segunda-feira, setembro 25, 2006

As regras epistemológicas ...

E ... "mil" contra um!

Porque também têm cabimento nos artigos de opinião, obrigam-me a dizer, concretamente, que ... há países em que um professor ganha muito menos que um operário não-qualificado em Portugal. Ou, se pretenderem, devemos aferir o vencimento de um professor na Alemanha com o de um português. e se, com as novas regras orçamentistas abaixo evocadas, as consequências sociais daí advenientes seriam as mesmas nos dois países. Não se esqueça disso, Eduardo Moura.

Há artigos de opinião que não podem ultrapassar, em pertinência axiológica, o valor de um próprio artigo de opinião. É um direito, um princípio, numa sociedade que se quer livre nas possibilidades de tornar públicas as opiniões de quantos as tenham e sejam elas quais forem - é o domínio da liberdade de expressão.

Só que, ainda há dias e em relação a peças escritas por articulistas deste jornal, disse que aqui há trabalhos escritos que podem constituir matéria com que se possa elaborar alguma da teorização sociológica actual, quer pelo rigor das análises apresentadas, quer pela aferição factual das observações, quer, enfim, pelo cumprimento epistemológico que, nestes moldes, alguns dos artigos em causa evidenciam. Nesta conformidade, não são apenas artigos de opinião. São trabalhos científicos, porque lhe determinamos objectivamente os assuntos de que tratam, porque são úteis ao conhecimento pela novidade como os apresentam, porque mostram (justificam) as posições assumidas e como podemos ou não provar/ demonstrar que o que dizemos tem a importância social que lhes estamos a atribuir.

Ora, não é, em minha opinião, o que se passa com este artigo que segue. Mas é um bom exercício de, apenas ... opinião:

"Um contra 737 mil

Eduardo Moura
emoura@mediafin.pt

Começou. A batalha impossível entre o Governo e a Função Pública começou hoje, dia 25 de Setembro. As propostas para o novo sistema de carreiras e remunerações de 737 mil funcionários viram do avesso as regras do jogo. O bisturi ergue-se sobre a Administração Pública.

Não são propostas finais. São propostas iniciais que o Governo irá rearranjar à medida da evolução da discussão e dos ónus políticos do processo.

Nem são propostas radicais. São propostas baseadas no que muitos Estados têm feito, concordantes com as exigências do controlo da despesa pública e da melhoria do funcionamento dos serviços públicos. Concordantes com as principais ideias que vêm sendo defendidas há anos.
Mas sem dúvida, são propostas dolorosas para a esmagadora maioria dos 737 mil funcionários públicos.

Porque acaba o emprego garantido para toda a vida. O mau desempenho passa a ser causa de despedimento. Acaba a progressão por antiguidade. Acaba o uniformismo remuneratório. Acaba a ideia de que as novas regras são apenas para os novos funcionários. As novas regras são para todos.

Porque chegam os prémios diferenciados, os horários, regimes de faltas e férias em função do posto de trabalho e não do organismo, porque se faz uma aproximação real aos regimes laborais que se praticam no sector privado, aqueles em que se pratica a avaliação e a discriminação em função dos resultados.

Porque se separam claramente as funções que correspondem às missões de soberania que competem ao Estado das funções que não lhe são exclusivas. Juízes, militares, polícias de um lado, professores, médicos, economistas de outro.

E sobre tudo isto, embora tudo isto seja ainda muito pouco porque demasiado genérico, Portugal vai ter de formar uma opinião e escolher de que lado está.

Se está do lado de um aparelho de Estado que seja dominado pela eficiência e eficácia ou se quer andar a pagar impostos para alimentar uma máquina gorda e ineficiente. Se partilha da opinião que a maioria dos funcionários do Estado deve ter as mesmas obrigações e contingências que qualquer trabalhador do sector privado ou se a distinção entre os dois regimes deve permanecer.

737 mil funcionários são muitos votos e, por isso, ainda que o ónus da iniciativa compita a Sócrates e ao seu Governo, esta é a matéria em que o PSD não se pode deixar tentar por fáceis dividendos eleitorais junto dos funcionários públicos. Nem as hostes socialistas podem deixar-se subordinar ao medo da derrota nas urnas. As legislativas acontecem daqui por dois anos e a tentação eleitoralista será maior à medida em que o tempo for passando, pois a reforma do sistema de carreiras e remunerações vai precisar de mais de um ano de debate.

