo a eventualidade de faltar por usar o direito de aderir a uma greve cujas reivindicações apoia porque considera justas ou está legitimamente a defender os seus interesses.Todos sabemos que os recursos são escassos, que o frio se vai fazer sentir nos dias de Inverno, que a funcionária auxiliar não vai estar quando faltar o giz, que a proibição de despesas que o governo costuma decretar lá para Outubro por causa do maldito défice vai impedir de fazer tudo o que tinha previsto realizar. Também sabemos os horários do infantário dos seus filhos não foram feitos a pensar no seu, que o ministério da Educação vai adoptar medidas que o farão sentir frustrado, que as autarquias consideram mais importante a inauguração de mais uma rotunda do que a qualidade do ensino no concelho, que as empresas que um dia irão empregar os seus alunos consideram que a sua formação é coisa que não lhes diz respeito.Mas, sabe bem que mais do que da qualidade das instalações, da temperatura das salas de aulas, das políticas educativas ou dos recursos materiais de que dispõe, é do seu trabalho que em grande medida depende o sucesso escolar dos seus alunos, que é você o grande agente de mudança do ensino.Estou certo de que fez tudo o que podia para assegurar o sucesso deste ano lectivo e venho desejar-lhe que no final do ano se possa sentir feliz pelos resultados do seu trabalho, e olhar as pautas das suas turmas com orgulho.Bom trabalho."

terça-feira, agosto 29, 2006

Opinião ... de Outros Sítios

Em memória do Professor Doutor José Maria Gaspar ...
Que, na cadeira de Direito Administrativo, nos ensinou que, nesta terceira República, vivemos uma autêntica "diarreia legislativa". E não é que ele lá tinha as suas razões, teóricas e retóricas, quantas bastasse para, mesmo à margem de uma definição científica da provérbica expressão, se constatar que o caminho que os procesos legislativos têm seguido (latamente entendidos com todos os factores que os contornam em consideração) só comprova aquela que quase pode ser uma máxima para os políticos actuais: "o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira"!!! em mais esta do Jornal de Negócios.
"Cair na real
Luísa Bessa
O que nasce torto tarde ou nunca se endireita. Diz o ditado popular e deve ser verdade. O dito aplica-se neste caso ao Código do Trabalho.
Nascido do ímpeto reformista do Governo de Durão Barroso, que como se sabe não resistiu a dois anos de crise económica, o Código foi apresentado para revolucionar das leis do trabalho em Portugal, contribuindo para uma maior flexibilidade e por essa via para o aumento da competitividade da economia.
Os objectivos eram justos mas depois de mais de um ano de discussão, o resultado final ficou aquém das expectativas. Foi a consequência da via sacra da política em Portugal: contestação sindical incluindo uma greve geral, e já depois de aprovado, da passagem pela fiscalização preventiva do Tribunal Constitucional, que declarou inconstitucionais alguns artigos.
Expurgado de inconstitucionalidades, o Código entrou em vigor em Dezembro de 2003. Desde então, ao contrário do que vaticinavam as centrais sindicais, nenhuma revolução varreu as relações laborais em Portugal. Tudo como dantes, neste país de brandos costumes. E ainda haveremos de ver os que o atacaram a defendê-lo, em nome dos direitos adquiridos...
A relação do PS com o Código também é ambivalente. Em 2003, como maior partido da Oposição, votou contra. Na campanha para as legislativas de 2005 fez da revisão antecipada uma das suas principais bandeiras, que verteu na íntegra no programa do Governo.
O Governo, que pretendia equilibrar a relação de forças entre trabalho e capital, protegendo os trabalhadores, comprometia-se a seguir «uma estratégia de transformação modernizadora da legislação laboral» - o que quer que isso quisesse dizer. Mas, embora em sentido contrário à mudança iniciada por Durão Barroso, também o ímpeto de Sócrates esmoreceu.
Vieira da Silva agiu primeiro como bombeiro. Com a lei 9/2006 introduziu alterações de carácter urgente para impedir que à caducidade das convenções colectivas se seguisse o «vazio», respondendo à pressão dos sindicatos que se viram pela primeira vez confrontados com o risco de as convenções caducarem em situações de falta de acordo entre os parceiros (antes do Código na falta de acordo entre patrões e sindicatos as convenções antigas mantinham-se em vigor, o que significava na prática a manutenção do status quo). A lei entrou em vigor no início do ano mas nem por isso o ritmo de assinatura de novos contratos acelerou de forma significativa - até meio do ano havia menos de cem novos contratos assinados, em média com os 200 do ano anterior. Com a nota positiva de alguns bastante inovadores, como o do sector do vestuário.
Apagado o fogo das convenções, o Governo reduziu a ênfase na revisão do Código, uma postura que limita os atritos com as confederações patronais, em especial com a CIP, que logo quando o Governo tomou posse havia declarado inaceitável a revisão antecipada.
E assim a comissão do Livro Branco, que desde há meses se sabe que será presidida por António Monteiro Fernandes, continua a marcar passo, sem ser formalmente constituída. Sem dar o braço a torcer, o Governo acabou por atirar a revisão para 2007, a data prevista no próprio Código. Mas pelo caminho que as coisas estão a tomar, até pode ser depois.
Tudo depende da amplitude da revisão, que os sindicatos, em especial a CGTP, vão querer maximizar. Veremos como descalça o Governo a bota de atirar a conflitualidade entre patrões e sindicatos inerente ao processo de revisão para o segundo ciclo da legislatura. Vieira da Silva, às voltas com a reforma da Segurança Social, pode estar renitente em comprar outra guerra sobre o Código do Trabalho. Ou pode, simplesmente, ter caído na real."

quinta-feira, agosto 24, 2006

Opinião ... de Outros Sítios

Choques, contra-choques, pára-choques, petrolíferos, de ideias, de cabeças, eléctricos, tecnológicos ... disto anda o Mundo cheio!
Gostei deste episódio aqui narrado, tirado de mais uma das cronistas do Jornal de Negócios (este jornal tem uns colaboradores nada condizentes com o significado literal do seu título ...?), e daquele ar tão naturalmente lusitano dos que se perdem na imensidão do deserto da genuína ignorância. Vale-nos o semper fidelis publicum servitorem, mesmo quando queremos, em qualquer recanto que não seja o de nossas casas, aliviar-nos das dolorosas necessidades da bexiga - apesar de nos WC da CP os utentes ainda terem de pagar 50 cêntimos para esse alívio, em pleno choque ... tecnocrático)