Perante isto, é decisivo que os partidos políticos dêem um forte sinal de maturidade e saibam concretizar uma reforma completa. Neste domínio, qualquer meia-reforma será um embaraço para o próximo governo, seja ele PS ou PSD, pois nenhum deles quererá estar amarrado a um compromisso imobilista com os funcionários públicos.

Aliás, qualquer próximo governo beneficiará se Sócrates for bem sucedido."

sábado, setembro 23, 2006

Que ninguém me diga que é apolítico

Qualquer dia faço uma Sebenta de “Textos de Crítica” politológica.

Não posso deixar de alertar o meu mui citado mestre JAM da pertinência destes textos que por aqui e por outras bandas da imprensa nacional vou lendo com atenção, de forma a que a Escola que, por tradição já secular, se devota ao pensamento político em Portugal, tenha estas publicações em consideração, pelo devido respeito académico que merecem.
Não é caso para menos, com estes artigos de opinião. Eu cá tinha as minhas razões para me sentir intrigado com a transbordante pertinência dos conteúdos de algumas rubricas que uma meia dúzia de articulistas do Jornal de Negócios deixa sair da pena das suas mãos. E não me enganei. Penso que felizmente, pois todos devemos, certamente, beneficiar com isso, não apenas porque assistimos a uma exemplar manifestação de liberdade de expressão; ou tão somente porque lemos num jornal temático linhas de prosa que nos mostram realidades que ultrapassam a categoria dos temas de que deveriam tratar. Não.
Este Jornal é um grande exemplo do que qualquer órgão de comunicação social (seja ele público ou, mesmo, privado) deve cumprir, de forma a que a Comunicação Social se torne definitivamente, no nosso País, na instituição que assume a missão a que por natureza (social) está vinculada: a de ser o principal Observatório Social, veículo dos fluxos da informação pública multidireccionada (recebida e emitida, ascendente e descendente) que interessa à sociedade descodificar e gerir.

Só assim, entendo eu e muitos, todos participaremos (democraticamente) na organização (definição, edificação, manutenção, desenvolvimento e regulação) do sistema social a que, inevitavelmente, pertencemos. E, por isso, que ninguém me diga que é apolítico. Há dois milénios e meio que Aristóteles negou essa pretensão, sobretudo àqueles que, pelas mais variadas justificações, se alheiam e afastam da realidade a que nenhum de nós (cidadãos que reclamamos viver em sociedade e em democracia) pode fugir: a da polis. Porque esta implica e exige tudo isto a que acabei de me referir. A partir
deste artigo do J. Negócios:

Os revolucionários do Beato
Pedro S. Guerreiro
psg@mediafin.pt

O Compromisso Portugal apresentou ontem várias propostas, muitas delas boas, outras que deviam ser Lei, algumas irrelevantes, poucas que não prestam e várias irrealizáveis.

É uma elite empresarial que é e será sempre acusada de querer trampolim para chegar ao poder governativo, de se afirmar como grupo de pressão com interesses próprios.

Podemos sempre suspeitar das motivações empresariais, políticas ou egocêntricas dos promotores; podemos sempre perguntar o que estão a fazer esta manhã pelo País aqueles que ontem à noite se deitaram com a boa consciência de terem cumprido o seu dever cívico; podemos sempre criticar quem propõe utopias mas jamais as testará – o programa eleitoral mais fácil de fazer é o do partido que sabe que não vai governar. Podemos sempre fazer isto tudo. Mas também podemos deixar a idade do armário e olhar para o que fica do Compromisso deste ano. Sem complacência, com exigência.

Quando Carrapatoso se declara revolucionário e contra os reaccionários, está (propositadamente?) a convocar a discussão em torno da acusação mais consistente feita ao Compromisso Portugal: a de que é um movimento que apresenta as suas propostas como não ideológicas mas que tem uma ideologia latente, mesmo escondida – a tecnocracia; a tese de que o País fica melhor entregue a gestores; o mito da solução única, que é a tecnicamente mais adequada. Como nas empresas.

É por isso que o poder político não comparece ao "rendez-vous" no Beato. Não quer valorizar. Não quer ver Carrapatosos, Mexias, Borges e Relvas a enfileirarem conquistas nos seus terrenos. Porque uma sociedade só percebe soluções técnicas se forem explicitadas ideologicamente, porque um Governo não é uma empresa, porque a despolitização dos assuntos distancia as pessoas, porque a glória de um movimento da sociedade civil é a desnecessidade dos partidos políticos – e são os partidos que interpretam a realidade. Ao invés, os tecnocratas do Compromisso Portugal falavam ontem do País com a mesma linguagem com que falam das empresas: a que aprenderam nos MBA. Posicionamento estratégico. Vantagens competitivas. Quotas de mercado. Nichos. Estratégia de competitividade.

O Compromisso Portugal nasceu como um contra-movimento a outro grupo de empresários, que assinou o "Manifesto dos 40" pedindo a defesa dos centros de decisão nacional. Os proteccionistas despertaram os liberais e estes venceram-nos. Esta é a nova geração, que já cresceu em democracia e sucede aos empresários que se zangaram com o País em 1975. Por isso, não tem contas a ajustar. Por isso, é gente pragmática, optimista, provocante, ambiciosa, que defende a economia de mercado, a concorrência. E é nesse deslumbramento que António Carrapatoso subverte a realidade e "desideologiza" a palavra "revolucionário", chamando de "reaccionários" provavelmente a gente do Bloco de Esquerda e dos sindicatos imobilistas.

No fim da jornada de ontem, sobra um incómodo: para que serviu isto? Seja o que for, não pode extinguir-se num estudo que se entrega a quem aprouver – o Compromisso Portugal é um movimento de elite, não é uma consultora. Ser grupo de pressão não é defeito – é virtude, mesmo que a sua força resulte mais da representatividade económica do que da popular.

A Convenção do Beato não foi um comício, foi uma reunião de trabalho. E dela emerge uma constatação: o Compromisso Portugal tem uma visão e apresenta medidas para a alcançar. E esse é um desafio lançado a um Governo que parece sempre aprisionado pela gestão aflita do quotidiano.

Para um País, o melhor está em quem quer gerir o Estado. O pior está em quem quer gerir o poder. No Governo ou no Compromisso.”

sexta-feira, setembro 22, 2006

Mas afinal ... que é que esta gente quer?

(Ou a felicidade de ser apenas um cidadão)
Encontros para debater questões meramente económicas não são! Convenções gerais de natureza partidária não parece, igualmente, traduzir o conteúdo das mensagens ou a finalidade das intenções.
Lembro-me de ter reparado nas notícias publicitadas que, na altura do primeiro destes encontros no Convento do Beato, fizeram furor pela "película de verniz" social, espelhada em tão notáveis autores de intervenções e assistência. Aparentemente, por razões socialmente objectivas ou por meras fobias subjectivamente germinadas nos cidadãos que vão acumulando complexos sócio-político-partidários e/ ou ideológicos geradores de frustações, só me lembro de ter uma sensação e uma ideia imediatas: medo, perante a provável elite tecnocrática, constituída a partir do mais que provável mixed "ring" da residual elite dominante e da contra-elite ao Poder. Toda ela político-economicamente liberal, capitalista e pseudo-aristocrática.
Segui, com atenção, as opiniões de dois comentadores do Jornal de Negócios:
"Políticos assumem poder sem estarem preparados e estão orientados para a conquista do voto
Susana Domingos
sdomingos@mediafin.pt


António Carrapatoso defendeu hoje que os Governos têm assumido o poder sem estarem preparados para tal, tendo uma orientação focalizada na conquista dos votos, considerando o Estado “fraco”. O responsável aponta ainda o dedo à sociedade civil que “é fraca e pouco interventiva”.

Estas foram as principais razões apontadas hoje pelo Compromisso Portugal, através de António Carrapatoso, para explicar as razões que levam a que as reformas não sejam eternamente adiadas em Portugal.

Para começar, a sociedade civil "é fraca e pouco interventiva" , existindo uma "incapacidade dos governos de estruturar e explicitar uma visão de verdadeira mudança, da forma como a sociedade está organizada e funciona", afirmou o responsável.

António Carrapatoso afirmou que "os Governos assumem o poder sem estarem preparados, sem terem um programa de mudança. Têm uma visão táctica orientada para a conquista do voto", adiantando que "os governos têm uma fraca capacidade de gestão".