"O choque tecnológico no Portugal profundo
Isabel Meirelles

Não ter acesso à Internet, à nossa caixa de mail para enviar ou receber correspondência electrónica, bem como estar, ainda que temporariamente, impedido de tirar partido de todas as funcionalidades que as maravilhas tecnológicas põem hoje à nossa disposição é, para quem tem o vício e a necessidade, quase o mesmo que ser homeless. Pelo menos, é assim que me pressenti quando, estas férias, ao ter que ir ao concelho de Coimbra primeiro e ao de Mourão depois, decidi levar o meu portátil que, contudo, tinha a dificuldade de poder não ter nos locais de destino ligação à famigerada Internet a fim de poder continuar conectada com o mundo em geral e o trabalho em particular. Em suma, férias mas non tropo.
Ora, para acautelar a situação, decidi ir à loja de um operador de telecomunicações onde adquiri uma placa que, qual milagre, me dava ligação sem fios à tão almejada Internet, bastando seguir as instruções de instalação de um simples CD que vinha no pacote. Parecia simples, nem sequer muito dispendioso e, assim munida, senti-me, qual Jacinto das Cidades e das Serras, a empreender uma viagem dos Campos Elísios até Tormes, carregada de bagagem repleta de civilização.
Contudo, tal como aconteceu a Jacinto, a minha bagagem tecnológica não se perdeu, mas pode dizer-se que a situação se lhe equivaleu, porque fui absolutamente incapaz, apesar de todas as tentativas desesperantes e desesperadas, de pôr a bendita da placa de ligação à Internet a funcionar, o que me estava a impedir, com todos os prejuízos sobretudo psicológicos daí decorrentes de, designadamente, enviar os textos destas crónicas.

Instalada a incapacidade e o pânico, decidi tomar outras medidas drásticas e procurar, no caso vertente em Miranda do Corvo, um pólo cibernauta, um qualquer ciber café que, para espanto meu existia, mas que em Agosto se encontrava fechado para férias! Afinal até o plano tecnológico tem direito a época estival. Já no limite do meu tempo, e quase à beira de um ataque de nervos, munida de pen e de disquete, e de tudo aquilo que fosse compatível com o mais jurássico dos equipamentos, dirigi-me à Câmara Municipal onde não só havia Internet como o atendimento foi surpreendentemente profissional, tendo-me sido indicada a biblioteca municipal onde o serviço disponibilizado, para além de gratuito, foi digno de um qualquer organismo de paradigma finlandês.

Uma semana mais tarde voltou-me a acontecer algo semelhante em Mourão, onde a cena se repetiu. Munida da experiência adquirida dirigi-me ao Cibercafé que, desta feita, estava com os servidores em baixo. De novo foram os computadores da Câmara a salvar a situação, igualmente com enorme mérito do funcionário respectivo que, com uma eficiência, gentileza e profissionalismo impares, provia às necessidades informáticas do burgo.

Chegada à capital em terreno informático firme, precipitei-me com curiosidade ávida na pesquisa do Plano Tecnológico em cujo website se pode ler que o Plano Nacional de Acção para o Crescimento e o Emprego 2005-2008 é a resposta portuguesa aos desafios propostos pela Estratégia de Lisboa relançada, com destaque para os objectivos de aposta na sociedade do conhecimento, o aumento dos níveis de competência, o desenvolvimento científico e tecnológico e um processo de aprendizagem ao longo da vida.

É sem dúvida um plano estratégico, e talvez a espinha dorsal do nosso desenvolvimento, que conta com um montante global de fundos comunitários de 22,5 mil milhões de euros, dos quais cerca de 75% se destinam à modernização do tecido económico e empresarial, bem como da qualificação e da reconversão profissional.

Contudo, como parece que já está a acontecer, e falo desta experiência marcante, o exemplo tem que vir do próprio Estado, seja ele Administração Central ou local, até para que os Jacintos doutras paragens se sintam tão confortavelmente como em Tormes, numa simplicidade bucólica, mas com o essencial das comodidades actuais que passam pelas indispensáveis tecnologias de informação e que são parte integrante da sociedade do conhecimento que se almeja mesmo para os sítios mais recônditos deste nosso Portugal."

domingo, agosto 20, 2006

Letras do Pensamento

Lembro-me, desde pequeno, que também nas fachadas dos tribunais de Portugal se poderia ler a inscrição latina ... Domvs Iustitiae!
Pressupunham os romanos haver justiça (ius) quando o fiel dos pratos da balança que a deusa Iustitia, de pé e com os olhos vendados, segurava na mão esquerda, se encontrava perfeitamente ao meio.
Ao que os gregos também chamavam isonomia, embora a deusa Dike, filha de Zeus e de Thémis, também de pé mas com os olhos bem abertos, igualmente de espada na mão direita e de balança na mão esquerda, declarasse haver justiça (íson) estando os pratos equilibrados.
A partir deste paralelismo, apenas me asalta o pensamento estoutro que é o da figura dos Estados de Direito, mas onde nuns o ius ou íson está mais em equilíbrio do que noutros. (1)
Lembro-me assim que, por exemplo, em Portugal não se vislumbra a reparação de danos de qualquer espécie de um sujeito tão culpado como é um distribuidor de tabaco, pelos sobejamente conhecidos malefícios que traz à saúde (já na esfera, ainda mais grave, que é o da saúde pública), tal como acontece neste caso aqui reportado a partir da notícia do Público.
"Tabaqueiras norte-americanas condenadas por terem enganado os consumidores

Um tribunal federal norte-americano considerou que as maiores tabaqueiras do país enganaram os consumidores durante anos sobre o risco que o tabaco representa para a saúde, devido à utilização de expressões como "light" e "suave" nos maços, e obrigou as companhias a retirar essas referências dos seus produtos.