Estado é pouco independente
Carrapatoso considera que "há um poder desproporcionado de corporações e outros grupos de interesse sobre o Estado", afirmando que o "Estado é fraco e pouco independente, o que obriga a que exista uma sociedade civil atenta".

Outra razão apontada para a não concretização das reformas é o "facto de existir uma opinião pública pouco esclarecida e com uma elevada resistência à mudança".

Atendendo a estas razões, só a força e pressão da sociedade civil e uma opinião pública esclarecida permitirão ultrapassar estes factores de "bloqueio" e "forçar"a realização das necessárias rupturas, defende António Carrapatoso.

Na intervenção que decorreu no Convento do Beato, o responsável afirmou que "o modelo social actualmente é insustentável e injusto", não criando "igualdade de oportunidades e um dos sinais é o abandono escolar de 40%".

No que toca à segurança do trabalho, "as leis rígidas só vão prejudicar e portanto o Compromisso Portugal defende a flexibilidade como uma forma positiva para assegurar a segurança no trabalho".

Quando se referiu à justiça em Portugal, António Carrapatoso definiu-a como "incapaz, corporativa" e que "não dá confiança ao cidadão". O responsável defende a mudança do sistema judicial "se queremos confiar nele".

"O sistema de saúde tem falta de indicadores claros da sua eficiência. A qualidade ambiental tem vindo a degradar-se e, sem fazer convergência entre interesses da economia e do ambiente, até a economia fica posta em causa no longo-prazo".

Cidadão precisa de ser responsabilizado e valorizado
António Carrapatoso defendeu ainda que "o cidadão tem de ser responsabilizado e valorizado. Os direitos sociais têm de ser claramente definidos, o Estado tem de ser forte, independente e subsidiário e tem de existir flexibilidade".

O responsável acrescentou que "o modelo social tem de ser capitalizado mas mantendo pensões mínimas sociais".
"Compromisso na prática
Sérgio Figueiredo
sf@mediafin.pt


Uma nota prévia: agora que são conhecidos os seis documentos de base à discussão na Convenção do Beato, sem sombra de dúvidas que a qualidade do trabalho e da matéria de reflexão subiu vertiginosamente face à primeira iniciativa que o Compromisso Portugal realizou há dois anos.
O método deste ano partiu de grupos de trabalho, liderados por relatores, que produziram umas "versões preliminares", debatidas e aperfeiçoadas pelo "plenário" dos vinte e tal promotores principais.

Contrasta, para melhor, com o "improviso" de 2004, em que a Convenção foi baseada nas intervenções de mais de uma dezena de "estrelas", que ali desfilaram durante um dia inteiro. O Compromisso amadureceu, apresenta trabalho mais estruturado e essa é a primeira utilidade que a nossa classe empresarial dali pode extrair: há um exemplo que revela a diferença entre os resultados produzidos em equipa e aqueles que se obtêm a partir de iniciativas individuais.

Por mais brilhantes que sejam, os espanhóis habituaram-se a partilhar riscos, a unir esforços, a trocar informação, a dividir até clientes e seguirem em consórcio para mercados internacionais e projectos de grande dimensão. Ainda somos o país do "cada um por si" e essa atitude é uma barreira invisível para a competitividade.

Assim, sem ainda ter começado, esta segunda Convenção do Beato já está melhor do que a primeira. Longe de ser perfeita. Longe de ser equilibrada. Longe de ser uniformemente eficaz nas seis áreas que são propostas para a agenda nacional.

O que traz então concretamente de novo o Compromisso para Portugal?
O exercício mais completo e mais prático, até hoje conhecido, sobre a redefinição das funções do Estado. O relatório assinado por Fernando Pacheco e Nogueira Leite explora as boas práticas internacionais. Sobretudo na Educação, na Saúde e na Administração Pública. E adapta-as à nossa situação concreta.

Avança com metas quantificadas. Duplicar o peso dos privados na oferta de ensino. Aumentar, para cerca de um terço, a prestação de cuidados de saúde nos hospitais privados.

Estima impactos. E surpreende. É na gigantesca máquina pública, não tanto na cedência de funções sociais, é portanto no extermínio das grandes ineficiências do Estado que, à luz da experiência de Berlim, se obtêm as maiores poupanças.