Apesar da condenação, a juíza Gladys Kessler não definiu qualquer indemnização a pagar pelos fabricantes, ao contrário do que pedia o Departamento de Justiça norte-americano.
A juíza ordenou às empresas visadas (Philip Morris USA Inc., Altria Group Inc., R.J. Reynolds Tobacco Co., Brown & Williamson Tobacco Co., British American Tobacco Ltd., Lorillard Tobacco Co., Liggett Group Inc., Counsel for Tobacco Research-USA e o extinto Tobacco Institute) que publiquem nos jornais e nos seus sites na Internet comunicados a corrigir as situações apontadas na sentença. Entre elas, que sejam clarificadas as particularidades do tabaco e da nicotina que causam dependência e as suas consequências para a saúde.
Mais importante ainda, a juíza federal obriga as tabaqueiras a eliminar rótulos como "baixo teor de alcatrão" ("low tar") "light", "ultra light" ou "suave" ("mild"), já que estes produtos apresentam os mesmos riscos dos cigarros clássicos devido à forma como são consumidos.
Na sentença, lida ontem, a juíza de Washington considera que "ao longo de mais de 50 anos, os réus mentiram, iludiram e enganaram o público americano, incluindo fumadores e jovens que avidamente procuraram como 'fumadores substitutos', sobre os efeitos devastadores do tabaco para a saúde e do fumo ambiental de tabaco [fumo passivo]".
Departamento de Justiça pedia programa nacional antitabágico
O processo movido pelo Departamento de Justiça norte-americano pedia também a criação de um programa nacional antitabágico. Apesar de admitir que tal plano "serviria inquestionavelmente o interesse público", a juíza explicou que não poderia ditar a sua implementação devido a uma decisão anterior que determinou a obrigatoriedade da aplicação de soluções prospectivas e não retrospectivas.
Este processo arrastava-se nos tribunais norte-americanos desde a presidência de Bill Clinton, com a Administração federal a exigir 7,8 mil milhões de euros às tabaqueiras para aplicação em programas que ajudem os fumadores a abandonar o vício.
Perante a decisão da juíza Gladys Kessler, as tabaqueiras congratularam-se com o facto de não terem sido alvo de "penalidades monetárias injustificadas e extraordinariamente caras", segundo Mark Smith, porta-voz da R.J. Reynolds Tobacco Co.
Ainda assim, este porta-voz lamentou que a juíza tivesse considerado que as tabaqueiras conspiraram para violar a lei federal e enganar os consumidores, avisando que os advogados da empresa vão analisar a decisão judicial e decidir se apresentam ou não um recurso.
O Ministério da Justiça, por seu turno, não ficou agradado com a ausência de uma penalização financeira sobre as tabaqueiras. O queixoso acredita, ainda assim, que as medidas impostas pelo tribunal "possam ter um impacto positivo e significativo na saúde do público americano".
Todas as empresas, à excepção do Liggett Group, foram ainda condenadas a pagar as custas judiciais do processo, que ascendem a 109 milhões de euros.
Na Europa já não há cigarros "light
"As tabaqueiras, nomeadamente as norte-americanas, tentaram contestar a directiva da União Europeia que obriga à colocação dos já comuns avisos nos maços sobre os perigos do tabaco para a saúde, que também eliminou as expressões como "light" e "ultra-light" das embalagens de cigarros.
A legislação comunitária, que data de 2002 e que entrou em vigor em 2003, obriga as tabaqueiras a colocar avisos nos produtos à venda na Europa sobre os problemas de saúde que podem ser provocados pelo consumo do tabaco. O mesmo diploma obrigou ao desaparecimento, no espaço comunitário, de marcas de tabaco que utilizem a denominação "mild" ("suave", em português) e "light".
A directiva versa ainda sobre a composição dos cigarros, nomeadamente fixando limites de alcatrão, nicotina e monóxido de carbono na sua constituição.
As tabaqueiras Imperial Tobacco e British American Tobacco contestaram a legislação no Tribunal Europeu de Justiça, no Luxemburgo, a mais alta instância judicial comunitária, mas o tribunal não considerou que as directivas em causa sejam demasiadamente rígidas, como defendiam os queixosos."
(1) Adaptado de Chorão, Mário Bigotte, Introdução ao Direito, vol. 1, Almedina, Coimbra, 1989, pp. 27-28.

sexta-feira, agosto 18, 2006

Opinião ... de Outros Sítios

"Até um dia destes, se Deus quiser"! Assim me despedi dos que há anos não via, nos corredores da minha Escola que é o ISCSP.
Já a meio deste mês que nos destinam para descanso, tenho que começar a tratar dos assuntos que é necessário resolver para mais um ano de trabalho (s), ou para o tornar o menos pesado possível, entre tempestades e cabalas (?)! E porque venho agora com esta? Pois, após ter tido uma conversa, tão instrutiva como amiga, com o meu antigo Professor de "Métodos" Fausto Amaro, vejo outro dos meus docentes de então ao fundo, no meio da luz ao fundo do "corredor", mas com o mesmo aspecto de sempre, como se os anos lhe não tivessem passado por cima. sempre agarrado aos livros, que consigo transporta! E que, agora, mais do que há já muito tempo não é, anda com um ritmo de leitura impressionante! Depois da Mega cabala que, entre outras das vicissitudes dos meandros político-universitários, o obrtigou a uma "protecção" cardíaca! Falo do mui controverso Professor José Júlio Gonçalves, que na Sociologia me ensinou a ter sempre muita atenção ao "cheiro", uma variável de análise sociológica impressionante, a seu ver merecedora de uma especialçização sociológica ... não me esquecerei tão facilmente!
E assim me apetece rever estas conjecturas ao espelhá-las neste artigo de verão do já mui referenciado autor desta rúbrica que é o Sérgio Figueiredo, e nele compreenderão a razão de ser deste paralelismo de conteúdos. Como me dizia hoje de manhã o Prof. JJ, há por aí muitos desses "novos cães de guarda"!
"Bancos de Agosto