Num curto espaço de tempo, o sistema de impostos pode ficar aliviado de 5 mil milhões de euros por ano. E quase 200 mil pessoas ficarão libertas para produzir algo de útil. Este trabalho já vale um Compromisso. Mas não o esgota.

No modelo social surgem as respostas que o PSD foi incapaz de dar. Sabemos, assim, os custos de transição para um sistema de capitalização: 155 mil milhões de euros. Uma barbaridade.
É proposto um método.

Emissão, anual, entre 2007 e 2051, de 3,5 mil milhões de dívida pública nova para pagar as actuais responsabilidades. Que implica, para o défice até 2051, um fardo anual de 0,6% do PIB só em pagamento de juros. E que a partir daí, com as amortizações, sobe para mais de 1% do PIB até ao fim do século. O exercício é meritório. A opção, propriamente dita, impraticável.

E há também um destaque muito especial para a Justiça e a Educação. E o mérito de enfrentar o reino das corporações. Dos juízes e dos professores. De colocar a transparência no centro das relações do Estado com os cidadãos.

De introduzir os mais básicos princípios de gestão. De premiar quem leva a sua profissão a sério. E castigar aqueles que não prestam contas, que atingiram o Nirvana, que confundem deliberadamente discrição com opacidade. E defendem o sistema.

Enfim, o sistema questiona-se e a elite autocritica-se. Essa é a parte mais estimulante do Compromisso Portugal."

terça-feira, setembro 19, 2006

Opinião ... de Outros Sítios

Por que será que este tema - o da elite - dá sempre tanto que falar!?!

Não vou recomendar, por não ser cronologicamente viável a leitura oportuna de uma tamanha obra, a única tese de doutoramento em Portugal dedicada ao tema da elite, do meu querido Professor António Marques Bessa - "Quem Governa? Uma Análise Histórico-Política do Tema da Elite". Mas não faria mal a ninguém que a lesse, tal é a pertinência da sua leitura relativamente ao momento sócio-político que, nestes dias, se viverá em Portugal. Como nos dá conta este já nosso conhecido colunista do JNegócios, em mais uma das suas "bicadas":

"Razão para desconfiar

Sérgio Figueiredo
sf@mediafin.pt

Há duas formas de encarar o movimento de elites, como aquele que depois de amanhã volta a reunir centenas de gestores e empresários no Convento do Beato.

Uma, céptica, corresponde à visão de um dos nossos grandes advogados que, ao Jornal de Negócios de sexta-feira, explicava porque era rara aquela entrevista: "Não aparecer é uma das poucas formas de elitismo que restam em Portugal."

A outra, romântica, é aquela que leva o seu filho a aparecer. Não só a aparecer na Convenção de quinta-feira, como a promovê-la, a assumir ali o protagonismo do debate sobre o tema da justiça.

Portugal está algures, entre o distanciamento de Vasco Vieira de Almeida e o empenho de João Vieira de Almeida, à procura de um rumo. Por vontade do pai, não era o "Compromisso Portugal" que mudava o país. Se dependesse do filho, não era de mudança que se falava, mas de ruptura.

Modelo Social. Competitividade. Justiça. Papel do Estado. Ambiente e Ordenamento. Educação. São os seis temas à discussão, por um movimento que renasce dois anos depois, e sintetizados num documento já disponível na Net (www.compromissoportugal.pt) que os próprios classificam como "provocatório".

Evidentemente que o modelo social precisa de ser reformado, porque os resultados que delem se tiram resumem-se a um fracasso nacional. Não existe, aliás, outra forma de interpretar a "bandeira de Cavaco" no combate à exclusão, senão o reconhecimento, ao mais alto nível, desse fracasso colectivo.

A competitividade da economia tem de ser, como é lógico, objecto de reflexão, devem portanto remover-se os bloqueios que se colocam às nossas empresas, porque até hoje ainda não se inventou o progresso de uma nação sem empresas saudáveis.

E, como óbvio, não é possível encarar um país socialmente mais justo e economicamente mais competitivo, se a justiça continuar a ser aquilo que é, se o ambiente e o ordenamento do território continuarem a ser depreciados, se o Estado não sofrer o choque de mudança necessário.

E, por fim, para que tudo isto seja sustentável, para preparar as futuras gerações para prosseguirem o caminho de desenvolvimento, é necessário mudar a cultura que prevalece no nosso sistema de ensino.

Portanto, não falta mote ao "Compromisso Portugal". Nem faltam motivos para a elite se inquietar. Nem a nação está bem, nem muitos daqueles promotores se recomendam. Mas, e o "pai" Vasco que me desculpe, é sempre preferível vê-los em manifestações públicas do que em peditórios privados.

Outro Vasco, ainda mais céptico, o Pulido Valente, escreveu na primeira Convenção algo do género: "Se esta gente estivesse no poder, o Governo caía num dia." É uma afirmação que se autodestrói: eles não estão no Governo, por isso é um absurdo exigir-lhes que se comportem como se estivessem.

Também um colunista de um jornal não escreve a pensar assim, senão pelo menos VPV deixava de fazer aquilo que faz como ninguém, se pensasse como um ministro...

Há, portanto, uma terceira forma de olhar para o Compromisso Portugal: a oportunidade para debater o que é preciso mudar. Com rupturas – e elas são necessárias para derrubar o "império das corporações". Com transições – e elas são recomendáveis quando se discute o modelo social e o papel do Estado.

Não me interessam as ambições políticas do dr. Carrapatoso. E é idiota desqualificá-lo por razões como esta. Se querem algo mais pateta, fica aqui uma revelação: foi um espanhol, Rafael Mora, que baptizou o movimento de "Compromisso Portugal". Em vez de só patearem, podem cantar o Hino Nacional."

Opinião ... de Outros Sítios

Em estilo laboratorial, dissecando o Homo democraticus ...
Vejo que há artigos de opinião que poderão contribuir para as linhas de uma sempre necessária renovação da teoria política. Os conteúdos da crítica que por estes lados, no Jornal de Negócios, e os de outros articulistas, noutras bandas dos escaparates jornalísticos, se vão construindo, constituem um material empírico à espera de uma adequada constextualização teórica, que a politologia académica tem de abarcar.
Neste artigo retirado do JN a sua autora dá-nos uma visão das vicissitudes por que passam os protagonistas da elite política, como autênticos actores de uma ópera chamada democracia ...
"Um assunto demasiado sério
Luísa Bessa
lbessa@mediafin.pt

Há na política um pingue pongue verbal que faz parte das regras do jogo. Os partidos têm diferentes projectos e para se baterem por eles precisam de evidenciar as diferenças. Se fizessem o contrário deixavam de ter razão de existir.
Tocamos na essência da democracia. Ser eleito em função de um conjunto de propostas, governar de acordo com elas e depois ser avaliado pelos eleitores.

É verdade que às vezes as coisas não são assim tão simples. Nem os eleitos governam exactamente de acordo com aquilo que prometeram nem as propostas são, frequentemente, o critério essencial para a decisão dos eleitores, que avaliam cada vez mais a confiança que lhes suscitam os candidatos do que as propostas propriamente ditas. Mas isso é outra conversa.

De acordo com estas regras, a defesa de pactos de regime entre quem está no poder e quem está na oposição pode parecer «contra natura». Aplicando-se os «pactos» a matérias que vão mexer com interesses instalados - e convém ter presente que quando se muda alguma coisa há sempre alguém que sai prejudicado -, é óbvio que a colagem da oposição a este tipo de decisões a faz partilhar os custos.

Apesar disso, o PSD tem insistido na proposta de pactos para um conjunto de matérias e faz bem. Ao fazê-lo Marques Mendes corre o risco de partilhar alguns custos da reforma, mas assume-se como o interlocutor privilegiado do Governo e o rosto da alternância, com a postura de Estado necessária a quem se apresenta como candidato a líder do Governo. E disponível para as decisões difíceis a que o estado do país obriga.

Até agora a estratégia tem-lhe corrido bem. Na Justiça, ninguém ignora que foi o primeiro a propor um pacto, logo em 2005, iniciativa que José Sócrates rejeitou liminarmente. Um ano mais tarde, o pacto aí está. Pode pecar por defeito, nomeadamente por excluir o reforço da luta contra a corrupção, mas mais vale um pássaro na mão do que dois a voar.