Sérgio Figueiredo
sf@mediafin.pt



Esta coluna não deverá ser hoje lida pela metade do país que descansa em férias. E mesmo a outra metade, aquela que aproveita o lento ritmo de Agosto para trabalhar sem grandes sobressaltos, merece um prévio pedido de desculpas.
Porque é terrivelmente aborrecido ter de reflectir sobre os impostos e sobre lucros. Sobre as poupanças que faltam e os juros que sobem. Sobre quem paga e quem não paga. Sobre justiças e outras coisas mal justificadas.
O Jornal de Negócios adapta-se ao Verão. Porque procura estar sempre adaptado aos hábitos dos seus leitores. E quer ver uma coisa curiosa? O Ministério das Finanças concorda. Senão leia na página 22, precisamente no caderno «Verão», o levantamento exaustivo que o «staff» de Teixeira dos Santos realiza às notícias económicas publicadas em todos os jornais nacionais.
Adivinhou: nestes meses caem a pique. É, portanto, um instinto de sobrevivência, os jornais especializados ajustarem a oferta de conteúdos à época. Programam-se trabalhos diferentes, publicam-se entrevistas diferentes, sem contudo abdicar dos cromossomas que nos distinguem dos outros.
E, com este tal instinto de mercado, as duas jornalistas que assinam dois dos melhores trabalhos da nossa edição de hoje deram-me a mesma resposta, quando lhes disse que o editorial do jornal era sobre o seu assunto. A mesma resposta, em duas conversas separadas: tentaram demover-me.
Não o conseguiram. E cá estão eles, os juros (página 26) e os impostos (páginas 14 e 15) a servir de mote. Com dois denominadores comuns: um é que, em ambos os casos, não queremos que eles subam; o outro é a banca. O sistema financeiro está presente pelos impostos que pagam e pelos juros que cobram.
Pouco no primeiro caso. Muito no segundo. Por isso são tão impopulares. Tão imprescindíveis quanto impopulares. Também por isso, por serem um «bem comum», por Portugal ter uma das populações mais bancarizadas da Europa, são frequentemente discutidos com muita demagogia e pouca informação.
Os lucros exorbitantes, a tributação insuficiente, a relação assimétrica que mantêm com o cliente: quando os juros directores sobem, o custo do crédito cresce e o rendimento do depósito... esquece.
Pois bem, há uma boa notícia de Verão neste assunto árido: os bancos voltaram a andar atrás do seu dinheiro. Pela primeira vez em muitos anos, praticamente desde que o país iniciou a rota de aproximação ao euro, estamos a assistir a uma guerra pela poupança.
É verdade! Todo o sistema financeiro esteve concentrado nos últimos anos a promover o principal negócio: o crédito deles, que é o nosso endividamento. Não há memória de uma grande campanha sobre um produto de poupança, uma conta especial.
Os juros pagos, na grande maioria dos casos, inferiores à inflação. É normal que a banca não faça grandes ondas, do género «deposite no nosso banco e perca menos que nos outros». O cliente, logo, a conta, estava ganho pelo contrato da casa. E do carro. E da viagem de sonho.
Quando o Banco Central Europeu aperta a política monetária e os juros directores sobem isso não é mau para a banca. Pelo contrário, as margens aumentam, mas, ainda assim, dá e sobra para remunerar melhor a poupança. A economia agradece.
E os impostos? Pois é. Há razões para a taxa efectiva de IRC da banca ser a que é. E há razões para os lucros apresentados crescerem como crescem. Mas o facto é que a taxa efectiva de imposto sobre os lucros da banca cai para 18%. E os lucros continuam a crescer.
Se há explicação para isto, temos outra situação inédita: são os banqueiros que estão em dívida para com a sociedade. Devem, no mínimo, a pedagogia da explicação. É que, quanto mais se olha para aquele IRC de 18%, mas vem à memória o número que, em letras garrafais, vinha estampado na primeira página de ontem: 1.350. Milhões. De euros. De lucros. De cinco bancos. Num simples semestre."

Frescas e Boas

E ainda me perguntam porque vou à pesca?
Para mim, e certamente que também para muitos outros, é o melhor "stress killer" que conheço. Sem a necessidade de recorrer a ansiolíticos ou a outros meios de o ultrapassar!
É bom estar à beira-mar. Por múltiplas razões que cada um encontrará, e por isso só podemos avaliar os efeitos terapêuticos da sua proximidade em termos relativos à personalidade de cada um, que é o mesmo que dizer que a constatação objectiva dos efeitos tranquilizadores do espaço, do som e dos cheiros marítimos apenas pode ser interpretada subjectivamente. Mas que o mar lá tem a sua "magia", isso todos o podemos corroborar, de uma maneira ou de outra.
Agora, para as crianças, que podemos encontrar de relaxante ou tranquilizante, mesmo de anastesiante em casos de dor física? Sempre soube de alguns "remédios", que todos empiricamente classificaríamos de entretenimento ou, se quisermos, animicamewnte distrativos!
Agora parece que, afinal, a TV serve para mais alguma coisa! Fui buscar esta à Associated Press:
TV Found to Be a Painkiller for Children
By SETH BORENSTEIN
AP Science Writer
WASHINGTON (AP) -- Sometimes the numbing effect of TV can be helpful. Especially if you're a kid being stuck with a needle at the hospital. Researchers confirmed the distracting power of television - something parents have long known - when they found that children watching cartoons suffered less pain from a hypodermic needle than kids not watching TV.
Especially disturbing to the author of the scientific study was that the cartoons were even more comforting than Mom.
While it's good to have a powerful distraction for children getting painful medical procedures, it is also troubling "because we have demonstrated the excessive power of television," said chief author, Carlo Bellieni, a father of three and a neonatologist and pediatrician at the University of Siena in Italy.
His research at a nearby hospital was reported this week in the British journal Archives of Disease in Childhood.
The study involved 69 children, ages 7 to 12, who were separated into three groups and then asked to rate their pain on a numerical scale when they were stuck with needle used to take a blood sample. The children's mothers also rated the kids' pain.
Those watching TV cartoons reported half the pain as those who were being soothed by Mom. When compared with children who just sat in a hospital room with mothers who didn't try to soothe them, the TV watchers reported one-third the pain.
"The power of television is strong and it can be harmful for children if it is stronger than the force made by the mother to distract children," Bellieni said. "I believe that this power must be controlled and reduced."
In general, Mom's soothing touch may be overrated, another expert said.
Other studies have found that the mothers and fathers attempts at comforting often backfire because it makes the children feel that "something must really be bad" if they need to be soothed, said Dr. Brenda McClain, director pediatric pain management services at Yale University.
McClain, who was not part of the Italian study, said the Bellieni's effect may not be just television, but any kind of distraction, such as storytelling. "Distraction is a very powerful tool," she said.
But it's got to be passive distraction like television, not one requiring children to do anything because when they are asked to play, their reported pain levels go up, a study last year found, said Dr. Stephen Hays, director of pediatric pain services at Vanderbilt Children's Hospital.
Bellieni, who has noticed the distracting effect of television on his own kids, theorizes that being absorbed in television releases pain-reducing hormones in children.”