Seguiu-se a Segurança Social. Com as propostas do Governo em discussão entre os parceiros sociais, o PSD deu o passo em frente: classificou-as de insuficientes para o longo prazo e propôs que uma parte das contribuições fossem canalizadas para um regime de capitalização.
José Sócrates aproveitou a deixa e anunciou a indisponibilidade do PS para aceitar a «privatização» da Segurança Social. Para diluição já basta o acordo na Justiça, de menor carga ideológica, era a mensagem implícita.

Mas, apesar das declarações públicas, é preciso perceber que: 1) o PSD não propõe a privatização da Segurança Social mas a adopção de um sistema misto, semelhante ao que foi adoptado por governos sociais-democratas europeus; 2) que o PS não exclui liminarmente essa opção, apesar de tudo o que tem sido dito nos últimos dias.

Assim, se a discussão é para levar a sério, convém que o PSD responda rapidamente ao Governo, ao PS e aos portugueses, como se propõe fazer a transição e quanto vai custar aos cofres do Estado a quebra nas contribuições que asseguram o pagamento dos actuais pensionistas, para responder à provocação de Vieira da Silva de que o que tem para apresentar se resume a «umas folhinhas no jornal oficial [no site do partido] que até são de difícil leitura».

Se o não fizer conclui-se que está a usar a proposta de pacto na Segurança Social como mero instrumento do pingue pongue do discurso político, o que não convinha mesmo nada. Primeiro, porque o assunto é demasiado sério. Segundo, porque as propostas do Governo para o reforço da sustentabilidade da Segurança Social são um bom princípio mas podem não ser suficientes. E já não há tempo a perder."

quinta-feira, setembro 14, 2006

Opinião ... de Outros Sítios

Subscrevo ... mas, porque sou Professor, sem comentários (?)

Mais um dos "coices" do Jumento:
"Carta aberta a um Professor
Imagem que nos foi dedicada pelo Cartunes e Bonecos [Link]
a propósito do início do ano lectivo [+]
Estimado professor,Agora que vai começou mais um ano lectivo venho desejar-lhe os maiores êxitos, estou certo de que fez e vai fazer tudo o que está ao seu alcance.Não sei se vai continuar com os memos alunos do ano passado, mas o mais certo é que tenha alguns novos alunos, e até é muito provável que tenha sido colocado noutra escola e mesmo noutra localidade.Se permaneceu na mesma escola, melhor, conhece o ambiente cultural do meio, a atitude dos pais e alunos, está integrado socialmente e já é respeitado, conhece muitos dos que vão ser seus colegas e sabe das dificuldades da escola. Se ficou com as mesmas turmas, melhor ainda, conhece os seus alunos, as suas dificuldades, as estratégias pedagógicas mais adequadas, já dialogou com os pais para entender melhor os seus alunos, pode trocar impressões com os seus colegas, vai aproveitar do trabalho que já iniciou.Em qualquer dos casos já preparou o novo ano lectivo, depois de ter gozado as suas merecidas férias estudou bem as turmas a que vai leccionar, analisou o passado escolar do seus alunos, identificou os que poderão vir a ter mais dificuldades e estudou as melhores soluções, dialogou com outros professores desses mesmos alunos, tentou identificar as razões do insucesso, dialogou com os seus pais tentando mobilizá-los para uma tarefa que também é deles, discutiu com o conselho directivo sobre os recursos disponíveis para fazer face a situações cujas causas são estranhas à escola, com alguma sorte o estabelecimento conta com o apoio de psicólogos que lhe deram sugestões sobre a melhor forma de adequar as suas estratégias pedagógicas ao comportamento dos alunos mais problemáticos.Nesta ocasião já tem uma boa parte das aulas preparadas, planificou a sua vida de forma a minimizar o risco de ter que faltar, teve em consideração a possibilidade de proceder a correcções e até mesmo a eventualidade de faltar por usar o direito de aderir a uma greve cujas reivindicações apoia porque considera justas ou está legitimamente a defender os seus interesses.Todos sabemos que os recursos são escassos, que o frio se vai fazer sentir nos dias de Inverno, que a funcionária auxiliar não vai estar quando faltar o giz, que a proibição de despesas que o governo costuma decretar lá para Outubro por causa do maldito défice vai impedir de fazer tudo o que tinha previsto realizar. Também sabemos os horários do infantário dos seus filhos não foram feitos a pensar no seu, que o ministério da Educação vai adoptar medidas que o farão sentir frustrado, que as autarquias consideram mais importante a inauguração de mais uma rotunda do que a qualidade do ensino no concelho, que as empresas que um dia irão empregar os seus alunos consideram que a sua formação é coisa que não lhes diz respeito.Mas, sabe bem que mais do que da qualidade das instalações, da temperatura das salas de aulas, das políticas educativas ou dos recursos materiais de que dispõe, é do seu trabalho que em grande medida depende o sucesso escolar dos seus alunos, que é você o grande agente de mudança do ensino.Estou certo de que fez tudo o que podia para assegurar o sucesso deste ano lectivo e venho desejar-lhe que no final do ano se possa sentir feliz pelos resultados do seu trabalho, e olhar as pautas das suas turmas com orgulho.Bom trabalho."

Subscrevo ... mas, porque sou Professor, sem comentários (?)

Mais um dos "coices" do Jumento:
"Carta aberta a um Professor
Imagem que nos foi dedicada pelo Cartunes e Bonecos [Link]
a propósito do início do ano lectivo [+]
Estimado professor,Agora que vai começou mais um ano lectivo venho desejar-lhe os maiores êxitos, estou certo de que fez e vai fazer tudo o que está ao seu alcance.Não sei se vai continuar com os memos alunos do ano passado, mas o mais certo é que tenha alguns novos alunos, e até é muito provável que tenha sido colocado noutra escola e mesmo noutra localidade.Se permaneceu na mesma escola, melhor, conhece o ambiente cultural do meio, a atitude dos pais e alunos, está integrado socialmente e já é respeitado, conhece muitos dos que vão ser seus colegas e sabe das dificuldades da escola. Se ficou com as mesmas turmas, melhor ainda, conhece os seus alunos, as suas dificuldades, as estratégias pedagógicas mais adequadas, já dialogou com os pais para entender melhor os seus alunos, pode trocar impressões com os seus colegas, vai aproveitar do trabalho que já iniciou.Em qualquer dos casos já preparou o novo ano lectivo, depois de ter gozado as suas merecidas férias estudou bem as turmas a que vai leccionar, analisou o passado escolar do seus alunos, identificou os que poderão vir a ter mais dificuldades e estudou as melhores soluções, dialogou com outros professores desses mesmos alunos, tentou identificar as razões do insucesso, dialogou com os seus pais tentando mobilizá-los para uma tarefa que também é deles, discutiu com o conselho directivo sobre os recursos disponíveis para fazer face a situações cujas causas são estranhas à escola, com alguma sorte o estabelecimento conta com o apoio de psicólogos que lhe deram sugestões sobre a melhor forma de adequar as suas estratégias pedagógicas ao comportamento dos alunos mais problemáticos.Nesta ocasião já tem uma boa parte das aulas preparadas, planificou a sua vida de forma a minimizar o risco de ter que faltar, teve em consideração a possibilidade de proceder a correcções e até mesmo a eventualidade de faltar por usar o direito de aderir a uma greve cujas reivindicações apoia porque considera justas ou está legitimamente a defender os seus interesses.Todos sabemos que os recursos são escassos, que o frio se vai fazer sentir nos dias de Inverno, que a funcionária auxiliar não vai estar quando faltar o giz, que a proibição de despesas que o governo costuma decretar lá para Outubro por causa do maldito défice vai impedir de fazer tudo o que tinha previsto realizar. Também sabemos os horários do infantário dos seus filhos não foram feitos a pensar no seu, que o ministério da Educação vai adoptar medidas que o farão sentir frustrado, que as autarquias consideram mais importante a inauguração de mais uma rotunda do que a qualidade do ensino no concelho, que as empresas que um dia irão empregar os seus alunos consideram que a sua formação é coisa que não lhes diz respeito.Mas, sabe bem que mais do que da qualidade das instalações, da temperatura das salas de aulas, das políticas educativas ou dos recursos materiais de que dispõe, é do seu trabalho que em grande medida depende o sucesso escolar dos seus alunos, que é você o grande agente de mudança do ensino.Estou certo de que fez tudo o que podia para assegurar o sucesso deste ano lectivo e venho desejar-lhe que no final do ano se possa sentir feliz pelos resultados do seu trabalho, e olhar as pautas das suas turmas com orgulho.Bom trabalho."