quinta-feira, agosto 17, 2006

Horizontes da Academia

Educação para a saúde, Psicologia, Ciência Política ... Cidadania! Eu cá tinha as minhas razões ...
Há já uns anos que tenho tentado demonstrar, por diferentes modos e vias, possíveis de viabilizar na actividade escolar, questões tão basilares para a educação como as que a entrevistada na peça seguinte da Educare nos parece apontar. Sobretudo, ao nível do que, também agora através do novo elemento curricular que é a "Área de Projecto", é possível realizar nas aprendizagens para uma verdadeira e sã consciência para a cidadania. Bem haja!
""Tornar os professores os coitados do sistema não ajuda"
Entrevista com Margarida Gaspar Matos, psicóloga e investigadora na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa, que se dedica há três décadas à educação para a saúde.
Psicóloga de formação, o perfil de Margarida Gaspar Matos não se encaixa no tradicional espartilho de investigadora e académica. Desde a infância que os pais lhe estimularam o gosto pelas viagens, pelas línguas e pelas artes. Num país amorfanhado pelo cinzentismo do Estado Novo, Margarida Gaspar Matos, actualmente com 50 anos, admite ter sido uma priveligiada. Fez ballet, praticou música, passou longas temporadas um pouco por todo o Mundo, teve uma infância que se estendeu para lá dos limites de Coimbra. Tudo isso deixou, claramente, marcas no percurso pessoal e profissional.
Desde cedo sentiu-se desperta para o trabalho comunitário. Resultado: juntou saberes da psicologia e da saúde ao bem-estar social e à aprendizagem de diferentes culturas para criar o projecto Aventura Social.~
Recusa-se a colocar em prateleiras distintas temas aparentemente tão díspares como a sida, a violência na escola, a arte, a exclusão social ou a educação sexual. Porque acredita que todas elas têm por base a cidadania.
EDUCARE.PT: Há quanto tempo trabalha na área da saúde?
Margarida Gaspar Matos
: Há 30 anos. Enquanto finalista do liceu, apresentava uma grande inclinação para as ciências. Durante a adolescência, confrontei-me com o carácter aparentemente errático dos comportamentos individuais e dos grupos. Das várias possibilidades que se abriam à minha frente na entrada para a faculdade, decidi-me pela Psicologia, deixando para trás as outras duas opções possíveis - Medicina ou Biologia. Durante o curso, tive a oportunidade de fazer trabalho clínico em psiquiatria no Hospital Santa Maria e, a partir daí, desenvolvi uma enorme apetência pelo trabalho na comunidade, pela intervenção precoce e preventiva no desajustamento, incluindo cenários e actores relevantes da vida dos indivíduos.
E.: Quando se alia a saúde à cidadania e à educação, isso significa o quê, concretamente?
M. G. M.: Significa uma nova abordagem da saúde, perspectivada enquanto bem estar e não ausência de doença. A visão da saúde como participação social começou no fim da II Guerra Mundial e cada vez mais tem tomado força como ideia e como praxis.
E.: Esta é uma área de desenvolvimento recente em Portugal?
M. G. M.: Sim, em Portugal e no estrangeiro. Nós tivemos aqueles anos do Estado Novo, em que estas preocupações nem se punham a nivel da população, embora já se fizessem sentir pelo menos a partir do fim dos anos 60 numa elite intelectual e científica.
E.: E no resto do Mundo?
M. G. M.: A Organização Mundial de Saúde (OMS) é acérrima defensora desta perspectiva, bem patente em todas as conferências mundiais que tem promovido.
E.: O projecto Aventura Social, da Faculdade de Motricidade Humana, surgiu há quanto tempo e com que objectivos?
M. G. M.: Desde 1987, dando uma abrangência ecológica e não clínica ao que antes chamávamos "Núcleo de Estudos do Comportamento Social", que se destinava sobretudo a estudar, formar técnicos e intervir na área da violência e problemas de comportamento na sala de aula. Daí passámos a uma abordagem preventiva universal e a uma intervenção mais holística da saúde, bem-estar e cidadania. O projecto inicial Aventura Social e Risco foi um trabalho de elaboração e avaliação de programas de promoção de competências de relacionamento interpessoal em instituições fechadas (estabelecimentos tutelares de menores, hospitais psiquiátricos, etc.) e na prevenção de base comunitária e autárquica.
E.: Uma das vertentes do Aventura Social tem precisamente a ver com a saúde...
M. G. M.: O projecto está integrado numa rede Europeia, a Health Behaviour in School Aged Children. Trata-se de um estudo de investigação e monitorização, que pretende ter impacto nas políticas de promoção e educação para a saúde. Iniciado em 1996, e realizado de quatro em quatro anos, incluiu já mais de 18 000 adolescentes portugueses. Mas o projecto genérico Aventura Social também tem evoluído para outras áreas, como a prevenção rodoviária, a comunidade, a inserção sócio-laboral e a família.

E.: Uma das áreas temáticas do projecto é a violência na escola. Este é um tema que tem vindo a ter uma atenção mediática crescente. Acha que a abordagem dos média tem contribuído para o fortalecimento de uma discussão que promova a cidadania?
M. G. M.: Não, é um tema sempre muito mal tratado. A reportagem emitida recentemente pela RTP, que consistia na observação de crianças em sala de aula com recurso a câmaras escondidas, encheu-me de tristeza e desalento... Não há nesta peça análises, não há propostas... só mesmo uma devastadora confusão. Os professores não vão querer ser o reality show do mês, pois não?
E.: O que é necessário fazer para inverter as situações de violência?
M. G. M.: O encontro de professores e alunos no espaço escolar, é um encontro de duas "carreiras" num contexto específico. Ambos têm um passado onde a escola teve um papel, e um presente e um futuro onde há diferentes expectativas em relação à escola. O problema tem de ser visto neste enquadramento. Diabolizar os miúdos ou tornar os professores os coitados do sistema, passivos e inoperantes, não ajuda. Os alunos devem ver no professor um modelo social e a considerar a escola como um espaço de aprendizagem. O professor não deve ser visto como um animador de tempos livres, nem a escola como um espaço de lazer. Isso têm eles noutros lados…
E.: Recentemente esteve na Macedónia a participar no projecto Visão, que envolvia crianças vítimas da guerra. Que tipo de trabalho foi realizado com essas crianças?
M. G. M.: Foi um trabalho de promoção de competências pessoais e sociais para a promoção da saúde, cidadania e paz.
E.: Nesse trabalho foi utilizada a arte como método. As artes funcionam como um exercício catártico para essas crianças ou são uma forma de explorar outros sentidos e estimular abordagens mais positivas perante a vida?
M. G. M.: O movimento e a arte funcionam em educação de três modos: como um fim, quando há professores que ensinam e alunos que aprendem arte e movimento; como estratégia de ocupação e divertimento; e como competências pessoais e sociais, de comunicação e cooperação interpessoal, participação social e autonomia. É neste último ponto que nos situamos no âmbito do trabalho no Aventura Social.
E.: Esteve também em Angola, onde deu formação na área da prevenção da sida e do VIH. Que impressões reteve do nível de informação acerca da doença no país?
M. G. M.: Estive em Angola em Junho deste ano a fazer formação de pares, a líderes comunitários, na área da promoção da saúde, em especial na prevenção do VIH. Comigo estiveram um médico e um sociólogo do Instituto Pasteur um tratou dos aspectos biomédicos e epidemiologicos da infecção e o outro tratou da organização dos serviços de saúde. O meu papel foi justamente trabalhar competências de escuta activa, de dinâmica de grupos, de comunicação interpessoal e de aconselhamento de modo aos jovens pares poderem efectivar o seu trabalho na comunidade.
E.: Num país sem infra-estruturas básicas, de que forma é que se pode apelar a meios de prevenção tão banais como o uso do preservativo?
M. G. M.: Com muita dificuldade! Tem de ser feito um trabalho real de identificar as barreiras e enfrentá-las. Os obstáculos habituais ao uso do preservativo (como a crença de que tira o prazer, que é caro ou a vergonha em adquiri-lo, etc.) não são aqui os mais graves. É preciso que se diga que aparecem aqui mulheres para quem o medo de perder o parceiro (ser abandonada ou preterida) é mais forte do que o receio de contrair VIH. A vontade de engravidar nas mulheres e homens seropositivos, as barreiras culturais e as crenças de curas de carácter mágico são os principais entraves à prevenção. É um trabalho de uma enorme dificuldade, mas de uma imensa riqueza para todos nós.
E.: Tendo em conta que em Portugal as taxas de infecção de VIH são das mais altas da Europa e que a eficácia da informação junto dos jovens é muito baixa, que estratégias sugere, nomeadamente, ao nível educativo, para que a prevenção seja uma rotina e não uma excepção?
M. G. M.:
As taxas em Portugal são vergonhosas, em especial na camada jovem e em alguns distritos mais centrais. As coisas têm vindo a melhorar, apesar de tudo… temos agora esta forte aposta na educação sexual para a saúde, que é já obrigatória nas escolas. Faço parte do Grupo de Trabalho para a Educação Sexual, que é coordenado pelo Professor Daniel Sampaio, e que tem vindo a acompanhar 186 agrupamentos escolares. Há escolas já a desenvolver trabalho intenso a este nível, há a colaboração da Coordenação Nacional para a infecção do VIH… o desafio seguinte é que este processo não se perca com a sua injecção na rotina do sistema para o próximo ano lectivo, quando o grupo de trabalho finalizar a sua função em Dezembro de 2006."

Ainda a Cidadania, a Saúde e a ... escola!

Educação para a saúde, Psicologia, Ciência Política ... Cidadania! Eu cá tinha as minhas razões ...
Há já uns anos que tenho tentado demonstrar, por diferentes modos e vias, possíveis de viabilizar na actividade escolar, questões tão basilares para a educação como as que a entrevistada na peça seguinte da Educare nos parece apontar. Sobretudo, ao nível do que, também agora através do novo elemento curricular que é a "Área de Projecto", é possível realizar nas aprendizagens para uma verdadeira e sã consciência para a cidadania. Bem haja!
""Tornar os professores os coitados do sistema não ajuda"
Entrevista com Margarida Gaspar Matos, psicóloga e investigadora na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa, que se dedica há três décadas à educação para a saúde.
Psicóloga de formação, o perfil de Margarida Gaspar Matos não se encaixa no tradicional espartilho de investigadora e académica. Desde a infância que os pais lhe estimularam o gosto pelas viagens, pelas línguas e pelas artes. Num país amorfanhado pelo cinzentismo do Estado Novo, Margarida Gaspar Matos, actualmente com 50 anos, admite ter sido uma priveligiada. Fez ballet, praticou música, passou longas temporadas um pouco por todo o Mundo, teve uma infância que se estendeu para lá dos limites de Coimbra. Tudo isso deixou, claramente, marcas no percurso pessoal e profissional.
Desde cedo sentiu-se desperta para o trabalho comunitário. Resultado: juntou saberes da psicologia e da saúde ao bem-estar social e à aprendizagem de diferentes culturas para criar o projecto Aventura Social.~
Recusa-se a colocar em prateleiras distintas temas aparentemente tão díspares como a sida, a violência na escola, a arte, a exclusão social ou a educação sexual. Porque acredita que todas elas têm por base a cidadania.
EDUCARE.PT: Há quanto tempo trabalha na área da saúde?
Margarida Gaspar Matos
: Há 30 anos. Enquanto finalista do liceu, apresentava uma grande inclinação para as ciências. Durante a adolescência, confrontei-me com o carácter aparentemente errático dos comportamentos individuais e dos grupos. Das várias possibilidades que se abriam à minha frente na entrada para a faculdade, decidi-me pela Psicologia, deixando para trás as outras duas opções possíveis - Medicina ou Biologia. Durante o curso, tive a oportunidade de fazer trabalho clínico em psiquiatria no Hospital Santa Maria e, a partir daí, desenvolvi uma enorme apetência pelo trabalho na comunidade, pela intervenção precoce e preventiva no desajustamento, incluindo cenários e actores relevantes da vida dos indivíduos.
E.: Quando se alia a saúde à cidadania e à educação, isso significa o quê, concretamente?
M. G. M.: Significa uma nova abordagem da saúde, perspectivada enquanto bem estar e não ausência de doença. A visão da saúde como participação social começou no fim da II Guerra Mundial e cada vez mais tem tomado força como ideia e como praxis.
E.: Esta é uma área de desenvolvimento recente em Portugal?
M. G. M.: Sim, em Portugal e no estrangeiro. Nós tivemos aqueles anos do Estado Novo, em que estas preocupações nem se punham a nivel da população, embora já se fizessem sentir pelo menos a partir do fim dos anos 60 numa elite intelectual e científica.
E.: E no resto do Mundo?
M. G. M.: A Organização Mundial de Saúde (OMS) é acérrima defensora desta perspectiva, bem patente em todas as conferências mundiais que tem promovido.
E.: O projecto Aventura Social, da Faculdade de Motricidade Humana, surgiu há quanto tempo e com que objectivos?
M. G. M.: Desde 1987, dando uma abrangência ecológica e não clínica ao que antes chamávamos "Núcleo de Estudos do Comportamento Social", que se destinava sobretudo a estudar, formar técnicos e intervir na área da violência e problemas de comportamento na sala de aula. Daí passámos a uma abordagem preventiva universal e a uma intervenção mais holística da saúde, bem-estar e cidadania. O projecto inicial Aventura Social e Risco foi um trabalho de elaboração e avaliação de programas de promoção de competências de relacionamento interpessoal em instituições fechadas (estabelecimentos tutelares de menores, hospitais psiquiátricos, etc.) e na prevenção de base comunitária e autárquica.
E.: Uma das vertentes do Aventura Social tem precisamente a ver com a saúde...
M. G. M.: O projecto está integrado numa rede Europeia, a Health Behaviour in School Aged Children. Trata-se de um estudo de investigação e monitorização, que pretende ter impacto nas políticas de promoção e educação para a saúde. Iniciado em 1996, e realizado de quatro em quatro anos, incluiu já mais de 18 000 adolescentes portugueses. Mas o projecto genérico Aventura Social também tem evoluído para outras áreas, como a prevenção rodoviária, a comunidade, a inserção sócio-laboral e a família.

E.: Uma das áreas temáticas do projecto é a violência na escola. Este é um tema que tem vindo a ter uma atenção mediática crescente. Acha que a abordagem dos média tem contribuído para o fortalecimento de uma discussão que promova a cidadania?
M. G. M.: Não, é um tema sempre muito mal tratado. A reportagem emitida recentemente pela RTP, que consistia na observação de crianças em sala de aula com recurso a câmaras escondidas, encheu-me de tristeza e desalento... Não há nesta peça análises, não há propostas... só mesmo uma devastadora confusão. Os professores não vão querer ser o reality show do mês, pois não?
E.: O que é necessário fazer para inverter as situações de violência?
M. G. M.: O encontro de professores e alunos no espaço escolar, é um encontro de duas "carreiras" num contexto específico. Ambos têm um passado onde a escola teve um papel, e um presente e um futuro onde há diferentes expectativas em relação à escola. O problema tem de ser visto neste enquadramento. Diabolizar os miúdos ou tornar os professores os coitados do sistema, passivos e inoperantes, não ajuda. Os alunos devem ver no professor um modelo social e a considerar a escola como um espaço de aprendizagem. O professor não deve ser visto como um animador de tempos livres, nem a escola como um espaço de lazer. Isso têm eles noutros lados…
E.: Recentemente esteve na Macedónia a participar no projecto Visão, que envolvia crianças vítimas da guerra. Que tipo de trabalho foi realizado com essas crianças?
M. G. M.: Foi um trabalho de promoção de competências pessoais e sociais para a promoção da saúde, cidadania e paz.
E.: Nesse trabalho foi utilizada a arte como método. As artes funcionam como um exercício catártico para essas crianças ou são uma forma de explorar outros sentidos e estimular abordagens mais positivas perante a vida?
M. G. M.: O movimento e a arte funcionam em educação de três modos: como um fim, quando há professores que ensinam e alunos que aprendem arte e movimento; como estratégia de ocupação e divertimento; e como competências pessoais e sociais, de comunicação e cooperação interpessoal, participação social e autonomia. É neste último ponto que nos situamos no âmbito do trabalho no Aventura Social.
E.: Esteve também em Angola, onde deu formação na área da prevenção da sida e do VIH. Que impressões reteve do nível de informação acerca da doença no país?
M. G. M.: Estive em Angola em Junho deste ano a fazer formação de pares, a líderes comunitários, na área da promoção da saúde, em especial na prevenção do VIH. Comigo estiveram um médico e um sociólogo do Instituto Pasteur um tratou dos aspectos biomédicos e epidemiologicos da infecção e o outro tratou da organização dos serviços de saúde. O meu papel foi justamente trabalhar competências de escuta activa, de dinâmica de grupos, de comunicação interpessoal e de aconselhamento de modo aos jovens pares poderem efectivar o seu trabalho na comunidade.
E.: Num país sem infra-estruturas básicas, de que forma é que se pode apelar a meios de prevenção tão banais como o uso do preservativo?
M. G. M.: Com muita dificuldade! Tem de ser feito um trabalho real de identificar as barreiras e enfrentá-las. Os obstáculos habituais ao uso do preservativo (como a crença de que tira o prazer, que é caro ou a vergonha em adquiri-lo, etc.) não são aqui os mais graves. É preciso que se diga que aparecem aqui mulheres para quem o medo de perder o parceiro (ser abandonada ou preterida) é mais forte do que o receio de contrair VIH. A vontade de engravidar nas mulheres e homens seropositivos, as barreiras culturais e as crenças de curas de carácter mágico são os principais entraves à prevenção. É um trabalho de uma enorme dificuldade, mas de uma imensa riqueza para todos nós.
E.: Tendo em conta que em Portugal as taxas de infecção de VIH são das mais altas da Europa e que a eficácia da informação junto dos jovens é muito baixa, que estratégias sugere, nomeadamente, ao nível educativo, para que a prevenção seja uma rotina e não uma excepção?
M. G. M.:
As taxas em Portugal são vergonhosas, em especial na camada jovem e em alguns distritos mais centrais. As coisas têm vindo a melhorar, apesar de tudo… temos agora esta forte aposta na educação sexual para a saúde, que é já obrigatória nas escolas. Faço parte do Grupo de Trabalho para a Educação Sexual, que é coordenado pelo Professor Daniel Sampaio, e que tem vindo a acompanhar 186 agrupamentos escolares. Há escolas já a desenvolver trabalho intenso a este nível, há a colaboração da Coordenação Nacional para a infecção do VIH… o desafio seguinte é que este processo não se perca com a sua injecção na rotina do sistema para o próximo ano lectivo, quando o grupo de trabalho finalizar a sua função em Dezembro de 2006."

terça-feira, agosto 15, 2006

Opinião ... de Outros Sítios

E por que é que a Economia Política, que não trata necessariamente, apenas, de questões de política económica, é uma ciência por muitos amaldiçoada!
Ainda em férias, à espera de lhes apanhar o gosto, revejo as minhas notas do "Prelo", e 'desenterrei' mais este artigo de opinião, deste rapaz que, um dia, ainda se vê agregado nas adjuntices hipócritas, se não conseguir manter-se leal às suas próprias e muito convenients críticas sociais, muito para além do seu peso especificamente economista.
Lembro-me de que nem tudo o que releva nas Economias tem de circunscrever-se às contabilidades ou disciplinas de cálculo económico e/ou financeiro, tal como as domestic politics não se determinam exclusivamente pelos parâmetros das respectivas Contabilidades Públicas. Se não, vejamos esta pequena 'lição' que o autor nos transmite relativamente ao evoluir da economia mundial, na actualidade. Sem ironias. Mas reportando-se a n hipocrisias!
"Harakiri global
Sérgio Figueiredo
sf@mediafin.pt

Estavamos entretidos com as crises caseiras, a política e a económica, que nem demos por isso: mas a economia do mundo vive há quatro anos de ventos favoráveis.
Tão favoráveis que é preciso recuar ao início da década de 70 para encontrar outro período igual. Em crescimento económico. Em crescimento do comércio (preços e volumes). E também em liquidez disponível.
Nestes quatro anos domina ainda a reflexão sobre causas e motivos que levaram Portugal, ao contrário de outros países, a desperdiçar um contexto internacional tão impressionante. Não é o que se propõe hoje.
Em tempo de férias não é tempo de insistir nas conhecidas vulnerabilidades. Nem para perturbar o sossego de quem está ou se prepara para o merecido descanso. A ideia é, portanto, ignorar as desgraças nacionais. Falemos das alheias.
Para tentar perceber como é que o mundo, os líderes deste mundo que avança em grande velocidade, puxado por novas e impensáveis locomotivas, decidem saltar dos carris e comprometer uma das origens deste sucesso global recente.

Não bastava o petróleo a caminho dos 100 dólares? A consequente pressão sobre os preços? E o necessário aperto da política monetária, desencadeado pelos principais bancos centrais? Como é possível desfazer anos e anos de negociações e, num ápice, implodir o sistema de comércio internacional mais livre?
O comércio livre é uma base sólida da globalização. A globalização transformou-se no grande palco das ideologias do século XXI. Até das mais idiotas, que são, simultaneamente à esquerda e à direita, as dominantes. Ideologia com idiotice gera hipocrisia.
Seria idiota pensar que foi a ideologia que tornou os Estados Unidos incapazes de cortar os subsídios públicos aos agricultores. E não são idiotas os outros cinco protagonistas da Organização Mundial do Comércio (União Europeia, Japão, Austrália, Brasil e Índia), que iniciaram uma maratona de 14 horas, até à madrugada de ontem, para se autodeclararem um fracasso.
Hipocrisia global. Num triunfo de burocratas. É esta a causa e a conclusão do fim de Doha. Assim decretado pelo britânico Peter Mandelson: «Perdemos a última saída da estrada.» Onde entraram há cinco anos.
Cálculos do Banco Mundial apontam um «custo» para o insucesso de Doha: 227 mil milhões de euros. Era a impressionante soma de ganhos com o aprofundamento da liberalização da agricultura, da indústria e dos serviços. São cenários, valem o que valem.
Embora não restem dúvidas quanto ao impacto extraordinário que foi produzido pelo dinamismo comercial em grandes economias (e não é só a China...). E de outros países que antes, em contextos de maior proteccionismo, revelavam uma fraca capacidade de reter os benefícios gerados em fases de prosperidade.
A abertura favorece os sectores exportadores e respectivos empresários e trabalhadores. E o obsoleto método negocial da OMC só está concentrado nos «custos» que a abertura de fronteiras traz, evidentemente, aos sectores importadores. Agricultura e têxtil celebram o fim de Doha. Aqui, no resto da Europa, nos EUA. São eles os vencedores de um mundo fechado ao comércio livre.
É o mundo em que perdem os exportadores, ou seja, os mais dinâmicos, aqueles que puxam pela produtividade, pelos salários e pelo crescimento da economia. O mesmo mundo que penaliza os consumidores, impedidos de aceder a bens importados e mais baratos – a maioria dos «ganhos» de 227 mil milhões foi calculada pela queda de preços de bens agrícolas e de vestuário.
O brasileiro Celso Amorim é menos fleumático e pouco exagerado. Saiu da reunião recusando-se a classificar o momento de desastroso: «Mas esta situação é a mais próxima que podemos ter do desastre.» Problema deles?..."